Imagem: DivulgaçãoA dádiva como maldição e a maldição como dádiva; ou O Princípio junguiano dos Opostos e a busca do Si-mesmo
A primeira vez que atendi Morgana, pareceu-me que ela carregava os problemas do mundo nos seus ombros. Contou-me que tinha 40 anos, entretanto seu rosto entristecido e com profundas marcas de expressão apontava para uma idade emocional muito superior. Apesar das suas feições guardarem reminiscências da sua beleza dos seus anos dourados, a sua fraca energia e a postura insegura perante a vida aumentavam mais ainda os seus sinais externos de tristeza.
Contou-me que outrora fora uma mulher muito bonita e desejada e sempre tivera os homens aos seus pés. Bem jovem já era destaque nas passarelas e revistas de moda. Sua irresistível beleza e encantamento trouxeram a ela uma sensação de poder absoluto e infalibilidade. Assim, começara sua vida profissional de modelo muito cedo. Seu sucesso, em idade tão precoce, também lhe apresentou o mundo dos vícios e da futilidade. Cedo ela já não controlava mais o vício em drogas e sua compulsão perdulária em compras. Chegou vertiginosamente ao fundo do poço.
Não tinha nem 25 anos e já perdera tudo o que ganhara, incluindo a sua saúde e beleza. Passou por várias clínicas de reabilitação durante quase quinze anos e somente agora conseguia retomar um pouco do controle sobre a sua vida.
Em verdade, Morgana, por não conseguir lidar bem com a sua dádiva, a transformou em maldição. Entretanto, esta mesma maldição que tanto a fez sofrer, abria as portas para o encontro com a sua verdadeira natureza e o resgate do Si-mesmo.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*nomes, sexos e alguns detalhes foram alterados para proteger a identidade dos pacientes.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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