Era a primeira vez que atendia Katia, uma jovem de cerca de 30 anos que adentrou à sala com os ombros arqueados e sem brilho nos olhos. Ela me procurara com uma demanda de severa ansiedade. Contou-me que seu estado de agitação constante a vinha incomodando desde quando era criança, entretanto nos últimos anos, em especial, no período da faculdade, estava se tornando insuportável, a ponto de influenciar negativamente na tomada de decisões simples, como escolher uma roupa.
Realizando a anamnese, foi possível identificar que na verdade, a ansiedade era apenas uma das questões que a afligiam, ela também tinha um elevado grau de insegurança, bem como uma baixa autoestima. Contou-me que sua mãe sempre foi muito exigente com ela e sempre comparava de forma pejorativa a sua personalidade introvertida com a personalidade extrovertida da sua irmã mais velha.
Pois bem, durante a análise, por meio do método freudiano da Associação Livre, Kátia não conseguiu lembrar-se de nenhum evento que pudesse ser o catalisador das questões que hoje a incomodavam. Todas as vezes que lembrava algo de um passado remoto, suas palavras eram interrompidas por abundantes lágrimas.
A retomada do equilíbrio emocional era a pedra angular daquele caso. Utilizando de algumas técnicas de relaxamento, Katia retomou o controle de suas emoções e pedi para ela que olhasse fixamente para a porta que estava a sua frente e deixasse a sua mente livre para fluir seus pensamentos. Perguntei o que ela gostaria de fazer e ela me respondeu que gostaria de abrir a porta. Pedi que desse seguimento a seu desejo, só que desta vez de olhos fechados. Ela me contou que ao abrir a porta, viu um quarto escuro com a sensação de que as pessoas estavam olhando para ela. Sentia-se acuada, insegura e com medo.
Utilizando as técnicas de hipnose, facilitei a regressão de Katia ao momento da gênese do seu trauma. Ela visualizou uma cena que já havia se apagado do seu consciente há muito tempo: ela tinha cerca de 5 anos quando a sua mãe se irritou quando ela derrubou um copo de leite sobre o tapete e comparou-a de forma ríspida e humilhante com a irmã. Aquele evento ficou congelado em sua memória, gerando um Complexo, que constantemente era constelado com os eventos da vida diária que se referissem ao tema.
Após a utilização das técnicas terapêuticas apropriadas para o caso dela, pedi, para finalizar, que ela visualizasse a mãe dela aproximando-se e pedindo que a abraçasse, ao mesmo tempo que ambas pediam perdão uma para outra. Por longos minutos, Katia permaneceu abraçada a sua mãe, enquanto as lágrimas escorriam, mas já não mais de insegurança e medo, e sim fruto da convicção daqueles que sabem que são amados.
Tivemos uma longa conversa sobre os mecanismos inconscientes que influenciam a mente consciente e a tornam, quando não verdadeiramente compreendidos, vulneráveis aos Complexos que povoam o Inconsciente. Expliquei, em especial, que os Complexos, conteúdos autônomos do Inconsciente Pessoal formado por lesões ou traumas psíquicos, tem em seu núcleo a imagem do evento traumático e orbitando a imagem encontram-se as emoções negativas geradas pelas lesões. A função da terapia é descongelar a imagem nuclear por meio da ressignificação das emoções e o meio mais eficaz da técnica terapêutica é a verdadeira realização do Amor e Perdão.
Renovada, Katia, agora, tinha uma melhor compreensão de suas pulsões instintuais e podia dar novo começo a sua vida emocional e aos seus relacionamentos. Despediu-se com um ar de esperança e um renovado brilho no olhar.
José Anastácio de Sousa Aguiar
Psicanalista, hipnoterapeuta e terapeuta de vidas passadas
*nomes, sexos e alguns detalhes foram alterados para proteger a identidade dos pacientes.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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