A coluna de hoje remete à recorrente questão do fim dos tempos. É bem verdade que esse tema tem magnetizado pessoas de várias épocas e criado, em muitas das vezes, situações inusitadas. Datas como os anos 1000 e 2000 proporcionaram campo fértil a várias teorias apocalípticas.
Em que pese questões de futurologia não serem exatamente o cerne da filosofia, esta coluna não tem qualquer pretensão de rigidez acadêmica. Lancemo-nos, então, ao desconhecido.
Recentemente tem circulado na internet e nas televisões a cabo um conjunto de previsões por demais interessantes. Dentre tantas, destaco as previsões do calendário do povo maia. Não que esteja desprezando as interpretações das palavras de Nostradamus, Merlin ou das Sibilas, por exemplo, mas os maias foram os únicos a apresentar data precisa.
Para quem desconhece o assunto, lembro que o calendário maia via a vida do ser humano e da própria terra como um ciclo, e não, como gostamos de imaginar nós ocidentais, de forma linear. Sendo assim, associavam eventos acontecidos e prediziam outros do porvir. O final do calendário indica a data de 21 de dezembro de 2012. Alguns entendem isso como o fim dos tempos, penso diferente, creio que o fim do calendário possa significar apenas o começo de um outro, entretanto não discordo que fins de ciclos normalmente são tempos de mudança. Quem viver, verá.
Em assim sendo, esperemos 2012, deleitando-nos com os poemas de Fernando Pessoa, extraído do Livro do Desassossego:
"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são, os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem, os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cômodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais, nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."
Boa sorte a (nós) todos.
Eusébio/CE, 11 de agosto de 2008.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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