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Sempre tive curiosidade em saber qual teria sido o pecado mais antigo da humanidade.

Li certos artigos que apontavam para os pecados relacionados à carne: fornicação, adultério, prostituição, dentre outros. O fundamento para tal postura, segundo o que pude ler, seria a Bíblia em Gênesis (3:9), quando o homem (Adão) esconde-se de Deus em razão de perceber que está nu.


Tenho outra teoria... Ora, mesmo para o leitor que adota a teoria criacionista, que reconhece que tudo o que está na Bíblia deve ser lido literalmente, bem como aqueles que entendem como válida a teoria evolucionista de Charles Darwin e interpretam o Livro do Gênesis apenas no sentido metafórico, ambos reconhecem que o fruto (alguns dizem a maça) foi comido em razão da astúcia da serpente ao enganar (convencer) a mulher (Gênesis 3:4).

Nesse contexto, é a hipocrisia o pecado mais antigo, caracterizado por ser a ação do hipócrita (serpente) que insatisfeito de vegetar à sombra de uma existência vã e de desfrutar sozinho de sua hipocrisia (rastejar), procura convencer outros (a mulher) a adotar o mesmo comportamento (informação deliberadamente omitida pela serpente com o fito de convencer). Alia o ardil e o fingimento com a intenção torpe. O Evangelho de São Mateus (23:23) parece-me ter um dos mais belos resumos da postura/atuação do hipócrita.

O seu oposto parece-me ser a integridade, a virtude, a correção e a satisfação de ser honesto. Destaco Baltazar Gracian, em A Arte da Sabedoria Mundana e Cícero, em Do Orador e Textos Vários, sobre o tema:
“Integridade e firmeza. Esteja sempre do lado da razão, e com tal firmeza de propósito, que nem a paixão comum, nem a violência tirânica o desviem dela. Mas onde encontrar essa fênix de equidade? Poucos se dedicam à integridade. Muitos a festejam, mas poucos a visitam. Alguns a seguem até que a situação se torne perigosa. Em perigo, os falsos a renegam, e os políticos astuciosamente a disfarçam. Ela não teme pôr de lado a amizade, poder e mesmo seu próprio bem, e é nessa hora que é repudiada. Os perspicazes elaboram sofismas sutis e falam de louváveis motivos superiores ou de razão de Estado, mas o homem realmente leal considera a dissimulação uma espécie de traição, orgulha-se mais de ser firme do que sagaz e se encontra sempre do lado da verdade. Se diverge dos outros, não é devido a algum capricho seu, mas porque os outros abandonaram a verdade.”

“Sócrates repetia que julgava sua tarefa cumprida, logo que as suas exortações tinham despertado suficientemente na alma de uma pessoa o desejo de conhecer e abraçar a virtude. Quando se está firmemente convencido de que nada vale a satisfação de ser um homem honesto, não há acreditava ele, muito mais que aprender.”

Entretanto, o que tem de mais fácil em toda essa questão é identificar a hipocrisia nos outros, o difícil é reconhecê-la em nós mesmos.

Boa sorte a (nós) todos.

Mont Blanc/FRA, 11 de junho de 2009.

José Anastácio de Sousa Aguiar

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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