Costumo fazer, ao início de cada atendimento, duas perguntas. A primeira é indagar ao paciente como ele gosta de ser chamado e a segunda é em que posso ajudá-lo. Interessante notar, que o modo como as duas perguntas são ou não são respondidas, esclarece e facilita muito o trabalho psicanalítico. O tema da presente crônica refere-se a essas perguntas.
Era uma sexta-feira no final da tarde, o último atendimento do dia e da semana. Era a primeira consulta daquele paciente e após cumprimentá-lo, realizei a primeira pergunta (como ele gostaria de ser chamado), ao que ele me respondeu: “ Dr. Pedro Augustus Neto, não esqueça do neto, doutor.”
À segunda pergunta (em que posso ajudá-lo), ele, após uma certa resistência, me explicou que era advogado há muitos anos e trabalhava junto aos ministros das cortes superiores e tinha conseguido acumular muito dinheiro e status com a sua função, entretanto, estando com 55 anos, sentia-se vazio e desorientado.
Pode-se analisar este caso fazendo-se uso do conceito junguiano de máscara (persona). Máscara(s) seria(m) aquele(s) instrumento(s) que o ego do indivíduo lança mão para adaptar-se às vicissitudes do dia-a-dia. O uso da máscara passa a ser patológico quando a pessoa se identifica em demasia com ela, que passa a dominar as decisões do ego. Assim, seu uso reiterado dificulta a pessoa a aprofundar-se no autoconhecimento, tornando-o prisioneiro de si mesmo, ou melhor da máscara.
Nesse contexto, é perfeitamente razoável que o Dr. Pedro Augustus Neto tenha uma vida vazia e sem sentido.
A desidentificação para com a máscara, bem como a desmistificação de suas vãs glórias, são o cerne do processo analítico, nesse caso.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*nomes, sexos e alguns detalhes foram alterados para proteger a identidade dos pacientes.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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