Nesta quarta-feira, 6, as redes de quinta geração estreiam oficialmente no Brasil, com a ativação da tecnologia em Brasília por Vivo, Tim e Claro. A cidade virou uma espécie de projeto-piloto para a implantação do 5G, com equipes da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) trabalhando para que as frequências 3.625 a 3.700 MHz não sofressem interferência. Com os trabalhos concluídos, a expectativa é de que as operadoras já possam ativar as suas redes.
5G é o nome dado à tecnologia de quinta geração de conexão móvel. Ele vai suceder o 4G, usado hoje por smartphones e máquinas conectadas, mas também poderá ser utilizado por dispositivos de casa, como computadores, e por aparelhos presentes em espaços públicos, como semáforos urbanos e até mesmo carros autônomos.
Além da maior velocidade de transmissão de dados, o 5G traz outra característica muito importante: a queda na latência – o tempo de resposta entre um dispositivo enviar um pedido à rede de internet e ele ser respondido. É por conta dela que muitos avanços serão permitidos por essa nova tendência, que já está disponível em países como EUA e Coreia do Sul. Aqui no Brasil, a previsão mais otimista dá conta que o 5G deve chegar apenas em 2021 – mas é bom já ficar atento às suas vantagens.
Diferença de velocidade de download e upload no 5G e no 4G
Estima-se que, em seu potencial máximo, a tecnologia 5G seja capaz de atingir velocidade de download de 10 gigabits por segundo (Gbps) – dez vezes mais do que o máximo possível de ser alcançado por uma rede 4G.
Em termos práticos, isso significa que uma tarefa que demora em torno de 20 segundos no 4G – como baixar uma playlist de uma hora no Spotify – pode levar apenas 2 no 5G.
O que é latência – e como ela muda tudo
Para se ter uma boa conexão de internet, não basta apenas que ela seja veloz, mas também que tenha uma latência baixa. Latência é o termo técnico para identificar o tempo de resposta de uma rede, a partir do momento em que o usuário faz uma solicitação (como, por exemplo, acessar uma página ou baixar um arquivo). É como se fosse o tempo de reação de uma rede – da mesma forma que o cérebro humano reage a algo que vê ou sente.
Na média, a latência de uma rede 4G gira em torno de 50 milissegundos (ms). Já a latência prevista para as redes 5G é de 1 ms. Enquanto isso, o tempo médio de reação do cérebro humano para uma imagem, por exemplo, é de 10 ms.
O que o 5G vai possibilitar
Graças à sua combinação entre velocidade e latência, o 5G vai permitir avanços importantes na tecnologia. O mais evidente deles é o dos carros autônomos.
CARROS AUTÔNOMOS
Hoje já estão sendo testados e tem algum nível de segurança – muitos deles conseguem rodar por quilômetros sem qualquer intervenção humana. Com o 5G, porém, isso pode se tornar ainda mais simples.
CIRURGIAS REMOTAS
Hoje, já é possível realizar cirurgias de forma remota, mas o tempo de latência pode fazer com que acidentes aconteçam, de forma que a prática não é recomendada. Com o 5G, isso pode mudar.
INTERNET DAS COISAS
O 5G também vai beneficiar sistemas como casas conectadas e cidades inteligentes. A meta de fabricantes é de que os sensores tenham baixo consumo de energia, o que permitiria que qualquer máquina tenha um sensor.
CHAMADAS HOLOGRÁFICAS
Hoje, falar com um amigo por vídeo, via Skype ou WhatsApp é algo corriqueiro. Mas isso pode ir além com o 5G.
STREAMING DE JOGOS
Para os fãs de games, uma boa novidade do 5G é o fim da latência alta – ou seja, nada de morrer com o tiro do inimigo ou tomar um drible num jogo online porque sua conexão está ruim.
As operadoras já falam em 5G. O serviço já está funcionando?
Mais ou menos. O serviço já oferecido por algumas operadoras em certas cidades do País é o 5G DSS, que não é o 5G “real” (ou puro). A sigla significa Dynamic Spectrum Sharing (Compartilhamento Dinâmico de Espectro). A tecnologia oferece mais velocidade, através das mesmas frequências do 4G, mas não oferece todas as outras vantagens do 5G.
Quando o 5G estará disponível no restante do Brasil?
Moisés Moreira, que preside o grupo da Anatel responsável por garantir que as frequências não terão interferências, afirmou na segunda, 4, que Belo Horizonte será a próxima cidade a receber a tecnologia. As datas, porém, ainda não foram definidas.
Segundo o cronograma da agência, cidades com mais de 500 mil habitantes terão de ser atendidas até 31 de julho de 2025. Em seguida, será a vez dos municípios com mais de 200 mil e 100 mil habitantes, que terão de ser atendidos com rede 5G até 31 de julho de 2026 e até 31 de julho de 2027, respectivamente. Por fim, as cidades com mais de 30 mil habitantes terão de ser completamente atendidas até 31 de julho de 2029.
