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Teresina - Piauí

Veja o depoimento da empresária acusada de escravizar jovem por 15 anos em Teresina

A empresária Danielly Mesquita foi presa acusada de manter a jovem em condição análoga a de escravidão.

O GP1 obteve, com exclusividade, nesta quarta-feira (24), o depoimento da empresária e fisioterapeuta Francisca Danielly Mesquita Medeiros, presa nessa terça (23) acusada de manter uma jovem, atualmente com 27 anos, em cárcere privado e em condição análoga a de escravidão por 15 anos.

À polícia, Danielly Medeiros afirmou que nunca constrangeu, agrediu e maltratou a jovem, que é sua prima, e que a tratava como filha, tendo, inclusive, fotos em redes sociais que comprovavam tal intimidade.


Foto: Reprodução/FacebookFrancisca Danielly Mesquita Medeiros
Francisca Danielly Mesquita Medeiros

Sobre a acusação de que impedia o contato da vítima com os pais, a acusada disse ser uma falácia e que, na verdade, a vítima teria dito, através de áudios a ela, que não queria contato com a mãe e o pai porque "ela tinha medo de ser vendida em Chapadinha em local de prostituição".

Não pagava direitos trabalhistas

Contudo, Danielly admitiu que realmente não pagava as verbas trabalhistas e previdenciárias porque, segundo ela, tinha a vítima como filha, mas que no começo deste ano, conversou com seu contador no sentido de assinar a carteira de trabalho e efetuar todos os pagamentos trabalhistas e previdenciários da jovem.

“Que infelizmente ocorreu o que ocorreu [a prisão] na data de hoje [ontem], atrapalhando os planos da interrogada. Que não compreende as declarações da jovem, pois ela era tratada como filha e que, um dos motivos que trouxe a jovem para ficar sob sua tutela era de protegê-la”, diz trecho do depoimento de Danielly Mesquita.

Empresária fez acusações aos pais da vítima

Danielly Mesquita ainda acusou os pais da jovem de negligenciar a segurança dos filhos. “A interrogada afirma que os pais da jovem colocaram, por diversas vezes, os próprios filhos em situação vexatória, ‘eles eram pessimamente criados, eram as meninas empurradas para a prostituição, enquanto os irmãos tinham problemas com a polícia’”, disse em depoimento.

Função da vítima na casa da empresária

A acusada negou que a vítima cuidasse do seu filho autista e garantiu que havia uma profissional apenas para cuidar dos dois filhos e outra para os serviços domésticos. "A única função relevante dela dentro da minha casa era apenas de companhia", relatou.

Sobre a vida da jovem, Danielly disse que ela tinha uma rotina normal. “Afirma categoricamente que não maltratou, não constrangeu, não torturou, não proibiu de ir e vir, não proibiu de ter vida social e amigos em hipótese nenhuma, inclusive, a jovem tinha namorado. Que normalmente Janaina tinha namorado e que a jovem possuía uma vida social da forma que ela queria, além do mais, viajava com a família, frequentava restaurantes, enfim, tinha uma vida normal como a de qualquer outra pessoa”, relatou.

Em relação ao namorado da jovem, Danielly declarou que ela chegou a dormir na casa dele algumas vezes e reafirmou que nunca tocou na vítima.

Entenda o caso

A empresária e fisioterapeuta Francisca Danielly Mesquita Medeiros foi presa no início da tarde dessa terça-feira (23), acusada de manter uma jovem, atualmente com 27 anos, em cárcere privado e em condição análoga a de escravidão por 15 anos. Danielly Mesquita, que é sócia e uma das diretoras da Cooperativa de Trabalho Empreendedor e Catadores de Materiais Recicláveis do Estado do Piauí (COOTERMAPI), foi presa em casa, no bairro Ilhotas, zona sul de Teresina, durante o cumprimento a um mandado de prisão temporária.

Em entrevista ao GP1 o delegado Odilo Sena, titular do 6º DP, afirmou que a vítima morava em Chapadinha, no interior do estado do Maranhão, quando foi trazida para Teresina aos 12 anos de idade. Nos últimos 15 anos, a vítima permaneceu prestando serviços na casa da acusada, sem qualquer tipo de benefício ou remuneração, e sem acesso à Educação. “Essa é uma situação triste, essa menina foi praticamente raptada aos 12 anos por essa mulher, que é sua prima de segundo grau. A acusada pegou ela prometendo que iria levá-la para passar a Semana Santa em uma fazenda de sua propriedade, na cidade de Afonso Cunha, no Maranhão, só que ela nunca mais voltou. A mãe foi atrás, mas ela ameaçou a mãe, dizendo que iria processar e prendê-la”, contou.

Reencontro com a mãe

Logo após ser resgatada, a jovem reencontrou sua mãe, na sede do 6º Distrito Policial. Um vídeo divulgado pelo GP1 mostrou o momento do reencontro emocionante.

Depoimento da jovem

O GP1 também teve acesso ao depoimento da jovem, na qual ela narra que sofreu os mais diversos tipos de maus-tratos na casa de Danielly Mesquita.

A jovem relatou que 15 anos atrás Danielly Mesquita foi buscá-la em sua casa na zona rural de Chapadinha (MA), afirmando aos seus pais que ela só iria passar o feriado da Semana Santa na sua residência em Teresina e que, depois, retornaria, o que não aconteceu.

Segundo a vítima, Danielly convenceu seus pais a deixá-la morando com ela em Teresina, sob a promessa de que garantiria sua educação, contudo, a jovem nunca teve acesso aos estudos, como prometido.

Cárcere privado

Ainda conforme a jovem, Danielly Mesquita passou a mantê-la em cárcere privado, proibindo-a de ter vida social e amigos e de ter contato com os próprios pais. As únicas vezes que ela era autorizada a sair de casa era para ir ao mercado e levar um dos filhos de Danielly para a escola e para a terapia, em dias de segunda-feira e quarta-feira.

Trabalho análogo à escravidão

A vítima disse ainda que era responsável por todo o trabalho doméstico: limpar a casa, cozinhar, lavar e passar roupas e cuidar dos filhos de Danielly, e que nunca recebeu qualquer dinheiro por isso.

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