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GP1
*Por Arthur Teixeira Junior

Imagem: GP1Arthur Teixeira Júnior(Imagem:GP1)Arthur Teixeira Júnior

Tem alguns assuntos que de tanto serem repetidos no noticiário acabam cansando. Como aquelas musiquinhas chatas que não saem de nossa cabeça e volta e meia, mesmo sem querermos, acabamos cantarolando. Os entendidos as chamam de música “chiclet”.

Nos últimos meses, o assunto em voga é a falta de água no sudeste.

Interessante ... No Nordeste sempre houve falta d’água, e nem por isso era notícia diária em todos os telejornais, e tampouco apareciam na TV zelosos consumidores dando soluções mirabolantes para o uso racional do precioso líquido. Meu filho não sabe qual o salário de seu professor na escola pública. Mas sabe qual o nível diário do reservatório que ele nem sabe onde fica.

Quando políticos daqui (sem querer defender qualquer político, pois são farinha do mesmo saco) iam à TV pedir recursos para a contratação de carros pipas ou para construção de cacimbões, tinha sempre alguém do sul maravilha que ia logo apontando: “Isto é a indústria da seca!”.

Agora governadores vão em romaria à Brasília exigir bilhões de reais para a execução de obras monumentais de emergência a serem executados em prazos exíguos, antevendo-se a possibilidade da roubalheira institucional. Como ocorreu com as verbas federais prontamente disponibilizadas para auxílio aos atingidos pelos deslizamentos de 2011.

Fala-se também nos apagões que virão. Grande coisa! Em algumas cidades do nosso interior falta energia elétrica diariamente, colapso que dura por horas e dias. Enquanto lá falta água para girar as enormes turbinas das potentes hidroelétricas, ou atrasaram as obras da usina nuclear, o motivo aqui é a falta de investimento em transformadores de pouca potência, em materiais de reposição e manutenção preventiva.

Um lunático qualquer previu que, se a seca continuar por mais alguns anos, talvez seja necessário evacuar as grandes cidades do sul. Evacuar para onde?

Antevejo grandes levas de compatriotas do sudeste aqui chegando, maltrapilhos, aboletados em carrocerias de caminhões (os “pau de flamingo” – em alusão ao antigo “pau de arara”), por estas bandas procurando refúgio, indo pernoitar ao relento (já que não temos os necessários viadutos para abrigá-los em seus baixos). Terão que procurar trabalho no cabo da enxada, já que não temos uma indústria de construção civil para acolhê-los. Aliás, não temos indústria de nada. Faltarão escolas para seus filhos, e os poucos que conseguirem estudar irão se deparar com professores despreparados e desmotivados.

Espero que eles não fiquem doentes, pois não temos leitos nem médicos sequer para os aqui nascidos. Que não venham de carro, pois não temos ruas ou estradas em condições de uso. Vão ter que enfrentar os ônibus velhos e sucateados, sem ar condicionado.

Se houvessem aqui criado estruturas para desenvolvimento, como indústrias, irrigação agrícola, treinamento de mão de obra, educação, saude pública, urbanização, enfim, tudo aquilo que lá fizeram e agora os sufoca, poderíamos recebê-los com maior dignidade. Coisas da vida.

Mas vamos a minha colaboração para a economia de água nestes tempos difíceis: a maioria das concessionárias de distribuição de água (aqui a Agespisa) cobra uma taxa mínima para a conta de água, no caso aqui 10 m³. Morando só, consumo em média 6 m³/mês, o que representa cerca de 200 litros/dia de água, bem acima do recomendado (algo em torno de 120 litros/dia/pessoa). Estou inclinado a rever minhas rotinas e racionalizar o consumo de água. Mas continuarei pagando o mesmo tanto mensalmente, por uma água que não consumi e sequer foi fornecida. Que incentivo?

*Arthur Teixeira Junior é articulista

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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