O laboratório AstraZeneca afirmou nesta terça-feira, 26, que não vai vender vacinas para o setor privado. A informação vem na esteira das notícias sobre uma frente de empresários que afirmava estar negociando 33 milhões de doses com o laboratório, que distribui o imunizante em parceria com a Universidade de Oxford. O movimento foi iniciado por industriais, mas o plano, por ser considerado imcompleto, foi logo descartado por grandes empresas como Vale, Itaú e Vivo, entre outras.
Em nota, a empresa afirmou: "Todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, (...) não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado". No mesmo comunicado, a companhia disse: "Como parte do nosso acordo com a Fiocruz, mais de 100 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca (AZD1222) estarão disponíveis no Brasil, em parceria com o governo federal."
O movimento das empresas, iniciado na semana passada, visava a agilizar a vacinação contra a covid-19 no País. A proposta que circulou em grupos de WhatsApp de empresários desde sexta-feira previa a compra de um mínimo de 11 milhões de doses (de um total supostamente disponível de 33 milhões), por US$ 23,79 a unidade. O valor está muito acima do pago pelo governo, no primeiro lote recebido da Índia, de US$ 5 a unidade.
Enquanto parte do empresariado defendia o uso de 50% dos imunizantes para vacinar funcionários, com a doação da outra metade ao Sistema Único de Saúde (SUS), grandes empresas acreditavam que todo o lote deveria ser destinado ao sistema público. No documento que circulou entre os empresários, não se explicava a origem desse estoque de vacina a ser adquirido.
O comunicado da AstraZeneca vem no mesmo dia da declaração do presidente Jair Bolsonaro, que defendeu, nesta terça-feira, a possibilidade de empresas comprarem vacinas contra covid-19 para vacinarem seus funcionários e repassarem uma parte ao sistema público de saúde. "O governo é favorável a esse grupo de empresários trazer vacina a custo zero pro governo", afirmou Bolsonaro ao participar de evento virtual organizado pelo banco Credit Suisse.
A posição do presidente significa uma mudança de postura do governo em relação ao tema. Em reunião realizada há menos de duas semanas com os ministérios da Saúde, da Casa Civil e das Comunicações, empresas foram informadas de que o governo realizaria toda a imunização e de que não haveria necessidade de ajuda de empresários. À época, o governo disse que teria doses suficientes para vacinar a população e que a compra por empresas seria proibida.
A compra das vacinas pela iniciativa privada, e não pelo governo, levantou questionamentos entre parte do empresariado se a medida não representaria "furar a fila" de vacinação no País. Por enquanto, apenas grupos prioritários, como idosos e profissionais da saúde receberam doses do imunizante. Foi justamente esse ponto da proposta de compra de vacina por empresas que fez grandes empresas “saltarem do barco” no que se refere ao assunto.
Há também dificuldade de governos ao redor do mundo em conseguir comprar mais doses das vacinas já aprovadas por autoridades de saúde. No Brasil, o Ministério da Saúde ainda aguarda a chegada de insumos da China para iniciar a produção da Coronavac, pelo Instituto Butantan, e da vacina de Oxford, pela Fundação Oswaldo Cruz.
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