*Júlio César Cardoso
Questionado sobre a proposta que reajusta o salário dos servidores da Câmara, o deputado Marco Maia (PT-RS) disse que o “salário da Câmara não está compatível com o salário de Brasília”. Deputado, não é o salário da Câmara que está incompatível com o salário de Brasília. É o salário da Ilha da Fantasia, Brasília - um dos responsáveis pelo montante da dívida pública interna brasileira, hoje na casa de 1,800 trilhão de reais - que é indecentemente desproporcional aos salários dos demais trabalhadores brasileiros.
O deputado Marco Maia parece deslumbrado com o poder. Está muito diferente de quando pleiteava cargo no Legislativo. Naquela época, não pegava carona em aviões particulares e nem viajava ao exterior para assistir jogos internacionais, com dinheiro de próprio bolso, mas agora as glórias do poder subiram à sua cabeça e ele se comporta como o Dr. Marco Maia, que ganha muito bem às nossas custas (R$ 26.700 e mais mordomias, o que confirma que ser parlamentar no Brasil é uma dádiva caída do céu), e certamente não queimou pestanas para ingressar numa faculdade, blasona a alta posição que exerce graças ao voto do eleitor, e entende que não tem que dar satisfação por viagens que realiza, com dinheiro do contribuinte ou por meio de carona em aviões privados.
Vejam o que publicou em 26/8 o jornal O Estado de S.Paulo: “Presidente da Câmara usou avião de plano de saúde para ir a reunião do PT”. E mais: “Marco Maia disse que vai pagar o voo com o próprio salário porque ’ganha bem’; em junho, deputado havia usado outro avião particular para assistir a jogo da seleção brasileira em Goiânia e depois ir a Porto Alegre, serviço que custaria R$ 45 mil. (...) Na declaração de bens ao Tribunal Superior I(TSE) de 2010, Maia disse ter um patrimônio de R$ 342 mil. Ou seja, o pagamento do frete do avião corresponderia a aproximadamente 13% de seu patrimônio.”
Mas o que causa espécie, com a “transparente lisura” de procedimentos do deputado, é o fato de que geralmente só depois que a mídia descobre as suas peraltices no campo da irregularidade, é que o deputado Marco Maia se prontifica a arcar com as suas despesas. Isso não é muito estranho? O cidadão é ou não é honesto. Não existe meio-termo. Meio-ilícito. Ilícito é ilícito.
Receber vantagem indevida em função do cargo que exerce é crime e está capitulado no Art. 317 do Código Penal como Corrupção Passiva. Ademais fere os princípios da legalidade, impessoalidade e moralidade de que trata o Art.37, da Constituição Federal. Não adianta, após as denúncias, o deputado vir se defender que vai arcar com as despesas realizadas indevidamente, porque o crime já está caracterizado. Lamentamos que o presidente da Câmara Federal tenha comportamento especioso e solerte, o que deveria ensejar a apreciação do Conselho de Ética da Câmara por seu mau comportamento.
A corrupção infelizmente está disseminada em todos os níveis da política brasileira. Só há espertalhões querendo levar vantagem de qualquer forma. Não sei como um político pode despreocupar-se com ações inescrupulosas, falta de vergonha e respeito para com a sociedade, o eleitor, ao pretender tirar vantagem indevida do cargo que exerce. O país precisa denunciar os corruptos de colarinho branco, disfarçados de bom político.
*Júlio César Cardoso
Bacharel em Direito e servidor federal aposentado
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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