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Imagem: Bárbara Rodrigues/GP1Zé da Cruz.(Imagem:Bárbara Rodrigues/GP1)Zé da Cruz.

Moro na região sul de Teresina considerada, pelas estatísticas e estudiosos em segurança publica, a área mais violenta da capital. Quem sou eu pra teimar com os “hômis” grandes e estudados, mas, continuo achando que essa é a área que menos tem investimentos e compromissos do poder público estadual e municipal.

Pois bem, quero relatar uma aventura extremamente humilhante que aconteceu na última sexta-feira. Eu e uns amigos estávamos empolgados por conta de um jogo de futebol que havíamos assistido.

Com a vitória do nosso time resolvemos comemorar. Como a galera da periferia agora foi proibida de andar nos Shoppings, e como não tenho costume, nem papel bordado suficiente para frequentar o Coco Bambu, Favorito ou a Confraria Uchoa, me destabaquei para o bar da Dorinha, no Parque da Vitória. Lá, além de você poder tomar uma cerveja gelada, a galera é tão gente boa que me sinto em casa. Sem falar ainda que se o cabra se alisar, a companheira segura umas duas no “F”, sem abusar da boa vontade.

Bem, foba vai, foba vem, lá pelas tanta chegaram duas viaturas da polícia sendo uma da Força Tática e outra da 2ª Companhia Independente do Promorar. A princípio, me senti seguro por ver aquele aparato policial e pude constatar na prática que a policia está na rua como propaga seu comandante. Mas, a sensação de segurança não demorou muito, pois foi ligeiramente substituída por uma sensação de humilhação, desprezo; e pela sensação de impotência diante dos berros, ameaças e agressão verbal dos três policiais da Força Tática com a anuência de um subtenente.

Mesmo ninguém se negando a ser revistado e não mesmo tendo sido encontrado armas ou drogas, eles, arbitrariamente, mandaram fechar o bar da moça, e não era nem meia noite ainda. Pedi permissão pra falar, e disse: “duvido que vocês façam isso na zona nobre da cidade.” A resposta veio de pronto: “e porque você não vai morar lá? “não fazemos isso lá porque não temos determinação”. E aÍ não vou me estender mais, porque haja caneta papel e tempo.

Não sei se vocês perceberam, mas não citei o nome dos policiais porque nenhum deles estava com a tarja de identificação, e me preocupou muito mais a distância das viaturas, me ocorrendo a certeza de não queriam ser identificados para agirem acima da lei, e com a certeza da impunidade.

Gostaria de fazer um apelo e esclarecer ao Comandante da Policia Militar do Estado do Piauí que na periferia de Teresina não mora somente bandido, mas pessoas de bem, com dignidade e que merecem respeito.

Os seus policiais no cumprimento do dever e das ordens acabaram com o escasso lazer das pessoas que moram naquela comunidade de forma desrespeitosa, e ao invés de ganhar o apreço e elevar auto estima do povo que sofre de toda as mazelas , eles pisam, segregam e humilham, fazendo a instituição policial ser desesperadamente temida ao invés de amada, por usarem a força desproporcional onde poderiam dialogar e fazer a política da boa vizinhança conquistando o reconhecimento e a gratidão da plebe ao invés de indiferença e revolta.

Vou ainda mais longe: se isso acontece na frente de dezenas de pessoas, imagine quando pegam um jovem em uma rua escura tendo somente a lua como testemunha. Não quero nem dormir pra sonhar. Mais uma vez bato nessa tecla: precisamos de políticas públicas urgentes na parte mais pobre da cidade, e que a policia que seja cada vez mais comunitária. Quero parafrasear o Preto Kedé, só que ao invés dele, vou morrer de medo do Fabio Abreu e correr apavorado do Avelar.


*Zé da Cruz é poeta e liderança comunitária

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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