No bojo das questões que envolvem a disputa da reserva Raposa Serra do Sol, li uma reportagem na qual um índio asseverava que a solução do conflito passaria pelo reconhecimento de que todos nós precisamos do outro para viver. A frase, apesar de simples, traz no seu bojo questões de grande profundidade, em especial um conceito há muito esquecido, a noção de cooperação.
A educação clássica ocidental privilegia a competição em detrimento da cooperação. A nossa educação baseia-se no desenvolvimento de habilidades para superação de obstáculos. A competição é sempre externa, os limites a serem ultrapassados são cada vez mais altos e inatingíveis.
A cooperação, por seu turno, há muito não faz parte das prioridades cotidianas, e um dos exemplos mais cabais é o esporte. Em sua quase totalidade as práticas desportivas objetivam a derrota do adversário, ou, até também chamado inimigo. O vencedor é aquele que superou o oponente, muitas vezes sendo aceitável a utilização de qualquer meio, lícito ou ilícito. O ganhador é sempre solitário...
A única rara exceção esportiva que me vem à memória é o frescobol, jogo no qual vencem ambos os jogadores ao manterem a bolinha em jogo. Cada um dos dois jogadores está sempre pronto a facilitar a jogada do companheiro, o que manterá a continuidade da partida. Os participantes são sempre ganhadores e solidários.
Sem dúvida o atual estado competitivo já dá sinais de esgotamento. A exploração desenfreada dos recursos disponíveis, fomentada pela competitividade, já desestabilizou o nosso planeta. A mãe natureza há muito já envia seus sinais sobre o esgotamento dos recursos naturais, entretanto nada parece ser capaz de causar uma reflexão na humanidade.
Talvez o índio tenha muito mais ainda a nos ensinar.
Boa sorte a (nós) todos.
Lisboa/PO, 12 de dezembro de 2008.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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