*Arthur Teixeira Júnior
Este artigo iria relatar minha última estadia no Hospital da Unimed em Teresina. Desastrosa. Para resumir, recebi alta médica as 9 h da manhã, mas somente consegui deixar o prédio às 3 da tarde. Explico: o médico realizou sua avaliação matinal, optou pela alta, prontamente a enfermeira desconectou toda aquela parafernália a qual eu estava conectado (monitores, soro, drenos, sondas e dosadores de medicamentos), refez com eficiência o extenso curativo em minha perna, entregou-me o cartão de alta e desejou-me “boa recuperação”. Finalmente, pediu para que eu aguardasse alguns minutos que o “pessoal da maca” viria buscar-me (não haveria outra forma de eu ser removido, não sendo de maca ou no mínimo por uma cadeira de rodas).
Alguns minutos depois ela retorna, pedindo educadamente que eu aguarde “um tempinho”, pois o único elevador do prédio estaria “em manutenção” e não haveria como eu ser removido daquele pavimento.
Senão, vejamos: um edifício de atendimento ao público, público este predominantemente enfermo e com dificuldades de locomoção, com diversos pavimentos, e com somente um elevador para macas e cadeiras de rodas. Sem rampas ou qualquer outro acesso.
Primeiramente, somente posso supor que este único elevador serve para transportar todos os enfermos, profissionais de saúde, pessoal de limpeza, lixo hospitalar, alimentação para os pacientes, dejetos orgânicos e inorgânicos, material de limpeza, manutenção, enfim, tudo, inclusive os corpos daqueles que tiveram menor sorte no atendimento. Tudo no mesmo veículo, no mesmo espaço.
Não vamos aqui pensar da tragédia que seria algo como, por exemplo, um incêndio, mesmo que de pequenas proporções. Como seriam removidos os pacientes dos pavimentos superiores? Ou, sendo menos trágico, um interno tem uma súbita recaída pós operatória e precisa ser atendido imediatamente no centro cirúrgico (que fica no térreo). E o único elevador está com defeito. Vai voando, já treinando para a eternidade?
Como o Corpo de Bombeiros autoriza o funcionamento de um estabelecimento daquele porte, com aquela arquitetura e com aquela finalidade, tendo uma única, velha e precária rota de acesso? Depois acontece uma tragédia e vamos ver um coronel qualquer se desmanchando em desculpas na TV, culpando a falta de pessoal e equipamentos na corporação. Uma tragédia anunciada.
Como estava dizendo no começo, resolvi não falar sobre isto neste espaço, pois pode ser que algum colega da repartição, que esteja precisando receber horas extras em atraso, resolva apresentar uma denúncia aos meus superiores, alegando que eu estaria usando a figura de um hospital para criticar metaforicamente o prédio onde trabalhamos. Certamente, outro colega que precise de licença para fazer palestras ou almeje algum cargo de supervisão, irá se candidatar para compor a comissão processante. É melhor não tocar no assunto.
Vamos falar sobre outra tragédia anunciada.
O Aeroporto Internacional de São Raimundo Nonato é o mais moderno do interior do nordeste. Sua pista principal, com 1.650 metros, comporta o pouso e a decolagem de aeronaves de grande porte. Com um custo estimado de R$ 20 milhões (não inclusa a parte do PT e seus colaboradores), demorou quase 18 anos para ser concluído. Mas agora, segundo leio no blog de Ricardo Moura Fé, terá início os voos regulares para lá: um voo semanal, partindo de Teresina com escala em Floriano, operado pela empresa Piquiatuba Air Lines.
Não é piada não. Tá aqui do lado, no próprio GP1. Um aeroporto internacional, ultra moderno, construído durante 18 anos a um custo de mais de R$ 20 milhões, tendo como única operadora a conhecidíssima e conceituada Piquiatuba. Fui pesquisar na internet se a empresa existe mesmo. Parece que sim. Embora em todo o site não possua qualquer referência ao equipamento (aeronaves) que opera. E quantas possui.
Tentei ainda marcar uma passagem de qualquer lugar para qualquer destino eventualmente atendido pela companhia: são dez cidades ao total, incluindo Teresina. Em qualquer dia e qualquer horário o resultado era o mesmo – indisponível. Só havia disponibilidade para um destino: Porto de Trombetas, que imagino ser uma metáfora para o além. Obrigado, vou a pé mesmo. Atualmente nem assim: vou de cadeira de rodas. E se estiver internado no Unimed não vou de jeito nenhum, pois o elevador está pifado.
Imagino um turista, nacional ou importado, a caminho para visitar a Serra da Capivara (patrimônio cultural da humanidade, diga-se de passagem), aguardando no Aeroporto Internacional de Brasília rumo ao Aeroporto Internacional de São Raimundo Nonato, ouvindo a chamada pelo sistema de som: “Atenção senhores passageiros do voo Gol 1458, com destino a São Luis, Teresina e Fortaleza, com conexão no Aeroporto Pinto Martins para São Raimundo Nonato pela Piquiatuba Air Lines (risos), portadores de bilhetes negros, digo, afro descendentes, embarque imediato e Adeus!”.
Com licença que eu quero descer! Nem que seja pelas escadas!
