Para quem ainda tinha alguma dúvida sobre tamanho e força da onda negativa que vai cobrir a economia brasileira nos próximos meses, uma série de dados do chamado "mundo real" (a produção de fábricas e indústrias) são particularmente esclarecedores.
Um índice elaborado pela Fundação Getúlio Vargas e AES Eletropaulo, o SPI (Sinalizador da Produção Industrial), sugere que a produção paulista pode ter caído 6% em novembro em relação a outubro. A queda pode chegar a 6,3% na comparação com novembro/2007.
Se confirmado, será o maior recuo da indústria desde o apagão de energia em 2001, ano em que a economia brasileira cresceu só 1,3%.
Os dados do SPI levam em conta uma série de informações antecipadas por indústrias e o consumo de energia elétrica nas fábricas. O que eles sugerem é que as empresas brasileiras simplesmente pisaram com força no freio a partir de outubro, quando a crise financeira internacional se intensificou. Como vínhamos em certa velocidade, só em novembro realmente paramos.
A grande dúvida agora é o que acontece mais à frente. Quem tinha projetos de investimentos muito provavelmente vai abortá-los, e eventuais aumentos na produção (ou novos cortes) vão depender do "pulso" da demanda. E ele está fraco, o que levou só a indústria paulista a demitir 34 mil pessoas em novembro.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) já prevê crescimento negativo do PIB no último trimestre de 2008 e no primeiro de 2009, o que colocaria "tecnicamente" a economia brasileira em recessão.
Em 2009, o pior do PIB deve vir da área de investimentos. Ao lado do consumo das famílias, foram eles os responsáveis por alçar o crescimento econômico anualizado a quase 7% até setembro marco do início agudo da crise global.
Os investimentos das empresas devem fechar 2008 com expansão de 14%. Para 2009, com a expectativa de um mercado muito mais fraco, eles devem crescer só 3%, derrubando o PIB. Já o consumo das famílias, que cresce há cerca de 20 trimestres (assim como os investimentos) também deve cair pela metade ao longo do próximo ano.
Infelizmente, nenhuma boa notícia no front externo, que nos afeta diretamente.
Nos EUA, crescem os sinais do início de uma espiral deflacionária, com os preços caindo em vez de subir. A deflação é perigosa pois desestimula o consumo (não compro hoje porque amanhã estará mais barato) e o investimento (que segue a mesma lógica). Os preços gerais nos EUA recuaram 1,7% em novembro, puxados para baixo pelo valor das commodities e petróleo.
Muitos que esperavam um recuo do PIB dos EUA no último trimestre superior a 2% já revisam as projeções para uma queda de até 6%. É um desastre, mas ele já está mais ou menos assimilado. O problema é o futuro.
A grande questão continua sendo a de sempre: por quanto tempo as coisas ainda vão piorar antes de começarem a melhorar?
Por enquanto, não há nada no horizonte que permita alguma dose de otimismo na resposta a essa pergunta.
Fernando Canzian, repórter especial da Folha.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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