As eleições esquentam mesmo no ano em que acontecem. Antes disso, são assunto mais da política e do jornalismo do que da população como um todo. Não deverá ser muito diferente em relação à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acontecerá daqui a um ano e dez meses, em outubro de 2010. Feita a ressalva óbvia, vale dizer que 2009 será um ano bem importante para a definição do cenário sucessório.
Haverá movimentos importantes que deverão necessariamente ser dados pelos postulantes à cadeira de Lula. No cenário tido como mais provável, espera-se uma eleição polarizada entre os candidatos do PSDB e do PT. Hoje, os favoritos para essas duas vagas são, respectivamente, o governador de São Paulo, José Serra, e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Serra é o líder nas pesquisas sobre a sucessão. Dilma ganhou força em 2008, impondo-se ao PT como uma vontade de Lula e ponto final. No PSDB, Serra enfrenta um problema. O governador de Minas, Aécio Neves, quer mesmo ser candidato. Não está para brincadeira e não aceita ser vice do colega paulista.
Analisadas as pesquisas, Serra parece um fato consumado. Ele marcou 41 pontos percentuais no último levantamento do Datafolha, realizado no final de novembro. Mas a pesquisa não é ruim para Aécio. Entre o final de março e o final de novembro, ele deu um salto. Passou de 4% para 17% das intenções de voto. É sinal de que o mineiro, com taxa de conhecimento menor do que a de Serra, tem espaço para crescer.
Argumenta-se que o PSDB não deve cometer o erro de 2006, quando lançou o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, candidato a presidente. Alckmin tinha menos da metade da intenção de voto de Serra, que, de acordo com essa tese, deveria ser o candidato. Ora, Serra não queria ser candidato. Teve medo de enfrentar Lula, que já se recuperara do escândalo do mensalão e liderava as pesquisas. Se quisesse, Serra teria sido.
Uma constatação enfraquece a tese de que lançar Aécio seria uma repetição da fracassada candidatura de Alckmin. É necessária uma obviedade: Aécio não é Alckmin. Tem mais peso político, maior representatividade. No mercado financeiro, por exemplo, tem mais admiradores do que Serra, visto como defensor de maior intervenção do Estado na economia. Tem boa penetração em amplos setores do centro político brasileiro. Enfim, é uma liderança importante e pela qual passará a sucessão.
Se não conseguir vencer Serra no PSDB, Aécio poderá optar pelo PMDB, apesar de negar um namoro que acontece, sim, nos bastidores. Pela regra atual, Aécio teria de mudar de partido um ano antes da eleição. E correria o risco de o partido pedir o seu mandato. Não parece que o PSDB faria isso no caso de uma saída de Aécio. Essa saída seria um racha significativo, que levaria mais tucanos junto.
O governador mineiro poderá ser beneficiado por um projeto em discussão no Congresso: criação de uma janela seis meses antes da eleição para que políticos troquem de partido sem correr o risco de perda do mandato. A iniciativa já foi batizada, nos bastidores, como "projeto Aécio". O mineiro ganharia meio ano para definir seu rumo político.
Uma chapa Aécio com o ex-ministro e deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) na vice complicaria muito a vida de Serra e de Dilma.
Falando de Ciro, ele perdeu força para encabeçar uma chapa presidencial com a escolha de Dilma por Lula como sua candidata preferencial. Ciro esperava liderar uma candidatura do campo lulista, mas não vai dar. A ministra da Casa Civil será candidata, salvo um acidente de percurso.
Na pesquisa Datafolha feita no final de novembro, Dilma recebeu uma boa notícia. Cresceu cinco pontos do fim de março ao fim de novembro. No mesmo período, Ciro recuou de cinco a seis pontos, a depender do cenário.
No final de março, Ciro tinha 17 pontos percentuais de frente em relação a Dilma. A ministra obtivera parcos 3%. E o deputado, 20%. De março a novembro, a vantagem caiu para 7 pontos 15% para Ciro contra 8% de Dilma.
O próximo ano será importante para Dilma consolidar a candidatura como competitiva. Um apoio explícito de Lula e do PT deverá alçá-la ao patamar dos 20% _talvez até mais. O que seria ótimo como ponto de partida.
Resumo da ópera
Serra é o favorito, mas seu caminho não será fácil. Ele não pode atropelar Aécio, sob pena de sair em desvantagem em Minas Gerais, o segundo colégio eleitoral do país. Isso sem falar das dificuldades de Serra no Rio de Janeiro, onde o governador Sérgio Cabral (PMDB) rasgou a fantasia e disse que apoiará Dilma apesar de ser amigo do governador paulista.
Dilma tem chance de emplacar como candidata e um padrinho político forte, cuja gerência da crise econômica nos próximos dois serão fundamental para a empreitada. Os números da economia selarão seu sucesso ou fracasso. Mais: ela não pode se apresentar apenas como dependente política de Lula. Terá de ganhar luz própria.
Aécio está no jogo com uma sede que poderá criar uma terceira via na campanha _parece pouco provável que consiga derrotar Serra no PSDB. Mas o mineiro é alguém que pode surpreender.
No momento, Ciro passou a ser um azarão. Parece que está mais destinado a ser vice de Aécio ou de Dilma. Bom de palanque, ele está mais maduro. Obviamente,
Kennedy Alencar, 41, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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