O Ministério Público do Estado do Piauí realizou na manhã desta terça-feira (02) um encontro com jornalistas, na sede da instituição, na zona leste de Teresina, a fim de debater o papel da imprensa no combate à violência sexual de crianças e adolescentes. O repórter da TV Globo, Marcelo Canellas, foi convidado e ministrou uma palestra sobre Comunicação e Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.
O procurador-geral de Justiça, Cleandro Moura, conversou com o GP1 e destacou a importância da cautela ao realizar a abordagem do tema pelos meios de comunicação piauienses.
“A palestra aborda as políticas do Ministério Público que dizem respeito tanto à proteção, acolhimento como também à promoção das ações penais, quando essa criança é vítima de violência sexual, inclusive, no ambiente familiar. Marcelo Canellas já faz parte de um comitê que trata deste tema e vem aqui para falar como deve ser abordada essa questão na imprensa. O importante é que a mídia saiba evitar a exposição da criança, como deve ser adotada a melhor forma de apresentar o caso à população e sociedade de uma forma responsável. A nossa intenção é também colher informações de como nós devemos divulgar atuações do Ministério Público, quando envolver casos de violência sexual de crianças e adolescentes”, pontuou Cleandro Moura.
Atuação do Ministério Público
Cleandro Moura ressaltou ainda que o papel do Ministério Público nesses casos tem sido rígido em apurar as responsabilidades e buscar a condenação dos envolvidos em crimes contra as crianças e adolescentes. “Nós buscamos apurar a verdade real, se realmente aconteceu, porque, às vezes, há uma expectativa muito grande, dependendo também da idade da criança. Essa oitiva, seja por qualquer delegado, qualquer autoridade, deve ser realizada com responsabilidade e acompanhada por psicólogo. Da mesma forma a audiência tem que ser feita com equipe especializada, com todos aqueles profissionais que possam contribuir da melhor forma possível. O Ministério Público faz sua parte, trabalhando o tempo todo para que quem cometeu o crime seja condenado.”, ressaltou o procurador-geral Cleandro Moura.
Papel do jornalismo
Para o jornalista e palestrante Marcelo Canellas, o jornalista tem como missão fundamental seguir a Constituição Brasileira e integrar a rede de apoio à criança e ao adolescente, visando proteger, acima de tudo, a integridade dessas vítimas.
“O jornalismo trata das contradições da vida e não tem nada mais contraditório do que a gente desprezar o futuro do nosso país, que são as crianças e a juventude. A constituição brasileira estabelece a infância e a juventude como prioridade absoluta. Portanto, é nosso papel como jornalista integrar essa rede de proteção à criança e ao adolescente. Por isso, que essa discussão e essa interlocução entre o Ministério Público, os movimentos sociais e os jornalistas do Piauí são tão importantes para que a gente trate as notícias relativas a abuso sexual e à violência contra as crianças de maneira que não as revitimize. A linguagem pode carregar preconceito, então a gente precisa encontrar maneiras corretas de ao reverso da corrupção da linguagem, usar a língua, que é a nossa ferramenta, como forma de proteção”, explicou o jornalista.
Marcelo Canellas orientou que a identificação das vítimas e do possível agressor sejam preservadas durante divulgação pela mídia, mas ponderou que se o envolvido for uma pessoa pública, é necessário que haja um posicionamento por parte do acusado. “Um meio publicar um inquérito de abuso sexual com os nomes das crianças e expondo completamente todos os integrantes desse inquérito policial é, além de uma forma completamente equivocada de lidar com o caso, demonstra uma revitimização sucessiva das crianças envolvidas num caso como esse. Então, esse é o tipo de cuidado que inclui questão ética fundamental, da responsabilidade que nós temos pela vida das outras pessoas. Em relação à pessoa pública, você precisa fazer a investigação jornalística, checagem necessária e, uma vez comprovada pela investigação e checagem com as fontes de que aquele suspeito realmente está envolvido e que se trata de uma pessoa púbica, é justa que a notícia seja veiculada com a identificação dessa pessoa e com a preservação da identidade da criança. Se existe uma acusação, essa pessoa precisa se defender e a reportagem precisa contemplar isso”, frisou o jornalista.
Marcelo Canellas ressaltou ainda que o jornalismo em si tem como uma das suas principais virtudes a proteção da vítima. “A forma de fazer jornalismo é uma só. É buscar conexão entre causa e consequência, ouvir o contraditório, dar o contexto e proteger a vítima. Isso é absolutamente fundamental”, completou Marcelo Canellas.
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