Imagem: GP1Arthur Teixeira
“Há dois tipos de Servidor Público: um deles serve aos políticos e, por isso, ascende na hierarquia e acumula prestígio e patrimônio rapidamente. O outro serve ao país, enfrenta interesses poderosos e, por isso, passa por dissabores no trabalho.”
Antes que me processem novamente, aviso que a frase acima é de autoria de Adriano Ceolin, e foi publicada na Revista Veja, edição 2370, pg. 55.
Acabo de assistir a um programa humorístico na TV aberta, e desfilaram pela tela diversos personagens que lembravam algumas figuras do Poder Executivo e Legislativo do Brasil. Não havia ofensas, mas sim críticas e caricaturas ressaltando as particularidades de cada figura política.
Muito longe de ofender, agredir, os quadros mostravam lados do Poder que precisam ser corrigidos e, por estarem em desacordo com os anseios da população que paga seus altos salários, precisam ser mostrados, ressaltados e criticados.
Até mesmo nos duros anos da ditadura militar (1964-1986), alguns artistas resistiram à censura e criticavam o status quo. Os mais velhos recordam-se dos quadros humorísticos onde o saudoso Chico Anísio representava a velhinha de Bagé conversando com um tal de “João Batista”. Impagável Jô Soares representando a caricatura de Delfin Neto enquanto este era Ministro da Agricultura no Governo Militar, embora pouco ou nada entendesse de agricultura.
Nem sempre foi assim. Quantos artistas foram censurados, perseguidos, torturados e exilados por simplesmente expressarem sua opinião durante os “anos de chumbo” no Brasil. A ditadura, inspirada nos métodos da Inquisição Espanhola e da Revolução Cultural de Mao-Tse-Tung, incitava filhos contra pais, vizinhos contra vizinhos, colegas de trabalho contra colegas de trabalho. Vladimir Herzog foi denunciado e condenado à morte pelos próprios colegas de profissão, embora isto não seja amplamente divulgado.
Talvez o maior balaustre da resistência democrática seja a Imprensa. Foi ela quem denunciou Collor de Melo, os Anões do Congresso, PC Farias, a Usina de Passadena, e hoje os gastos exorbitantes na realização da Copa do Mundo, enquanto faltam verbas para a Saúde e Educação. Calar a imprensa é calar o Quarto Poder da República, assim como calaram aqueles que denunciaram, na época, as torturas,os desaparecimentos e o atentado ao Rio Centro.
Entretanto, alguns ocupantes do Poder ainda não pensam assim, vivendo, em suas doentias mentes, na época da Ditadura. Castram iniciativas artísticas, censuram quem lhes tem opinião contrária. Enxergam fantasmas em qualquer frase cujo teor não conseguem compreender. Órfãos da Ditadura, imaginam ainda viverem nos negros anos da década de 70, quando se censurava até cantigas de roda e programas infantis. Os artistas tinham então que usarem um linguajar cifrado para denunciar o Sistema (lembrem-se de “Cálice”, de Chico Buarque).
Em alguns setores ainda temos que utilizar deste artifício. Muitos censores modernos acabam por não entender a mensagem e, então, dizem que não lêem “este tipo de leitura” (sic). Não é verdade, todos lêem sim. Quando falei que em nossa Corporação havia um bigodudo boiola, no dia seguinte todos (bigodudos e boiolas) vieram trabalhar sem seus antigos bigodes.
Ontem, flagrei um importante executivo ajeitando sua cueca com estampa de oncinha no banheiro do 8º andar, e um representante de vendas tentou agarrar-me naquele elevador que nunca quebra e tem um excelente contrato de manutenção. Amanhã todos estarão com a bordinha da cueca de fora, como acontecia nos idos de 90, para mostrar que não usam cueca de oncinha e não lêem minhas crônicas, além de ninguém mais pegar o mesmo elevador que eu.
Um colega articulista em outro portal mostrou-me uma denúncia que originou um processo administrativo contra ele. O denunciante, como justificativa para a delação, afirmou que ele (denunciante) “nunca fora advertido, nunca respondera a nenhum processo administrativo, nunca faltou ao serviço ou chegou atrasado, sempre cumpre todas as ordens sem questionamento e somente ausenta-se de sua sala em casos de extrema necessidade”. Só faltou dizer que mantém um pinico debaixo da mesa e é ele quem organiza anualmente a festinha de aniversário do chefe.
Tenho pena deste funcionário exemplar: quem nunca tomou um porre, não flertou com a mulher alheia, não mostrou a língua pelas costas do chefe e nunca levou uma multa de trânsito, passou pela vida sem vivê-la, foi um zero a esquerda. Prefiro continuar respondendo às Inquisições Modernas as quais me submetem constantemente. Curvo mas não quebro.
Mudando de assunto e finalizando: meu colega, conhecido como “Manto Sagrado”, finalmente encerrou as atividades do boteco suspeito que mantinha na esquina de minha casa. Na verdade, a bagunça saiu do controle. O churrasqueiro mantinha um romance com a garçonete, polivalente, e, um desavisado cliente conhecido como “Senhor Peru” (em alusão a um falecido personagem da “Escolinha do Professor Raimundo”), quis insinuar-se para a dita cuja.
A desautorizada paquera terminou em tiroteio. O Jornalzinho do Bairro assim noticiou o evento, estampando a manchete: “FRANGUEIRO TENTA ABATER O PERU QUE QUERIA MOSTRAR O PINTINHO PARA A GALINHA”. Quem não tinha prévio conhecimento dos fatos, jurava que havia tido uma desavença na granja do Domingão.
* Arthur Teixeira Junior é colaborador
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