Quando um casal heterossexual deseja a gravidez e tem uma vida sexual ativa sem uso de contraceptivos, mas ela não acontece depois de 12 meses de tentativas, é possível investigar se há alguma condição, doença ou comportamento que esteja afetando a fertilidade. Tanto o homem como a mulher precisam ser examinados.
“Cerca de 40% dos casos de infertilidade no casal são devido a problemas masculinos, 40% a problemas femininos, 10% dos casos são atribuídos aos dois e 10% sem causa aparente”, afirma Maurício Chehin, especialista em reprodução assistida da Huntington Medicina Reprodutiva e coordenador científico do Grupo Huntington.
Um exame simples para examinar a fertilidade masculina é o espermograma, que analisa o sêmen para avaliar concentração, motilidade e morfologia dos espermatozoides, entre outros aspectos. A pesquisa pode ser aprofundada com exames complementares, como os que avaliam dosagens hormonais, os que investigam se há alguma doença e os que buscam causas genéticas. “É uma avaliação que considera múltiplos aspectos”, explica Chehin.
O urologista Jorge Hallak, coordenador do Grupo de Estudos em Saúde Masculina do Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP), alerta que há um abuso da indicação das técnicas de reprodução assistida, de custo e risco mais altos. Na sua visão, é preciso avaliar e cuidar da saúde do homem como um todo para que ele possa, se possível, ter um filho pelo processo natural. “Não dá para pegar um simples espermograma e dizer que um homem deve recorrer a um método de fertilização in vitro”, ensina.
Veja a seguir algumas condições e comportamentos do homem que podem ter impacto na fertilidade masculina e dificultar os planos de família do casal.
Varicocele
Principal causadora da infertilidade masculina, a varicocele é caracterizada pela dilatação das veias dos testículos, semelhante às varizes que aparecem nas pernas. Geralmente ela avança silenciosamente, sem sintomas, até que esteja grave. O problema de circulação sanguínea no local pode comprometer não só a formação de espermatozoides como afetar os testículos.
Quanto antes a doença puder ser tratada, melhor. Por isso é recomendável que o homem consulte um urologista periodicamente desde a adolescência.
Diagnosticada a doença, a partir de exame físico em consultório de urologista e talvez um exame de imagem com ultrassom com doppler, é recomendada uma cirurgia de correção, não só para eliminar uma possível causa de infertilidade, mas para evitar complicações da doença.
Covid-19 e outras doenças
O vírus da covid-19 também pode infectar os testículos e prejudicar a capacidade masculina de produzir espermatozoides e hormônios, mesmo quando o quadro é leve ou assintomático, afirma o urologista Jorge Hallak, um dos participantes do estudo realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) e no Instituto Androscience.
Vacinas contra a covid-19 não interferem na fertilidade, segundo estudos do American Journal of Epidemiology, que analisou os imunizantes da Pfizer-BioNTech, Moderna e Janssen. Doenças sexualmente transmissíveis (DST), doenças infecciosas, como a caxumba, e crônicas como diabete também podem prejudicar a fertilidade nos homens.
Sobrepeso e obesidade
O sobrepeso e a obesidade podem provocar um desbalanço hormonal no homem capaz de prejudicar a produção de espermatozoides. Além disso, o acúmulo de gordura na região do púbis pode aumentar a temperatura do testículo, o que pode influenciar negativamente na produção de células sexuais.
Uso de anabolizantes e medicamentos
Consumidos com o objetivo de melhorar a aparência e desempenho do corpo, os anabolizantes são hormônios sintéticos derivados principalmente do hormônio sexual testosterona. O uso de anabolizantes pode provocar uma forte queda na produção de espermatozoides. “Pode levar à azoospermia, que é a ausência de espermatozoides no sêmen. Mas, ao parar o consumo, há grande chance de se recuperar a produção no período de 3 a 6 meses”, adianta Chehin.
Poluição
A poluição atmosférica influencia negativamente na morfologia e motilidade dos espermatozoides, segundo pesquisa conduzida por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Plástico aquecido no microondas
Aquecer uma embalagem ou copo de plástico com uma bebida ou um alimento é uma péssima ideia, já que há liberação de bisfenol (BPA), um disruptor endócrino que causa alterações hormonais que podem interferir na fertilidade masculina. Portanto, nada de colocar a comida do delivery direto no micro-ondas.
Falta (ou excesso) de sono
Fundamental para o bom funcionamento dos mecanismos fisiológicos do corpo, o sono tem associação com a fertilidade masculina. Tanto o excesso como a privação de sono podem ter impacto, de acordo com uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Boston, que aponta que o tempo ideal de descanso fica entre 7 e 8 horas por noite. Quando o período de sono for menor ou maior que esse intervalo, o estudo apontou 42% de redução na possibilidade de concepção.
Álcool e cigarro
Outros fatores que podem contribuir para a infertilidade masculina relacionados ao estilo de vida é o consumo excessivo de álcool e o hábito de fumar. O impacto não é só na produção de espermatozoides, como na integridade do DNA dos espermatozoides, o que dificulta o processo de fertilização e diminui a chance de formar um embrião. Isso não significa que o álcool esteja proibido, pois estudos mostram que o consumo moderado não é prejudicial para a fertilidade masculina.
Longos períodos na banheira quente e na sauna
Não é à toa que os testículos se encontram “pendurados”: a formação de espermatozoides exige uma temperatura mais baixa do que a temperatura corporal. Portanto, qualquer aumento de temperatura na região escrotal que seja mantido por longos períodos, como banhos demorados de imersão e sauna, podem atrapalhar esse processo, embora sejam raros. Roupas apertadas ou com tecidos sintéticos que elevem a temperatura da bolsa escrotal também são prejudiciais.
Problemas genéticos
Existem diversas doenças genéticas associadas à infertilidade masculina, mas essa é uma causa menos comum do problema. Um exemplo é a síndrome de Klinefelter, em que o homem tem um cromossomo X a mais, o que acarreta em deficiência de produção de hormônio testosterona e impossibilita a espermatogênese normal.
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