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Cúpula de Joe Biden pode não recuperar credibilidade dos EUA

Ações de adversários do presidente americano no Congresso e em Pequim podem atrapalhar seus planos.

Na preparação da cúpula do clima, organizada por Joe Biden, seus representantes estavam por toda parte: John Kerry, czar do clima, enalteceu a entrega de mercadorias sem pegadas de carbono; Jennifer Granholm, secretária de Energia, elogiou empregos que beneficiam o meio ambiente; e Antony Blinken, secretário de Estado, explicou a diplomacia climática relacionada à Baía de Chesapeake. Mas Biden também ofereceu algo mais tangível: a promessa de reduzir pela metade as emissões de gases do efeito estufa até 2030, em relação aos níveis de 2005, com uma meta de emissões líquidas iguais a zero, até 2050.

Isso conta como um progresso real para um presidente americano, mesmo que Donald Trump não tivesse estabelecido um referencial tão baixo. Uma meta de emissões, ou contribuição determinada a nível nacional, é exigida pelo Acordo de Paris – que Trump rejeitou e ao qual Biden voltou a aderir. Definir uma meta ousada agora, acredita-se, encorajaria outros países a fazer o mesmo antes da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Glasgow, em novembro. Os EUA poderiam apoiar uma transição para uma energia mais limpa em países pobres e investir em inovações a serem implantadas em todo o mundo. No entanto, outros líderes têm motivos para ver as promessas americanas com ceticismo.


Na década de 90, o governo de Bill Clinton negociou o Protocolo de Kyoto, mas o Senado se recusou a ratificá-lo. Barack Obama pressionou pelo Acordo de Paris, apenas para que Trump declarasse, em 2017, que os EUA se retiravam dele. Obama prometeu doar US$ 3 bilhões em financiamento climático para os países mais pobres. Daquele total, US$ 2 bilhões ainda estão pendentes.

Depois que Trump rejeitou o Acordo de Paris, governadores que dizem se preocupar com o meio ambiente se comprometeram a apoiá-lo. Mas eles também estão aquém de seus objetivos. Seus Estados estão a caminho de limitar as emissões de gases-estufa em 18% abaixo dos níveis de 2005 até 2025, de acordo com o Fundo de Defesa Ambiental dos EUA, em comparação com a meta de 26%-28% estabelecida por Obama.

O projeto de infraestrutura de Biden, apresentado em março, inclui apoio a carros elétricos, energias renováveis e inovação, assim como um padrão de eletricidade limpa, exigindo que o sistema de energia seja livre de emissões de gases de efeito estufa até 2035. Seria a legislação climática mais importante dos EUA até hoje. No entanto, a oposição republicana significa que ela pode não ser aprovada no Senado conforme foi proposta.

Mesmo que isso acontecesse, talvez não fosse o suficiente. O Climate Action Tracker, grupo de análises científicas que acompanha ações governamentais para o clima, estima que, para cumprir as metas do acordo de Paris, pelo menos 95% das vendas de carros dos EUA devem ter emissões zero até 2030. Biden propõe apoio para carros elétricos, mas sem prazo para tirar de circulação aqueles que consomem gasolina. “Em algum momento, precisaremos de legislação climática adicional na forma de padrões, mandatos, um preço pela pegada de carbono”, argumenta Jason Bordoff, reitor da Escola de Clima da Universidade Columbia.

A tentativa de Biden de encorajar a emissão zero de carbono pelo mundo não é simples. Seu orçamento propõe US$ 1,2 bilhão para o Fundo Verde do Clima da ONU, mas Biden também está interessado em mobilizar financiamento de outras maneiras. A Development Finance Corporation dos EUA pode promover mais projetos de energia limpa no exterior como alternativas ao carvão. A Casa Branca sinalizou apoio ao alívio da dívida associada ao clima para países pobres e de renda média. Bordoff aponta para o alívio da dívida na década de 1980 vinculado a investimentos em biodiversidade. “Você pode imaginar algo como uma troca de clima por dívida para impulsionar o investimento em energia de baixa pegada de carbono”, disse.

No entanto, o interlocutor estrangeiro mais importante dos EUA é aquele com o qual as relações diminuíram de forma mais acentuada. A Agência Internacional de Energia espera que a China seja responsável por mais da metade da recuperação no consumo de carvão este ano. Kerry, em visita a Xangai neste mês, pediu que o clima fosse uma questão “independente”.

Li Yifei, coautor do livro China Goes Green, afirma que o clima é indissociável de debates sobre influência geopolítica, propriedade intelectual ou política industrial. “A mudança climática, por definição, não é uma questão isolada”, argumenta. A reunião organizada por Biden é uma demonstração de sua determinação. Mas o sucesso dependerá da cooperação de seus adversários, no Congresso e em Pequim.

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