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Castelo do Piauí - Piauí

Dono de empresa de ônibus é indiciado pela polícia acusado de comandar o PCC em Castelo do Piauí

Relatório do inquérito remetido à Justiça foi assinado na sexta (07) pelo delegado Felipe Bonavides.

A Superintendência de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública do Piauí indiciou o empresário José Severo Lima, responsável pela empresa de transportes Transcastelo, acusado de comandar o tráfico de drogas do PCC no município de Castelo do Piauí, localizado na região Centro-Norte do estado do Piauí. Além dele, a esposa Ivane Luiza Campos Lima, e os demais investigados José Luiz Neto, Jardel de Oliveira Tavares, Maria Naylane Severo Lima e Jonathan Brendo Vieira Quaresma Vasconcelos também foram indiciados pelos crimes de tráfico de drogas e organização criminosa. Todos os alvos estão presos preventivamente.

O relatório do inquérito, obtido com exclusividade pelo GP1, foi remetido à Justiça nessa sexta-feira (07) pelo delegado Filipe Bonavides.

As investigações partiram de inquéritos policiais em Castelo do Piauí, que revelaram um relevante cenário de tráfico de drogas e organização criminosa. A partir de relatórios de extração de dados de aparelhos celulares dos investigados, a Polícia Civil identificou uma forte influência da facção PCC em Castelo do Piauí, sob a liderança do empresário José Severo Lima, que nos últimos anos passou a residir no município de Paraisópolis, no estado de São Paulo, reduto da organização criminosa.

Foto: Reprodução/InstagramDonos da empresa Transcastelo José Severo Lima e Ivane Luiza Campos Lima
Donos da empresa Transcastelo José Severo Lima e Ivane Luiza Campos Lima

Assim, a investigação apontou que José Severo Lima, ora residindo em Castelo do Piauí, ora no estado de São Paulo, comanda ativamente o tráfico de drogas em Castelo do Piauí, fornecendo entorpecentes para diversas cidades no Piauí e no Maranhão, utilizando-se de vários “soldados” para determinar a execução de rivais.

Incêndio do caminhão em Castelo do Piauí

No dia 25 de julho de 2024, um caminhão carregado com encomendas provenientes de São Paulo/SP foi apreendido pela Delegacia de Castelo do Piauí, após sofrer uma ação criminosa nas proximidades do Posto Bezerra, que resultou no incêndio completo do veículo.

Na ocasião, a equipe de plantão da Delegacia de Castelo do Piauí foi surpreendida pelo caminhão em chamas, momento em que localizou uma grande quantidade de maconha escondida entre as encomendas.

Foto: Reprodução/InquéritoCaminhou que foi alvo de incêndio em frente de Distrito Policial
Caminhou que foi alvo de incêndio em frente de Distrito Policial

Segundo a investigação, a carga de drogas era transportada por Alerjanse Soares Araújo quando o veículo foi interceptado por dois indivíduos, que efetuaram disparos de arma de fogo contra o caminhão.

Informações preliminares indicaram que um dos autores da emboscada foi Jonathan Brendo Vieira Quaresma Vasconcelos, conhecido como “Currincho”, apontado como o “disciplina” da facção PCC em Castelo do Piauí e afilhado do empresário José Severo Lima.

Motivação para o crime

Segundo a investigação conduzida pela Superintendência de Operações Integradas (SOI), a motivação teria sido o fato de Alerjanse estar com carregamento de drogas que não seria do empresário José Severo Lima, o que levou ao descontentamento da facção a quem estão ligados, no caso o Primeiro Comando da Capital (PCC). Alerjanse, por sua vez, foi preso em razão do flagrante da droga, realizado pelos policiais no momento do incêndio ao veículo.

Foto: ReproduçãoDrogas apreendidas pela Polícia Civil pertencentes a José Severo
Drogas apreendidas pela Polícia Civil pertencentes a José Severo

Acusado de atentado foi preso em setembro de 2024

Após três meses de buscas, Brendo Vieira Quaresma Vasconcelos, vulgo 'Currincho', um dos autores do atentado ao caminhão carregado de drogas e integrante do PCC, foi capturado no dia 11 de setembro de 2024 na companhia de Pedro Miguel Henrique Miguel de Melo. Na ocasião, foram apreendidas uma pistola calibre 9mm, munições dos calibres 9mm e 38, grande quantidade de maconha e cocaína, além de balanças e balaclavas.

