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*Deusval Lacerda de Moraes

Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarDeusval Lacerda de Moraes(Imagem:Divulgação)Deusval Lacerda de Moraes
Há quem diga que grande parte dos políticos piauienses precisa se reciclar. Pois algumas das nossas mazelas são atribuídas diretamente a essas figuras paradoxais. Por escamotear a função do Estado peca demais e, o que é pior, não demonstra qualquer remorso com isso porque conta com as vantagens pessoais. Mas nas suas campanhas eleitorais se apresentam como benfeitores, portando-se como pessoas do bem, quando na verdade nos enganam. Ao ser eleito, tudo muda. No mandato, o propósito é outro que não seja os supremos interesses do Piauí e da sua gente. E parcela ponderável deles até debocha dos que lhe confiam o voto, como se nunca fossem merecedores do seu beneplácito. Esta é a prática de certos representantes do nosso povo que não tem qualquer compromisso com os seus governados.

Não foi em vão que os gregos sabiamente criaram a democracia, em que o poder é exercido pela vontade da maioria dos cidadãos e não por tiranos, déspotas, monarcas, oligarcas, que se lhe atribuíam poder divino. Ou melhor, aqueles que não cumpriam com os compromissos assumidos com a sociedade seriam defenestrados do mandato - às vezes sofriam até a pena do ostracismo -, proporcionando alternância do poder e o surgimento de novas lideranças com ações governamentais modernas, em que prevalecia sempre a moral, a ética e os bons costumes, permitindo ao povo mudar os seus representantes quando necessário, mais ou menos dentro do espírito do escritor português Eça de Queiroz quando disse: “Os políticos e as fraldas devem ser mudados freqüentemente e pela mesma razão”.

No Piauí, desafortunadamente vem ocorrendo um fato curioso. O atual governador eleito pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e com o respaldo eleitoral decisivo do Partido dos Trabalhadores (PT), que inclusive o antecedeu no governo, partidos políticos forjados, o primeiro, teoricamente, e o segundo, pragmaticamente, nos anseios do povo por defenderem bandeiras dos movimentos sociais e populares, fato encarnado pelo candidato-governador na sua campanha eleitoral, e que recentemente tomou uma decisão que sonega totalmente o seu discurso em favor dos menos favorecidos e que exatamente por isso teve a reação merecida de alguns setores populares que o apoiaram na sua eleição ao Governo do Estado.

O fato é que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Piauí realizou a 12ª Plenária Estadual com representantes das mais significativas entidades sindicais do Estado (bancários, professores, servidores públicos federais, rodoviários, trabalhadores da construção civil, trabalhadores domésticos, comerciários, trabalhadores rurais, entre outros) e apresentou e foi aprovado por unanimidade documento intitulado “Moção de Repúdio ao Governador Wilson Martins”. Nele, os sindicalistas afirmam que o atual governador vem tomando atitudes que não fortalecem a democracia nem colaboram para dar fim ao modelo atrasado e elitista combatido nos últimos anos pelos governos estaduais e federais exercidos pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Citam, inclusive, que a decisão do governo em não receber trabalhadores em audiência no Palácio de Karnak sem estarem vestidos de paletó, bem como ter acabado com a rede de proteção social criada pelos governos petistas, como as coordenadorias do Semi-Árido, dos Direitos Humanos e do Fome Zero, e também recusar-se a receber as categorias profissionais que deflagram greve, não condizem com um governo eleito com o apoio maciço desses estratos sociais piauienses.

Dessa maneira, o diretor da CUT-Piauí e secretário-geral do Sindicato dos Comerciários de Teresina, Gilberto Paixão, disse que o conjunto da classe trabalhadora não pode aceitar tamanho despropósito, por se caracterizar como medida abusiva e de afronta aos interesses da classe trabalhadora. Assim, é indispensável também que os dirigentes do PT, principalmente os que detêm mandatos eletivos, manifestem-se sobre tamanha desfaçatez governamental, e não devem se comportar como se fosse natural o que está acontecendo em flagrante descompostura com as camadas populares, e ainda por cima desvirtuar o mote da campanha eleitoral do candidato-governador quando dizia amiúde: “Wilson Martins: Do sertão para o Palácio de Karnak”. No sertão, pelo que consta, usam-se indumentárias dos mais variados tipos, inclusive caipira, até vestimenta de couro, como o gibão do vaqueiro – atividade esta tão alardeada pelo candidato-governador como a sua verdadeira vocação -, mas não tem a tradição de usar-se o fino paletó de corte inglês. Em agindo assim, o sertanejo-governador se comporta como um lorde britânico em franca contração da rota que percorreu para chegar à sede do Governo do Piauí. Na Grécia antiga, seria condenado a 10 anos de banimento.

*Deusval Lacerda de Moraes é Pós-Graduado em Direito

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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