Entretanto, o cumprimento desse compromisso e a qualidade do serviço dependem, também, da regulamentação dos próprios municípios sobre a instalação de antenas.
Vou precisar de um celular novo para usar o 5G?
Sim! Cada celular tem um componente específico para acessar a internet, chamado modem. Modems 5G estão começando a chegar aos celulares e alguns modelos já são vendidos no Brasil, com bastante variação de preços (consultados no dia 05/06/2022).
Atualmente, existem no Brasil 67 modelos de celulares capazes de rodar o 5G certificados e homologados pela Anatel. Até o fim do ano passado, eram apenas 40.A Samsung tem 25 modelos, dos mais básicos aos topo de linha, o que significa que os preços variam entre R$ 2 mil e R$ 14 mil. A Motorola também tem cerca de 14 modelos 5G, que são encontrados por preços entre R$ 2 mil e R$ 6,5 mil. Já os modelos da chinesa Xiaomi podem ser encontrados no varejo por preços a partir de R$ 4 mil. O modelo mais caro pode ser encontrado por cerca de R$ 10 mil.
As duas últimas gerações do iPhone, da Apple, também são compatíveis com o 5G. No site da marca, os modelos da geração iPhone 12 podem ser encontrados a partir de R$ 5,7 mil. Já o modelo mais caro de iPhone 13 sai por R$ 15 mil. O mais novo aparelho da marca a ter suporte à tecnologia é o iPhone SE 2022, que sai a partir de R$ 4,2 mil.
Meu celular 4G continuará funcionando?
Sim! Fabio Lima, professor de engenharia de produção da FEI, explica que as redes 2G, 3G e 4G não deixarão de funcionar. "A rede 4G não vai ser desativada, assim como as redes anteriores não foram. Vai continuar funcionando", afirma.
"Você pode perceber que, quando acessamos o 4G, em alguns momentos, percebemos que a conexão migra para a rede 3G. Ou seja, ela continua ativa. O processo vai ser o mesmo com o 4G, que vai continuar ativo. Então quem não trocar de aparelho (por um 5G) vai continuar acessando o 4G normalmente", explica.
A internet fixa será substituída com a chegada do 5G?
Não. A internet fixa, com cabos e rede Wi-Fi, vai continuar sendo a principal conexão para uma série de aplicações domésticas. "O Wi-Fi doméstico não vai desaparecer por conta do 5G. Será como funciona hoje, em que temos o 4G, mas também continuamos tendo o Wi-Fi para aplicações domésticas", explica Lima, da FEI.
"Digamos que há solução certa para cada tipo de aplicação. As demandas domésticas, por exemplo, conectar um televisor a um serviço de streaming, são relativamente simples e são cobertas pela internet doméstica. O Wi-Fi vai continuar normalmente no ambiente doméstico para algumas aplicações. Mas o 5G, por causa da mobilidade e todas as características revolucionárias da rede, realmente vai ganhar um grande número de aplicações e de serviços", completa.
Lima também diz haver a tendência que a conexão doméstica também evolua, por conta dos investimentos em infraestrutura para a implementação do 5G. "Como toda a infraestrutura de fibra óptica está sendo modificada, aumentada, revitalizada, isso também deve trazer algum benefício para o Wi-Fi que a gente já tem em casa", declara.
O 5G será mais caro?
As operadoras ainda não divulgaram os valores dos planos, mas é provável que eles sejam mais caros e tenham limitação no consumo de dados. No começo do ano, o presidente da Tim, Pietro Labiola, afirmou que a companhia adotará estratégia similar ao do Uber, que oferece o serviço “Black” por valores mais altos. Por enquanto, as operadoras estão migrando os planos sem custo extra para a tecnologia 5G DSS, mas aumentos são esperados para os planos de 5G puro.
O que mais pode mudar com o 5G?
Além de trazer maior velocidade de conexão, a expectativa é de que o 5G ganhe diversas aplicações na indústria. Fábricas poderão usar a conexão mais veloz e estável do 5G para conectar diversos tipos de equipamentos para fazer uma gestão mais inteligente, automatizada e baseada em dados captados em tempo real.
"Temos um novo modelo de fábrica desenhado há alguns anos, chamado de indústria 4.0, em que há conectividade interna, em que os dispositivos dentro da fábrica são conectados e se comunicam entre si, e conectividade externa, em que essa fábrica precisa se conectar com o seu entorno", diz Lima, da FEI. "Por exemplo, a fábrica deve estar conectada com o sistema logístico. E o 5G é crucial. O 5G era uma das tecnologias habilitadoras que estavam sendo esperadas há algum tempo, para alavancar a indústria 4.0 e atingir esse nível de sistemas produtivos", afirma.
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