*Arthur Teixeira Júnior é colaborador
Imagem: GP1Arthur Teixeira Junior
Este artigo iria relatar minha última estadia no Hospital da Unimed em Teresina. Desastrosa. Para resumir, recebi alta médica as 9 h da manhã, mas somente consegui deixar o prédio às 3 da tarde. Explico: o médico realizou sua avaliação matinal, optou pela alta, prontamente a enfermeira desconectou toda aquela parafernália a qual eu estava conectado (monitores, soro, drenos, sondas e dosadores de medicamentos), refez com eficiência o extenso curativo em minha perna, entregou-me o cartão de alta e desejou-me “boa recuperação”. Finalmente, pediu para que eu aguardasse alguns minutos que o “pessoal da maca” viria buscar-me (não haveria outra forma de eu ser removido, não sendo de maca ou no mínimo por uma cadeira de rodas).
Alguns minutos depois ela retorna, pedindo educadamente que eu aguarde “um tempinho”, pois o único elevador do prédio estaria “em manutenção” e não haveria como eu ser removido daquele pavimento.
Senão, vejamos: um edifício de atendimento ao público, público este predominantemente enfermo e com dificuldades de locomoção, com diversos pavimentos, e com somente um elevador para macas e cadeiras de rodas. Sem rampas ou qualquer outro acesso.
Primeiramente, somente posso supor que este único elevador serve para transportar todos os enfermos, profissionais de saúde, pessoal de limpeza, lixo hospitalar, alimentação para os pacientes, dejetos orgânicos e inorgânicos, material de limpeza, manutenção, enfim, tudo, inclusive os corpos daqueles que tiveram menor sorte no atendimento. Tudo no mesmo veículo, no mesmo espaço.
Não vamos aqui pensar da tragédia que seria algo como, por exemplo, um incêndio, mesmo que de pequenas proporções. Como seriam removidos os pacientes dos pavimentos superiores? Ou, sendo menos trágico, um interno tem uma súbita recaída pós operatória e precisa ser atendido imediatamente no centro cirúrgico (que fica no térreo). E o único elevador está com defeito. Vai voando, já treinando para a eternidade?
Como o Corpo de Bombeiros autoriza o funcionamento de um estabelecimento daquele porte, com aquela arquitetura e com aquela finalidade, tendo uma única, velha e precária rota de acesso? Depois acontece uma tragédia e vamos ver um coronel qualquer se desmanchando em desculpas na TV, culpando a falta de pessoal e equipamentos na corporação. Uma tragédia anunciada.
Como estava dizendo no começo, resolvi não falar sobre isto neste espaço, pois pode ser que algum colega da repartição, que esteja precisando receber horas extras em atraso, resolva apresentar uma denúncia aos meus superiores, alegando que eu estaria usando a figura de um hospital para criticar metaforicamente o prédio onde trabalhamos. Certamente, outro colega que precise de licença para fazer palestras ou almeje algum cargo de supervisão, irá se candidatar para compor a comissão processante. É melhor não tocar no assunto.
Vamos falar sobre outra tragédia anunciada.
O Aeroporto Internacional de São Raimundo Nonato é o mais moderno do interior do nordeste. Sua pista principal, com 1.650 metros, comporta o pouso e a decolagem de aeronaves de grande porte. Com um custo estimado de R$ 20 milhões (não inclusa a parte do PT e seus colaboradores), demorou quase 18 anos para ser concluído. Mas agora, segundo leio no blog de Ricardo Moura Fé, terá início os voos regulares para lá: um voo semanal, partindo de Teresina com escala em Floriano, operado pela empresa Piquiatuba Air Lines.
Não é piada não. Tá aqui do lado, no próprio GP1. Um aeroporto internacional, ultra moderno, construído durante 18 anos a um custo de mais de R$ 20 milhões, tendo como única operadora a conhecidíssima e conceituada Piquiatuba. Fui pesquisar na internet se a empresa existe mesmo. Parece que sim. Embora em todo o site não possua qualquer referência ao equipamento (aeronaves) que opera. E quantas possui.
Tentei ainda marcar uma passagem de qualquer lugar para qualquer destino eventualmente atendido pela companhia: são dez cidades ao total, incluindo Teresina. Em qualquer dia e qualquer horário o resultado era o mesmo – indisponível. Só havia disponibilidade para um destino: Porto de Trombetas, que imagino ser uma metáfora para o além. Obrigado, vou a pé mesmo. Atualmente nem assim: vou de cadeira de rodas. E se estiver internado no Unimed não vou de jeito nenhum, pois o elevador está pifado.
Imagino um turista, nacional ou importado, a caminho para visitar a Serra da Capivara (patrimônio cultural da humanidade, diga-se de passagem), aguardando no Aeroporto Internacional de Brasília rumo ao Aeroporto Internacional de São Raimundo Nonato, ouvindo a chamada pelo sistema de som: “Atenção senhores passageiros do voo Gol 1458, com destino a São Luis, Teresina e Fortaleza, com conexão no Aeroporto Pinto Martins para São Raimundo Nonato pela Piquiatuba Air Lines (risos), portadores de bilhetes negros, digo, afro descendentes, embarque imediato e Adeus!”.
Com licença que eu quero descer! Nem que seja pelas escadas!
*Arthur Teixeira Júnior é colaborador
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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