Marcella é uma jovem senhora de cerca de 40 anos que me procurara depois de uma vida de desventuras e desalentos, como ela mesmo disse ao dar início a anamnese.
Sua beleza estava ofuscada pela postura melancólica e uma desilusão fácil de identificar. De início, me falou que sempre havia sido o patinho feio entre os seus quatro irmãos. Passara a infância sentindo-se inferiorizada pela mãe que sempre, no seu entender, privilegiava os outros filhos em relação a ela. O relacionamento conflituoso dos pais não facilitava a sua adaptação ao mundo que ela desde pequena achava hostil e sem graça.
Buscara refúgio nos estudos como válvula de escape a sua infelicidade em casa. Era a melhor na escola, mas nem este fato era suficiente para atrair os carinhos e atenção dos pais. Na adolescência, os pais se separaram, o que para ela, por um lado, pareceu ser um alívio, mas por outro, aumentou o seu grau de insegurança.
Casou cedo, como forma de buscar compreensão e amor, mas encontrou frieza e distância. Separou-se e encontrava-se desiludida e com dois filhos para dar o amor que nunca tivera.
Pois bem, as sombras criadas por Marcella durante toda a sua vida desenvolveram nela uma série de complexos, inferioridade, dissociação, perda e outros, que não lhe permitia a reconexão consigo mesmo.
Enquanto o indivíduo que atravessa as dificuldades se identificar com as dores e os problemas que lhe ocorrem, ele não se permitirá retirar daquela situação a lição necessária para seguir em frente e permanecerá estagnado no estado viciado de dor e sofrimento. Como diria Jung, há a necessidade de integralizar as Sombras, transformando as energias estagnadas em energia de reconexão consigo mesmo.
Talvez, a lição mais difícil que temos a aprender é que toda situação vivenciada é uma oportunidade de superação que nos é oferecida para que possamos evoluir emocionalmente e reconquistar o bem mais precioso para que possamos atingir a totalidade: a Paz.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*nomes, sexos e alguns detalhes foram alterados para proteger a identidade dos pacientes.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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