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Por Cineas Santos*

A primeira vez que fui a São João do Piauí, final da década de 50, eu teria uns dez anos de idade, não mais que isso. Em matéria de cidade, minha única referência era São Raimundo Nonato que, ainda hoje, não pode ser tomada como modelo urbanístico a ser copiado. São João me pareceu encantadora. Ruas calçadas com paralelepípedos, uma pracinha ajardinada e um fiapo de rio de águas cristalinas. Sem medir as consequências, caí de amores pela cidadezinha sertaneja. Na adolescência, voltei a visitá-la e a descobrir novos encantos: a maior praça que já vi na vida e a beleza das são-joanenses, festivas, festeiras, festejáveis... Ao longo desses anos, nunca deixei de visitar São João pelo menos uma vez por ano. A bem da verdade, a paixão antiga não arrefeceu.

No início da década de 80, fui convidado pela Profa. Expedita Alves para ministrar um curso de português no colégio Frei Henrique. O educandário-referência fica justamente na Praça Honório Santos, que tanto me impressionara. Foi nessa época que me dei conta da existência de uma árvore antiga, bela, frondosa, bem na frente do colégio. Era uma figueira generosa que, de tão integrada à paisagem, parecia estar fincada ali desde o princípio dos tempos. À sombra dela, pais esperavam filhos, amigos conversavam, namorados encontravam-se ...

Irmãos e irmãzinhas, vocês não imaginam o quanto me dói falar da velha figueira com o verbo no imperfeito. Na semana passada, recebi uma fotografia que me deixou estarrecido e indignado: a figueira está morta. Não morreu de morte natural, nem por ataque de fungos, cupins ou formigas. Morreu, ou melhor, foi morta por imperícia, imprudência ou irresponsabilidade de quem conduziu a infeliz reforma da Praça Honório Santos. O responsável pela obra que, segundo consta, teria custado meio milhão de reais, fez questão de deixar suas impressões digitais na cena do crime: o espectro de uma árvore morta a entristecer a paisagem.

Até onde sei, a população da cidade lamenta e chora. Pois eu vos digo que é pouco. O autor do crime precisa ser exemplarmente punido. E, por favor, não me venham dizer que, “forasteiro”, não tenho o direito de me meter em assuntos que só dizem respeito aos nativos. Para quem não sabe, sou cidadão são-joanense, honraria que me foi concedida pela Câmara Municipal de São João do Piauí. Como não me contento com simples honrarias, recebi o título e, desde então, sinto-me no dever de fazer jus a ele. Cidadão, para os desavisados, é um ser quase sempre incômodo. Podem me cassar o título, se assim o desejarem, mas nunca me poderão calar. Conheço o significado da palavra cidadania. Sou e serei sempre um cidadão.

* Cineas Santos é bacharel em Direito, professor e preside a Fundação Quixote

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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