Motivado pelo pertinente comentário sobre a minha última coluna (O Tempo e a Verdade), feito pela colega Sueli, a quem desde já agradeço, tenho a ousada pretensão de trazer a lume na coluna de hoje uma abordagem do que seria a Verdade.
A citação de Kant, feita pela colega, é por demais feliz, especialmente se considerarmos que foi Kant quem proporcionou uma verdadeira revolução no que se refere ao tema, pois como linha geral antes daquele filósofo, considerava-se que a verdade significava conformidade com a realidade objetiva. Kant negou tal assertiva e redefiniu o conceito como realidade que se conforma segundo as nossas idéias. Dizia ele: "Até hoje, sustentava-se que o nosso conhecimento devia adequar-se aos objetos [...]. Haverá mais progresso se assumirmos a hipótese contrária, de que são os objetos de pensamento que devem adequar-se ao nosso conhecimento".
Em outras palavras, Kant defendia que todo nosso conhecimento é subjetivo, dependendo dos valores e conceitos do observador. Essa posição tem sido mal entendida por alguns, que argumentam que referida hipótese implicaria numa falta de valores universais. Creio que a confusão só se esclarece quando o referido tema é conjugado com os conceitos de Absoluto e Relativo, que comento a seguir.
Entenda-se por Relativo tudo que estiver sob a égide da relação tempo-espaço. Se algo está sujeito e, por via de conseqüência, tem seus limites nesta equação, enquadra-se e pertence ao relativo. Como conseqüência dessa relação, tudo pode ser caracterizado e definido, mantendo-se determinados parâmetros, bem como, alterado qualquer fator anterior de medição, pode ser alterado o resultado final. Em outras palavras, o relativo está intimamente ligado aos valores do observador e tem como uma de suas principais características a mutabilidade.
Já para o Absoluto, a regra é exatamente a oposta. Ele pertence ao inconcebível, logo não há qualquer parâmetro de aferição. Tentar entender o Absoluto com valores do Relativo, faz-nos, por definição, enveredar por uma seara que jamais poderá ser entendida.
Talvez, quem melhor resumiu o assunto foi Huberto Rohden: “A realidade é absoluta e infinita – mas o contato com essa realidade, que chamamos conhecer, é sempre relativo (...) Daí a insensatez que há em querer estabelecer regras absolutas e dogmas imutáveis, no terreno religioso ou político, para todos os tempos e todos os homens.”
Boa sorte a (nós) todos.
Eusébio/CE, 18 de setembro de 2009.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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