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Imagem: ReproduçãoClique para ampliarArthur Teixeira Júnior(Imagem:Reprodução)Arthur Teixeira Júnior
*Por Arthur Teixeira Júnior

D. Lourdes é candidata ao Nobel de Química.
Consegue misturar três elementos saborosos, água – café – açúcar, e transformá-lo em algo intragável. Cada garrafa de café em nossa repartição tem um líquido com sabor e textura diferente. Um está forte de mais, outro é tão fraco que não consegue nem jogar a fumaça fora, um muito doce, outro sem nada de açúcar. Hoje Fernando tomou tinta de carimbo pensando que era café e não percebeu. Pelo contrário, achou até que estava “bonzinho”.
Descobrimos que ela faz uma garrafa por vez, já que a panela que usa só dá para aquecer água para uma só garrafa. Ela vai fazendo o café e comentando a novela, o jogo do Vasco ou a última fofoca da Repartição. E seu humor vai mudando conforme a tônica do assunto. E a qualidade do café vai junto.

Não há quem consiga fazer D. Lourdes sistematizar a produção de café. Primeiro, ela não sabe o significado de “sistematizar”. Segundo, ela alega que faz assim há trinta anos e não é agora que vai “inovar”. Como consequência, os funcionários vão de sala em sala experimentando o café. Quando acham um que está “bebível”, espalham a notícia, e a sala transforma-se em local de romaria. Ontem, a sala de protocolo, normalmente esquecida, foi visitada por mais de trinta pessoas, com as mais diversas desculpas para experimentar o café, para estranheza da funcionária local.

Dizem que D. Lourdes é do “tempo do onça”. Deve ser a funcionária mais antiga que temos aqui. Dizem as más línguas que quando construíram este prédio, ela já estava dentro, e que é a única a ter uma plaquinha de patrimônio pregada não sei aonde. Por isso ninguém tem coragem de reclamar do café.

“Do tempo do onça”. Esta expressão é mesmo do “tempo do onça”. Não me lembro de onde surgiu esta frase, e olha que eu não sou tão jovenzinho assim. Apreciava muito as charges “O Amigo da Onça”,de Péricles de Andrade Maranhão, na extinta revista “O Cruzeiro”. Mas ninguém lembra mais disso...

Temos facilidades de lembrar o nome dos chefes, mas esquecemos sempre o nome dos atores principais, daqueles que realmente foram responsáveis pelos grandes feitos.

Você provavelmente sabe o nome do primeiro homem que pisou na lua (Neil Armstrong – para quem estiver mais caduco do que eu) e até do segundo (Edwin Aldrin) que somente se atreveu a descer do módulo lunar quando teve certeza que estava tudo bem com seu colega Armstrong.

Michael Collins, aquele que ficou orbitando a Lua enquanto seus colegas ficavam aparecendo nas televisões do mundo inteiro, pouco é lembrado. Mas na verdade, ele era o mais importante e treinado membro da tripulação e o único que seria capaz de trazer a espaçonave de volta para a Terra. Armstrong era o menos capacitado de todos, e talvez por este motivo era o chefe da missão. Igualzinho aqui.

Todos reclamam do café da D. Lourdes, mas o dia que ela atrasa, já que mora do outro lado da cidade, todos ficam perguntando sobre ela. Cogita-se em fazermos um quartinho aqui para ela, no subsolo, no lugar da “sala de inteligência”.

Vocês acreditam que temos aqui uma “sala de inteligência”. Ainda não encontraram ninguém para ocupá-la, por falta de talentos, daí a ociosidade e a intenção de ocupá-la de modo útil.
Aliás, temos muitos exemplos de ociosidade por aqui. Nada das pessoas, nunca atreveria-me a dizer isso mesmo porque estou prestes a aposentar-me. Mas de equipamentos e instalações. Temos uma impressora de altíssima velocidade e capacidade, coisa de primeiro mundo, mas esqueceram-se de comprar a tinta e ela está encostada a mais de três meses.

Nos horários de pico, os elevadores circulam lotados, e os mais gordinhos são sempre deixados para trás em respeito ao limite de carga. Quando quebra um deles, fato corriqueiro pois alguém esqueceu de fazer um contrato de manutenção com o fabricante, quem chega atrasado sobe pelas escadas. Enquanto isto, um outro elevador, reservado aos chefões, fica às moscas. Antigamente, alguns ainda se aventuravam a subir por ele, mesmo porque os chefões só chegam depois das dez e não “marcam ponto”. Daí instalaram câmaras de segurança voltadas para a entrada e todas as saídas deste elevador, o que desestimulou o uso por parte da maioria dos mortais.

O que ninguém sabe é que esqueceram de comprar os monitores para acompanhar as câmaras, e portanto elas estão desligadas. Mas isto é segredo. Se a notícia se espalha, vão acabar fazendo xixi na porta deste elevador.

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*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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