O discurso otimista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma das decisões de governo para tentar minimizar os efeitos da crise. Soa algo irrealista falar que "6% de crescimento [em 2009] seria gostoso", como disse na sexta-feira (19/12) em café da manhã com jornalistas. Ele sabe disso. Mas cumpre a função de animar o auditório.
O presidente e seus auxiliares se assustaram com o velocidade de agravamento da crise de setembro para cá. No começo, eles pensaram mesmo que seria uma "marola". Ainda estava em discussão a tese de descolamento dos emergentes.
Depois, descobriu-se que estamos todos os países no mesmo barco. Alguns na beira da prancha, muitos espalhados pelo convés e outros poucos ainda acomodados na cabine do capitão o que parece ser o caso do Brasil.
O ano termina com um esforço do presidente para segurar, no gogó, parte do crescimento de 2009. Virão ações "desenvolvimentistas", mas a principal medida será a retomada do processo de queda dos juros. Com uma taxa básica, a Selic, em 13,75% ao ano, há espaço para que se faça política monetária. Os EUA, por exemplo, já esgotaram esse arsenal, com sua taxa beirando 0% ao ano.
O ano que começará em breve abrirá a possibilidade de o Brasil conseguir reduzir os juros e deixá-los num patamar mais civilizado, digamos assim. Os juros nos países desenvolvidos não ficarão lá em baixo para sempre. Há uma oportunidade para uma redução dos juros que não gere pressões inflacionárias e que possa ser uma boa herança da atual crise quando a tempestade se for.
Lula aposta nisso. E aposta que o Banco Central entendeu isso.
Mais do que eventualmente dinamitar ou vitaminar a chance de eleger o sucessor, a gestão da crise econômica será o que abrilhantará ou diminuirá o bom governo que Lula tem feito nos últimos seis anos. Ciente dos riscos da crise, o petista quer ficar bem na fotografia histórica.
Palpite para 2009
Não convém subestimar o poder de persuasão de Lula no assunto redução dos juros.
Kennedy Alencar, colunista, Folha Online
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
Ver todos os comentários | 0 |