Durante as eleições de 2024, estava morando em São Paulo e acompanhei de perto a eleição na capital. No início, as pesquisas mostravam um cenário em que Ricardo Nunes, com os votos da direita e do centro, era o grande favorito das eleições. O fato de não haver um candidato da direita deixava Nunes nadando de braçada.
Até que entrou em cena Marçal, um empreendedor de sucesso, cuja fama se espalhou por meio de suas aulas de coaching, nas quais centenas de pessoas pagavam para assistir. Sua presença nas redes sociais, principalmente no TikTok, também era marcante, com vários perfis que postavam seus "cortes", incentivados pela campanha de visualizações que ele promovia.
O paulistano passa, em média, 4 horas por dia no transporte público, e o maior passatempo é, sem dúvida, as redes sociais. A avalanche de conteúdo que Marçal conseguia transmitir era impressionante. O algoritmo do TikTok tem o hábito de mostrar mais e mais vídeos sobre um determinado assunto caso o usuário passe mais de 30 segundos assistindo a eles.
Os ambulantes começaram a vender bonés com a letra "M" estampada, virando uma febre. O povo estava querendo uma figura com o principal discurso voltado para o empreendedorismo em uma cidade viciada em trabalho.
Os institutos de pesquisa já colocavam Marçal no segundo turno. No entanto, à medida que a campanha avançava, as pessoas começaram a perceber uma persona que não conheciam. Ele debochava dos outros candidatos e demonstrava desrespeito, chegando até a acusar Datena de assédio sexual.
Sua primeira grande falha foi a postagem, em suas redes sociais, mostrando-o muito mal dentro de uma ambulância, recebendo oxigênio após levar uma "cadeirada" de Datena. A cena soou como um desrespeito à inteligência dos eleitores, com Marçal comparando o episódio à facada de Bolsonaro e ao tiro de Trump.
A partir desse momento, o eleitor passou a se interessar mais pelos debates, mas Marçal, em vez de demonstrar preparo para comandar a cidade e implementar mudanças significativas para melhorar a vida da população, continuou com uma postura que não agradava.
Seu segundo grande erro aconteceu em outro debate, quando um assessor de Marçal agrediu o publicitário de Ricardo Nunes. Essa demonstração de arrogância e covardia passou uma mensagem negativa à população sobre o tipo de pessoas com quem Marçal se relacionava. Para piorar, ele defendeu publicamente seu colaborador, afirmando que ele havia agido corretamente, sem ter humildade para reconhecer os erros de sua equipe. O povo passou a questionar: "O que esse homem é capaz de fazer pelo poder?"
Nesse momento, a febre por Marçal começou a desaparecer. Sua imagem começou a mostrar que ele se via como alguém "acima do bem e do mal". A máscara estava caindo e o mistério sobre sua verdadeira personalidade estava se desvendando.
Depois, uma pressão sobre ele fez com que desabasse em lágrimas durante uma live, passando a impressão de que estava sendo perseguido, principalmente por figuras como o Pastor Malafaia, que dizia abertamente que ele era uma farsante.
No entanto, o golpe final para sua candidatura veio com a "farsa" do laudo apresentado em suas redes sociais após o último programa eleitoral, numa sexta-feira. Marçal publicou um documento alegando que Boulos havia sido atendido por uma clínica para recuperação do uso de drogas. Ele não imaginava que, a apenas 48 horas da eleição, o documento seria desmentido. A imprensa e a polícia comprovaram a falsidade do laudo no mesmo dia.
Marçal, então, tentou se defender dizendo que apenas havia publicado o documento, colocando a culpa em quem lhe entregou o papel. Mais uma vez, ele não teve humildade para reconhecer o erro e acabou menosprezando a inteligência do eleitor, que sabe que cada um é responsável pelos seus atos.
O que antes brilhava, agora se tornava opaco. A energia que antes parecia vibrante, apagou-se. O que parecia novidade, revelou-se uma farsa.
E agora, vai um boné do M? Ficou encalhado.
Por José Trabulo Júnior
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*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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