O Brasil enfrenta uma segunda pandemia, desta vez na saúde mental. O impacto emocional das perdas familiares e entes queridos, o sentimento de medo, a falta de socialização e a instabilidade no trabalho aumentaram o nível de estresse e sofrimento psíquico dos brasileiros. A Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou em junho de 2022 um levantamento onde aponta que quase 1 bilhão de pessoas vivem com transtorno mental.
A saúde mental acabou ganhando notoriedade nos últimos anos. Afinal, é um tema complexo que deve ser lembrado todos os dias do ano. Sobre os cuidados com a saúde mental, o GP1 entrevistou a psicóloga Isabel Luiza Brito, que elencou dicas e cuidados com a saúde mental e emocional.
Principais dados
A depressão é considerada uma das doenças com maior ocorrência no mundo. Seus dados afirmam que cerca de 5,8% do Brasil sofrem de depressão - um total de 11,5 milhões de casos. O índice é o maior na América Latina e o segundo maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, que registram cerca de 5,9% da população com o transtorno - um total de 17,4 milhões de casos.
Ainda segundo os dados da OMS, cerca de 200 mil piauienses sofrem de depressão. A doença atinge 6% da população e as mulheres têm quatro vezes riscos de adquiri-la, com bases em questões culturais e de natureza hormonal.
Os números revelam um problema de saúde pública de primeira ordem. Mas, diferente do que se costuma afirmar, eles não “falam por si mesmos”. Desde 2017, o Brasil ocupa o 1º lugar em número de pessoas com transtornos de ansiedade em todo o mundo. São 18,6 milhões de brasileiros (representa cerca de 9,3% da população brasileira) que sofrem com algum tipo de transtorno de ansiedade. Os dados evidenciam ainda que o universo feminino é o mais afetado: 3,6% dos homens apresentam o problema, enquanto no caso das mulheres o número dobra, chegando a 7,7%. A diferença entre os gêneros está diretamente ligada à tripla jornada de trabalho das mulheres: emprego, serviços domésticos e família.
Cuide da sua mente
Mesmo com a correria do dia a dia, tire um tempo para cuidar de você, fazer o que gosta. Alimente-se bem e faça atividades físicas, esses dois hábitos são fundamentais para ter uma mente sadia. Mas como a mente humana é muito complexa, não basta apenas isso. A atitude diante da vida e das adversidades, o que você consome em informações e as relações que possui interferem diretamente na saúde mental. E não tenha vergonha de pedir auxílio. Todos precisamos em algum momento da vida. Procure ajuda profissional para alcançar uma vida mais satisfatória.
A psicóloga reforçou que saúde mental vai além da busca por terapia e o uso de medicação, sendo que vai de um cenário mais individual a coletivo. Isabel Brito, então, pontua alguns pilares para alcançar uma saúde mental e autocuidado: fazer pequenas pausas ao longo do dia, respiração diafragmática, reconhecer nossos esforços para que a gente saia da autocrítica.
“As orientações para quem sofre de problemas psicológicos é cuidar da sua saúde mental e como podemos fazer isso? Se engana quem pensa que apenas terapia ou medicações psiquiátricas é cuidar da saúde mental. É como se nós fossemos uma casa, porque uma casa tem pilares. Quais são os nossos pilares? Atividades físicas, sono de qualidade, alimentação balanceada e manejo de estresse. Se a gente conseguir organizar esses pilares já é muita coisa que a gente faz por nós mesmos. A gente precisa se tratar como a gente trataria uma pessoa que gostamos muitos”, ressaltou Isabel Brito.
Muito se fala em ansiedade, como sendo o mal do século
A profissional de saúde mental conta que é importante ressaltar que o estresse crônico é fator de risco para a ansiedade e depressão. "Assim o nosso corpo vai dando sinais para a gente, como, por exemplo: estafa mental, cansaço, irritabilidade, sono irregular. Ou seja, é importante a gente identificar estes sinais para podermos conseguir manejar o stress e que isso não vá se desenvolvendo para problemas mais complexos. Já as pessoas que trabalham, não só podem como devem se cuidar, assim como todas as outras pessoas, explica.
Tudo isso mostra como manter a saúde mental em dia é importante. Incluir na rotina algumas atividades de autocuidado tem potencial para promover uma vida mais saudável tanto na questão física quanto mental. A especialista elencou algumas dicas para favorecer o bem-estar, tais como a regulação do seu sono, cuidados com a alimentação, fazendo pequenas pausas para manejo de estresse, exercícios físicos, enfim, tendo momentos de prazer. Isabel Brito reforça ainda que descanso é treino. "Não adianta a gente só fazendo, fazendo, fazendo e fazendo, a gente precisa também olhar com carinho para todo esforço que nós fazemos. Isso sem dúvidas ajudar a manejar suas questões psicológicas', completou.