Apreensão de celular e descoberta da atividade criminosa de empresário

No momento da prisão de Jonathan Brendo “Currincho”, a Polícia Civil apreendeu um aparelho celular Apple Iphone 11, cuja extração de dados foi autorizada pela Justiça da Comarca de Castelo do Piauí. A partir da extração de dados obtidos no dispositivo móvel, foi possível identificar a intensa atividade de tráfico de drogas nas conversas entre “Currincho” e o empresário José Severo Lima, bem como a existência de organização criminosa bastante definida.

Um ponto importante a se destacar é que o chip utilizado pelo faccionado Currincho, que fora apreendido pela Polícia Civil, estava cadastrado em nome do empresário José Severo Lima, com endereço em Paraisópolis, no estado de São Paulo. Nas mensagens trocadas entre os investigados, foram identificadas diversas transferências bancárias realizadas entre Severo e Currincho, para que ele realizasse pagamentos para Severo, transferências para terceiros e pagamento de boletos de empresas vinculadas a Severo. Parte das transferências realizadas era para Currincho adquirir materiais como caixas térmicas (isopor), fitas adesivas, café, dentre outros, necessários para acondicionar as drogas enviadas por Severo para outros estados.

Na extração dos dados, os investigadores identificaram que Severo pedia que Currincho sempre relacionasse as transferências à emissão de passagens da empresa Transcastelo, para tentar encobrir qualquer situação envolvendo o esquema de tráfico de drogas.

Conforme análise dos dados, os policiais conseguiram identificar que a mesma relação entre os investigados ficou demonstrada com a apreensão de drogas em um ônibus de José Severo Lima em Teresina-PI, onde foram localizados vários entorpecentes, acondicionados em caixas térmicas, popularmente conhecido como “isopor”, fato ocorrido em 11 de outubro de 2022, demonstrando que a prática criminosa decorria há bastante tempo.

Empresário fez envio de quase meia tonelada de drogas para o Piauí

Nas diversas mensagens trocadas entre Currincho e Severo, com fotos e vídeos de entorpecentes (maconha, skunk, cocaína e crack), Severo, por vezes, pediu que Currincho enviasse áudios atestando a qualidade da droga para que ele os encaminhasse aos clientes. Além disso, também solicitou que Currincho gravasse um vídeo abrindo a embalagem em que a droga estava acondicionada, possibilitando que fosse vista.

Ficou constatado, assim, que Severo enviava entorpecente ao Piauí, periodicamente, em grandes quantidades, e em uma das remessas foram enviados cerca de 400 kg de droga para dividir entre traficantes de algumas cidades do Piauí.

Prisão do empresário José Severo Lima

Com o intuito de aumentar sua influência na sua cidade natal de Castelo do Piauí, José Severo Lima passou a atuar ativamente no pleito eleitoral municipal de 2024 e, para tanto, utilizou-se de seu poder econômico e da força armada para cooptar eleitores e intimidar adversários.

As investigações constataram que no fim de semana das eleições, várias denúncias apontavam para um homem na cidade que estaria comprando votos e intimidando rivais com arma de fogo. Tal indivíduo se tratava do empresário José Severo Lima, que durante abordagem realizada no dia 05 de outubro de 2024, foi flagrado com uma pistola roubada de uma empresa de Segurança do estado de São Paulo. Além da arma, os policiais apreenderam a quantia de R$ 15.400,00 (quinze mil e quatrocentos reais) em cédulas novas, as quais não indicavam ter tido circulação no comércio local.

Diante dos fatos, José Severo Lima foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo e receptação.

Soldados de Severo e participação da esposa no esquema

No decorrer das investigações, a Superintendência de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública identificou vários “soldados” de José Severo que integram o núcleo mais próximo a ele, que fica encarregado da gestão da empresa de transportes, disciplina e pelo envio das drogas. Tal núcleo é formado por sua esposa Ivane, pela irmã Maria Naylane Severo Lima e seus funcionários de confiança Jonathan Brendo Vieira Quaresma Vasconcelos (Currincho), Jardel de Oliveira Tavares e José Luiz Neto.

As investigações indicam que José Severo Lima liderava a organização criminosa ligada ao tráfico de drogas e ao Primeiro Comando da Capital (PCC), com base em Castelo do Piauí e conexões em São Paulo.

