“A vida feliz consiste na tranquilidade da mente.” (Cícero)
Nesses dias de crise internacional de crédito, têm circulado na internet várias reportagens sobre brasileiros retornando para sua terra natal em razão da falta de emprego em outros países e também alguns em situações de penúria sem poder voltar por falta de dinheiro. Neste último caso, pude ler uma coluna que citava alguns brasileiros sem-teto no Japão e o que me chamou a atenção foi uma das principais reclamações dos entrevistados, que sofriam mais pela solidão e abandono, do que pela própria situação em si.
Talvez seja esse o verdadeiro mal dos séculos XX e XXI. A ênfase dada no consumismo parece ter criado a falsa expectativa de que a modernidade e seus bens de consumo por si só trazem a felicidade. Um público especialmente vulnerável a esse tipo de influência é o jovem, que por meio da sua ânsia insaciável pelo superlativo, talvez para obter reconhecimento do grupo e da sociedade, torna-se presa fácil do niilismo radical.
Nesse contexto, a principal representação do sucesso do consumismo, sem dúvida, é o shopping center. Pensado inicialmente para ser um centro de lazer, segurança e conforto da classe média, passou em pouco tempo a ser a Bora-Bora do viciado em compra, no qual o mais bem sucedido é aquele que tem o primeiro, o mais caro, seja lá o que for.
A toda evidência, passa a ser realidade no inconsciente coletivo a associação entre felicidade e status financeiro, relegando a um plano secundário o equilíbrio espiritual. Em assim sendo, aqueles que por qualquer razão, mesmo que independente da sua vontade, como no caso dos brasileiros no Japão, não tenham alcançado o “sucesso”, são excluídos da sociedade e passam a ter sentimentos associados à incapacidade e insegurança, o que invariavelmente gera solidão e tristeza.
Talvez seja por isso que os ingleses, normalmente, ao serem indagados com a pergunta: Como você está? (How are you?), respondem invariavelmente: Não tão ruim (Not too bad).
“É fácil ganhar dinheiro, se é dinheiro que você deseja. No entanto, com poucas exceções, o que as pessoas querem não é o dinheiro. Querem o fausto, querem amor e admiração.” (John Steinbeck)
Boa sorte a (nós) todos.
Londres (RU), 05 de dezembro de 2008.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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