A decisão do Ministério da Saúde de iniciar nesta quinta-feira, 23, uma consulta pública para colher opiniões sobre a vacinação infantil contra covid-19 no País mesmo depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter autorizado a imunização na faixa etária de 5 a 11 anos é criticada por especialistas. Na visão deles, a consulta serve apenas para atrasar a aplicação das doses, uma vez que não foi adotada em outros momentos da pandemia.
A vacinação de crianças de 5 a 11 anos com doses pediátricas da Pfizer foi aprovada pela Anvisa na quinta-feira passada, seguindo o que já havia sido feito por autoridades sanitárias dos Estados Unidos e da União Europeia há mais de um mês. Além da Anvisa, a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), órgão consultivo do próprio Ministério da Saúde, disse ser favorável à vacinação infantil. Estudos já mostraram que o uso do imunizante nesta faixa etária é seguro e eficaz.
Mesmo assim, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, argumentou ser preciso uma melhor avaliação. “A pressa é inimiga da perfeição”, afirmou ele na segunda-feira, avisando que a pasta só vai ter uma posição sobre a vacinação infantil em 5 de janeiro. Isso porque após o fim da consulta pública, que vai até o dia 2, o ministério pretende realizar uma audiência para analisar as contribuições apresentadas e, só no dia seguinte, anunciar a decisão.
Doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), Natália Pasternak afirmou que a estratégia é comum nos movimentos “anticiência”, buscando desculpas para não agir. “O debate científico já aconteceu e está consolidado, com os órgãos competentes. Não existe justificativa para consulta pública por algo que já foi debatido e é tão importante, que vai proteger as crianças.”
Para a infectologista Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia, a única justificativa para abrir uma consulta pública a essa altura é “criar obstáculos para a vacinação de crianças do Brasil” e manter espaço para negacionistas da vacina. “Estão expondo as nossas crianças ao risco de morrerem de covid, ou de virem a ter síndrome pós-covid, além de manterem a transmissão do coronavírus”, afirmou a médica.
Dados da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da covid-19 mostram que 2.978 diagnósticos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por covid ocorreram em crianças de 5 a 11 anos, com 156 mortes, no ano passado. Já ao longo de 2021, já foram registrados 3.185 casos nessa faixa etária, com 145 mortes, totalizando 6.163 casos e 301 mortes desde o início da pandemia.
Parecer baseado em 'evidências científicas'
Na quarta-feira, após Queiroga ter afirmado que só tinha recebido “um documento de três páginas” da Anvisa, a agência divulgou o Parecer Público de Avaliação de Medicamentos (PPAM), que avalia os benefícios e os riscos para a aprovação da imunização infantil, a partir de informações técnicas colhidas pelos especialistas do órgão.
De acordo com o documento, de 57 páginas, a vacinação às crianças foi autorizada com base “em evidências científicas” que comprovam que a vacina da Pfizer, quando administrada em duas doses, é segura e eficaz na prevenção da covid-19, de doenças graves “potencialmente fatais ou condições que podem ser causadas pelo SARS-CoV-2
Parlamentares vão ao STF protocolar notícia-crime
Crítico da vacinação de crianças, o presidente Jair Bolsonaro defendeu na semana passada a divulgação dos nomes dos servidores da Anvisa que deram aval à imunização infantil, numa declaração que foi vista como intimidação. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) e o secretário de Educação do Rio, Renan Carneiro, protocolaram na quarta-feira no Supremo Tribunal Federal notícia-crime contra Bolsonaro e Queiroga por prevaricação na vacinação de crianças.
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