Preconceito e saúde mental: por que ainda existe?
Muito se fala em prevenção e opções de tratamento para as condições de saúde mental mais comuns, incentivando as pessoas a buscarem ajuda de psicólogos. Entretanto, em meio à tanta conversa positiva sobre saúde mental, o preconceito resiste.
“Muitas pessoas se calam para cuidar da sua saúde mental, não procuram ajuda por achar que é uma fraqueza, porque de fato é o que a sociedade nos ensina, nos ensina que é errado ficar triste, é errado chorar, nos ensinar a nos relacionar de maneira problemática com nossas emoções, como se tivéssemos só o direito de estar feliz, como se fosse possível ficar feliz sempre, quem foge um pouco desse padrão as pessoas já estranham, logo é totalmente natural a pessoa relutar em pedir ajudar, achar que é um sinal de fraqueza, porém se a gente nem parar pensar é um sinal de muita força, lutar apesar do que estar sentido. Fraqueza é negligenciar isso. A primeira coisa que se deve fazer diante de uma pessoa de vulnerabilidade é validar o sofrimento dela, acolher. Todos nós temos o direito de ficar triste, de termos questões psicológicas afetas, ninguém precisa ficar o tempo inteiro, sabemos que não é possível, então precisamos validar o nosso direito de não estarmos bem, porque a partir do momento que validamos isso, a gente aceitar e pode agir em direção de buscar uma melhor qualidade de vida", finalizou Isabel.
Pandemia vs saúde mental
O cenário de pandemia acentuou o sofrimento psíquico na população provocado pelo isolamento decretado em função da pandemia. Nesse sentido, os cuidados para a saúde mental ganhou mais relevância no atual contexto pandêmico, o que contribuiu para gerar transtornos mentais ou agravar quadros existentes.
“Com certeza, a pandemia foi um convite para muitas pessoas a olhar com mais carinho a cuidar mais da sua saúde mental, uma vez que era um cenário totalmente antagônico e desconhecido, fazendo com que se fosse um fator desencadeante para muitas questões psicológicas”, salientou a Psicóloga durante a entrevista.
Como obter ajuda?
Em Teresina, o Centro de Valorização à Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção de suicídio há 60 anos, atendendo as pessoas de forma voluntária e gratuita. Pessoas que necessitam de ajuda podem entrar em contato com o CVV através do número 188. Além disso, o Centro disponibiliza o Site, onde é possível ter acesso ao endereço de email e chat.
Rede de atenção Psicossocial
Durante todo o ano o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) oferece atendimento à população realizando acolhimento e triagem multiprofissional, além de consultas com médico especialista em saúde mental, e ainda, oferece acompanhamento psicológico e visitas domiciliares.
Ambulatório Provida
Já o ambulatório Provida (serviço de prevenção ao suicídio) realiza atedimento na rua Álvaro Mendes, 1557, Centro. Com funcionamento das 8h às 12h e das 14h às 18h, de segunda a sexta-feira. O atendimento acontece por demanda espontânea como forma de intervir emergencialmente, a curto prazo, a ideação suicida.
Universidades e faculdades oferecem atendimento psicológico gratuito à população
Faculdade Estácio - (86) 4009-4319 / 4009-4307;
Faculdade Santo Agostinho - (86) 3234-5540;
Clínica Escola da Facid - 0800 771 5001;
UESPI - O Serviço, situado no Campus Poeta Torquato Neto (Teresina), é gratuito e disponibiliza um atendimento especializado para acolher estudantes, servidores, técnicos e docentes da universidade. Para realizar o atendimento é preciso preencher um formulário de solicitação de atendimento. Atendimento exclusivo de estudantes matriculados na Uespi;
UFPI - O Serviço de Apoio Psicológico (SAPSI) é um serviço de Psicologia Escolar e Educacional direcionada à comunidade universitária com matrícula nos cursos de graduação, prioritariamente, selecionados por critérios socioeconômicos. Contato: [email protected];
Centro Integrado de Saúde - (86) 2106-0732.
Perfil analítico da Psicóloga Isabel Brito
Isabel Brito é Formada em Psicologia com especialização em psicologia hospitalar, formação em terapia cognitivo comportamental e obesidade e emagrecimento na terapia cognitiva comportamental, além de buscar conduzir suas práticas com a psicologia baseada em evidências. Para além dessas formações está fazendo especialização em Terapia Comportamental Dialética. Isabel Luiza Brito é piauiense, atualmente mora em São Paulo.
A especialista atuou na psicologia hospitalar durante três anos na Associação Piauiense de Combate ao Câncer - Hospital São Marcos.
Ver todos os comentários | 0 |