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Oeiras e Teresina: mãe e filha amadas e zelosas

Coluna do desembargador Edvaldo de Moura, oeirense e diretor da ESMEPI.

Desembargador Edvaldo Pereira de Moura: oeirense, diretor da ESMEPI, professor da UESPI e membro fundador da Academia de Letras da Região de Picos.

Em 16 de agosto, Teresina festeja, com pompas e circunstâncias, o centésimo sexagésimo nono ano de sua fundação, como a segunda capital do Piauí. É, para todos nós, seus filhos nativos ou adotivos, uma obrigação de amor e civismo, felicitá-la nessa memorável data, desejando todo progresso material e humanitário, possível a esta boa e hospitaleira terra, mãe gentil e generosa, filha do sol do equador, que nos cinge em seus braços ardentes de morena trigueira.


Há mais de seis gerações, essas palavras seriam bem difíceis de serem pronunciadas por um oeirense, recolhido em seu orgulho ferido de ter perdido a primazia de ser filho da primeira capital piauiense. Mas 169 anos são passados daquele 16 de agosto de 1852, quando o ilustre baiano, de 29 anos de idade, José Antônio Saraiva, então Presidente da Província, deu por inaugurada, em solenidade presidida, por um dos meus ancestrais, Justino de Moura, que presidia a Câmara Municipal de Oeiras, a nova capital do Piauí, nascida na Chapada do Corisco, mesopotâmia entre o rio Poti e o Parnaíba.

Não vale nessa breve mensagem de felicitação ao povo teresinense, recorrer à saga epopeica do Conselheiro Saraiva, para firmar o feito corajoso de transferir de Oeiras, para a Vila Nova do Poti, a capital da província do Piauí. No entanto, não podemos esquecer de que a construção de Teresina é o resultado de esforços sobre-humanos partidos da vontade de um povo extraordinário, que a tudo e a todos enfrentou para a consecução do seu desiderato.

Cerca de oito anos antes, havia estado no Piauí, como Presidente da Província, Zacarias de Góis e Vasconcelos, outro baiano de vinte e poucos anos de idade, que aqui iniciava sua prodigiosa carreira política. Zacarias, ao assumir, já tinha em seu poder um decreto que autorizava a transferência da capital de Oeiras, para a foz do rio Mulato, mas não aceitou a trabalhosa incumbência e, assim, se justificou em sua Mensagem, ao Poder Legislativo provincial:

“… com dizer isto, tenho dado a razão porque não foi aquela lei executada por meu antecessor, não há de ser por mim, nem também, segundo todas as possibilidades, pelos meus sucessores. Construir todos os edifícios necessários ao serviço, erguer de repente uma cidade inteira é empresa possível a um homem de gênio, que disponha de inumeráveis braços e de uma riqueza imensa, mas é perfeita quimera para o governo constitucional de uma província pobre.”

O emérito escritor piauiense, Cid de Castro Dias, em seu livro Piauhy – ” das origens à nova Capital, assim se refere àquele momento histórico: ”O fato foi tão inusitado e comentado que até D. Pedro II, que na ocasião estava em Lausanne, na Suiça, ficou surpreso e perguntou se tudo não passava de arroubo de um rapazola de 27 anos, pois, sem dinheiro e pessoas para ocupar a nova Capital, como teria feito para dar cumprimento à missão em tão pouco tempo?”

De fato, Teresina nasceu da audácia e da fé inabalável dos que fazem da adversidade e do pessimismo endêmico dos fracos, os maiores aliados na aventura de dar corpo às suas grandiosas ideias. A herança do Conselheiro Antônio Saraiva ainda perdura no espírito de coragem e determinação que se incorporou, para sempre, à maneira de ser do teresinense.

Numa visão panorâmica de nossa capital, olhando a imensidade de seus belos edifícios, de suas praças e de suas ruas bem alinhadas, num constante e intenso verde, não obstante os problemas de sua imensa e populosa periferia, é que podemos avaliar o quanto a vontade e o trabalho profícuos podem transformar, em realidade, um sonho impossível, uma quimera imponderável.

Mas uma das características de Saraiva era a sagacidade dos gênios. Ele conhecia muito bem e sabia como tocar a vaidade dos soberanos. Ao formar o nome de Teresina, que acabara de erguer nas terras da antiga data Covas, utilizando o da imperatriz Teresa Cristina, em sua homenagem, mesmo arriscando a própria vida, tomava sobre si o perdão de qualquer pecado dos arroubos de um rapazola e garantia a proteção do trono para sua nova terra prometida.

Aliás, já havíamos passado, por uma experiência manhosa, igual à de Saraiva. Em 19 de junho de 1761, a Vila da Mocha fora elevada da condição de cidade para a de capital e residência dos governadores da capitania. No ano seguinte, a 13 de novembro, o Governador, também jovem, João Pereira Caldas, daria à capital o nome de Oeiras e à capitania o nome de São José do Piauí. Oeiras era uma homenagem ao secretário de estado do Reino, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, o todo poderoso e lugar-tenente de el-rei. A capitania invocava o nome de el-rei de Portugal, d. José, inapetente e inepto soberano, mais preocupado com o vinho e a jogatina, do que com a administração de que estava encarregado.

Naquela data de 16 de agosto de 1852, Oeiras perdia 91 anos de estamento como capital do Piauí. Se tal não tivesse acontecido, no dia 19 de junho próximo passado, a bela, acolhedora e invencível cidade de Oeiras teria festejado 260 anos de vida. Como vila e comarca, completaria 309 anos.

Para completar nossa felicidade, oeirenses e teresinenses sempre exerceram aquela ubiquidade bergsoniana de, onde quer que estejam, sentirem-se abrigados pelo mesmo afeto e pela mesma ternura de duas zelosas e amadas mães. Assim, de mãos dadas e corações fraternos, teresinenses e oeirenses nos enchemos de alegria e contentamento, para festejarmos os 169 de vida desta capital, desta calorosa cidade verde, nossa hospitaleira e progressista Teresina.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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