Algo que me parece em desuso hodiernamente e que já foi motivo de orgulho de movimentos, tais como o Iluminismo, e nações, como a Grécia Antiga, é a rara arte de pensar com independência.
Em tempos de massificação televisiva e do apogeu da cultura do besteirol, tornamo-nos órfãos do discernimento e, em conseqüência, reféns da cultura de massa.
Recorro nesses momentos a um gênio do livre pensar, que impôs sua coerência e brilhantismo enquanto por aqui esteve. Seu nome é Espinoza, Baruch de Espinoza. Mas, afinal, quem é Espinoza?
Bento ou Baruch de Espinoza nasceu em 24 de novembro de 1632, em Amsterdã, em uma família de judeus de origem portuguesa, fugida da península ibérica, em razão da perseguição religiosa conduzida pelos reis católicos da Espanha e pelo rei de Portugal.
Inicialmente, educado na comunidade judaica, Espinoza passou a questionar dogmas e tradições, o que o levou a ser expulso da convivência dos seus irmãos judeus e perseguido pelas autoridades protestantes, em razão de suas opiniões supostamente contrárias a Deus, ditas, heréticas. Sua suposta heresia nada mais era do que a total aversão à manipulação dos seres humanos, baseada sob qualquer pretexto, seja funcional, social ou religioso.
Viveu praticamente recluso durante boa parte de sua vida, dedicando-se aos seus pensamentos e aos poucos amigos. Satisfazia suas limitadas necessidades como polidor de lentes, arte que aprendera em seus tempos rabínicos. Para não comprometer sua independência especulativa e sua paz, recusou pensão vitalícia e convite a uma cátedra na universidade de Heidelberg, que lhe propusera Carlos Ludovico.
Espinoza assevera que o homem deve buscar a Deus, por meio da razão intuitiva e espiritual e assim chegar à Verdade. Talvez possa resumir a Ética espinozista com a seguinte idéia - compreender o universo é estar libertado dele, compreender tudo é estar livre de tudo, pois só tememos o que não conhecemos e só amamos o que conhecemos. Por certo, suas idéias não seriam tão robustas se ele não as tivesse vivido plenamente em seus 44 anos.
Se seus escritos o transformaram em um dos maiores filósofos da humanidade, sua vida o elevou à categoria dos grandes mestres. Muitas décadas depois de sua morte, por ocasião da inauguração de um monumento em sua homenagem em Haia, foi dito: "Eis aqui o homem que teve a mais profunda visão de Deus". Assim se manifestava sobre as coisas que realmente importavam: "A tranqüilidade interior é, na realidade, o bem supremo que podemos almejar". A sua breve vida lembra-me Goethe: "O que passou, passou, mas o que passou luzindo resplandecerá para sempre".
Boa sorte a (nós) todos.
Eusébio/CE, 11 de julho de 2008.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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