Abaixo está a função de cada investigado no esquema:

José Severo Lima era o líder da organização criminosa e principal articulador do tráfico de drogas na região de Castelo do Piauí. Empresário do ramo de transportes e proprietário da empresa Transcastelo, ele usava sua empresa para transportar drogas escondidas em encomendas e financiava a logística da organização. Além do tráfico, coordenava execuções de rivais e determinava punições dentro da facção. Mesmo residindo em São Paulo, comandava as operações à distância e enviava dinheiro para seus comparsas. Em interrogatório, negou todas as acusações e afirmou que sua empresa se limitava ao transporte de passageiros entre Castelo do Piauí e São Paulo. Disse que nunca tratou de entorpecentes com os demais investigados e que não conhecia Jonathan Brendo, o “Currincho”. Negou qualquer relação com organização criminosa e afirmou que sua irmã, Maria Naylane, apenas trabalhava na empresa sem envolvimento com atividades ilícitas. Também declarou que José Luiz Neto havia trabalhado como motorista na TransCastelo, mas foi demitido após ser preso.

Ivane Luiza Campos Lima, esposa de Severo e sócia na empresa Transcastelo, era responsável pela administração financeira do grupo criminoso e recebia dinheiro proveniente do tráfico em sua conta bancária. Além de cuidar da parte administrativa da empresa, tinha conhecimento da utilização dos ônibus para o transporte de drogas. Em interrogatório, admitiu ser sócia da empresa, mas afirmou que apenas cuidava da parte burocrática e financeira. Negou envolvimento com tráfico de drogas e com qualquer facção criminosa. Disse que sabia da apreensão de drogas em um ônibus da TransCastelo em 2022, mas alegou não ter responsabilidade sobre isso. Também afirmou que conhecia os demais investigados apenas como funcionários da empresa e negou qualquer relação com Jonathan Brendo.

Jonathan Brendo Vieira Quaresma Vasconcelos, conhecido como “Currincho” ou “Sorriso”, era o principal homem de confiança de José Severo. Ele atuava como responsável pela disciplina da facção PCC na região de Castelo do Piauí, distribuía drogas na cidade e coordenava punições contra aqueles que desobedecessem as ordens do grupo. Além disso, esteve envolvido no atentado ao caminhão de drogas em julho de 2024 e era encarregado de administrar a logística do tráfico quando Severo estava em São Paulo. Durante o interrogatório, optou por permanecer em silêncio e não respondeu a nenhuma pergunta da Polícia Civil.

José Luiz Neto, conhecido como “Zé Luís”, trabalhava no transporte e distribuição de drogas, atuando como motorista da Transcastelo. Ele era responsável por levar entorpecentes de São Paulo para o Piauí e também pela logística interna da organização, incluindo a manutenção dos veículos usados no esquema. Já havia sido preso anteriormente por tráfico de drogas. Em seu primeiro interrogatório, optou por permanecer em silêncio, mas em um depoimento posterior admitiu parcialmente seu envolvimento. Confessou que já havia sido preso e processado por tráfico de drogas em 2022, quando transportava 49 tabletes de drogas em um ônibus da TransCastelo. Disse que ainda trabalhava para José Severo, auxiliando na logística e cuidando dos cavalos no sítio do chefe da organização. Também negou saber sobre um revólver com numeração raspada encontrado no local onde foi preso junto com Severo, mas afirmou que apenas o líder da organização poderia ter acesso à arma.

Jardel de Oliveira Tavares, motorista da Transcastelo, atuava na logística e transporte das drogas escondidas nos ônibus da empresa. Ele trabalhava ao lado de José Luiz Neto na organização das remessas de entorpecentes e havia sido preso em 2022, quando um ônibus da empresa foi apreendido com uma grande quantidade de drogas. Em interrogatório, admitiu que trabalhava há três anos na empresa, mas negou envolvimento no tráfico de drogas e afirmou que não sabia que os ônibus eram usados para transportar entorpecentes. Negou qualquer participação no atentado ao caminhão em julho de 2024 e disse que sua relação com José Severo e os demais investigados era estritamente profissional.

Maria Naylane Severo Lima, irmã de José Severo, era responsável pelo controle financeiro e apoio logístico na chegada dos entorpecentes a Castelo do Piauí. Além de administrar a venda de passagens e o fluxo de dinheiro da TransCastelo, auxiliava na distribuição das drogas na cidade. Em interrogatório, optou por permanecer em silêncio e não respondeu a nenhuma pergunta da Polícia Civil.

Diante dos detalhes apurados na investigação, a Polícia Civil indiciou José Severo Lima, Ivane Luiza Campos Lima, Jonathan Brendo “Currincho”, José Luiz Neto, Jardel de Oliveira Tavares e Maria Naylane Severo Lima pelos crimes de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/06) e organização criminosa com emprego de arma de fogo (art. 2º, §2º, da Lei nº 12.850/13). O relatório final foi encaminhado ao Ministério Público, que avaliará se oferece denúncia contra os indiciados, podendo solicitar medidas como prisão preventiva ou o aprofundamento de investigações complementares.

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