O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) confirmou nesta terça-feira, 12, a identificação de uma nova linhagem do vírus da covid-19 com origem no Amazonas. Um estudo liderado pelo pesquisador Felipe Naveca, vice-diretor de Pesquisa do instituto, aponta que a nova cepa brasileira é recente, provavelmente surgida entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021.
Denominada provisoriamente de B.1.1.28 (K417N/E484K/N501Y), a variante do SARS-CoV-2 é a que foi identificada recentemente pelo Japão em quatro viajantes (um homem e uma mulher adultos e duas crianças) que retornaram da região amazônica brasileira em 2 de janeiro. O homem chegou a ser hospitalizado, por dificuldades respiratórias, enquanto a mulher e uma das crianças (um menino) tiveram sintomas leves e a menina esteve assintomática.
Por meio da assessoria da Fiocruz Amazônia, Naveca disse acreditar que a mutação não seja a única responsável pela aceleração de casos do novo coronavírus no Estado, embora possa ter influência. “Primeiro, porque a gente não tem certeza se ela está circulando no Amazonas em grande quantidade”, comenta o cientista, que pesquisa variantes do novo coronavírus desde março de 2020.
“Sempre considero que essa situação é multifatorial, a gente tem o início da temporada de vírus respiratórios no Amazonas, que historicamente acontece em meados de novembro em diante, o que a gente chama de inverno amazônico, onde outros vírus respiratórios, como o influenza, também aumentam. Então, a gente tem essa situação sazonal, a variante e a diminuição do distanciamento social”, comenta. “Pode ser que haja sim uma contribuição dessa variante, mas a gente ainda não tem certeza.”
De acordo com o pesquisador, o vírus da covid-19 evolui “até mais lentamente que os outros”. Nesse cenário, a nova variante chama a atenção, pois “acumulou muitas mutações em pouco tempo”, assim como as encontradas no Reino Unido e na África do Sul. “Um recado importante é dizer que o vírus mutante e o original não atravessam a máscara. Não resistem à lavagem das mãos com água e sabão ou com álcool gel. E a transmissão também é evitada com distanciamento social.”
Um levantamento genômico do vírus da covid-19 no Amazonas está sendo realizado pela Fiocruz Amazônia em conjunto com o Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM) e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas. Um dos objetivos é detectar a circulação dessa variante.
Em uma nota técnica, Naveca e outros 21 cientistas ligados ao estudo apontam que a nova linhagem circula na região amazônica brasileira e evoluiu de outras duas variantes encontradas no País, surgindo a partir de uma série de mutações ocorridas entre abril e novembro do ano passado.
Uma dessas mutações anteriores foi a que deu origem à B.1.1.28 (E484K), identificada primeiramente em dezembro no Rio, a qual tinha cinco mutações, incluindo uma na proteína spike (responsável por facilitar a entrada do vírus no organismo humano). A nova variante amazonense tem, por sua vez, 10 mutações na proteína spike.
Segundo a nota técnica, a variante identificada nos japoneses “acumulou um número incomum de alterações genéticas”, assemelhando-se ao padrão observado nas variantes B.1.1.7 e B.1.351, do Reino Unido e da África do Sul. “Se essas mutações conferem alguma vantagem seletiva para a transmissibilidade viral, devemos esperar um aumento da frequência dessas linhagens virais no Brasil e no mundo nos próximos meses”, destaca.
No último fim de semana, o Japão notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre essa nova variante. "Quanto mais a covid-19 se espalha, mais possibilidades há de que continue evoluindo. A transmissibilidade de algumas variantes do vírus parece estar aumentando", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na segunda-feira, 11.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Instituto Evandro Chagas está preparado para o receber amostras para sequenciamento da variante. Em nota, a pasta afirmou ter solicitado informações ao governo japonês, como os locais em que estiveram os viajantes (a fim de fazer o "rastreamento de potenciais contatos"). “O Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), segue monitorando o caso”, conclui o comunicado.
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