Recentemente, atendi uma paciente que chegou para a sessão muito aflita e dentre as demandas que Pietra me narrou, uma destaca-se por ser tema contumaz na clínica.
Ela expôs que havia, naquele mesmo dia, tido um conflito com uma colega de trabalho, Célia, sobre uma questão rotineira. Destacou a paciente que havia sido destratada pela colega na frente de outros e aquilo ela não aceitava em hipótese alguma. Sua irritação era evidente e não era difícil concluir que Pietra estava sendo consumida pela tristeza, raiva e ressentimentos. Asseverou, após esmiuçar a questão fática, que ela tinha, no mesmo local de trabalho, uma grande amiga Ana, sobre a qual ela fez a seguinte referência: "A Ana, sim, é minha amiga, nunca tivemos nenhum tipo de conflito."
Ato contínuo, indaguei a Pietra se ela saberia me dizer qual seria a pessoa que mais poderia contribuir no processo de autoconhecimento dela, a Ana ou a Célia.
Sem pestanejar, ela respondeu: "Claro que é a Ana, doutor, ela nunca me irritou."
Ponderei com Pietra que com os amigos nos sentimos aceitos, confortáveis e acolhidos pelo ambiente aprazível que, em geral, permeia a amizade. Entretanto, são os nossos desafetos que nos proporcionam a verdadeira oportunidade de crescimento espiritual e emocional, posto que são eles que refletem para nós a parte da nossa psique que precisa ser trabalhada. Usualmente, os amigos não desempenham este papel, relegado para os desafetos, que tanto desprezamos. Em verdade, tudo o que nos incomoda nos outros é uma projeção do que não vencemos em nós mesmos.
Nesse diapasão, proponho neste texto que passemos a considerar que as pessoas que nos irritam desempenham um relevantíssimo papel na nossa evolução e, se assim é, e se consideramos verdadeiramente a necessidade da evolução emocional e espiritual, devemos ama-los e agradece-los pela valiosa contribuição.
Finalizo com Carl G. Jung: "Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos."
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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