Uma tragédia familiar fez surgir um projeto social voltado para crianças da zona leste de Teresina. No dia o Davi Henrique, morreu afogado dentro de um balde com água. Tudo ocorreu quando o pai, Monteiro Silva, estava no comércio da família, com os dois filhos: Mariana hoje com 22 anos e o pequeno Davi. No fatídico dia, o pai viu quando os dois filhos foram para dentro de casa já que o estabelecimento era anexo a residência. Minutos depois, apenas a menina retornou para o estabelecimento, momento em que Monteiro percebeu a ausência de Davi.
Ao procurá-lo, o pai logo se atentou para o perigo. Ao chegar no quintal de casa, viu a cena mais dolorosa de sua vida, o filho já sem vida dentro do recipiente. Desde então, familiares e amigos passaram a compartilhar o mesmo sentimento de dor e desespero.
“Quando a gente passa por uma tragédia dessas, pensa que não vai resistir. A gente só sabe o quanto ama um filho e o quanto eles são importantes em nossas vidas, quando perdemos. Se não tiver Deus, você não resiste e foi a fé que nos fez resistir e continuar a vida. Dói muito perder um filho, é algo insuportável. Mas, hoje mantemos esse projeto como uma forma de termos o Davi vivo em nossas vidas, além de podermos ajudar a quem precisa e trazer alegria para muitas crianças”, disse Monteiro, pai de Davi, ao relembrar a tragédia.
Comunidade amiga
Comovidos com a fatalidade e com a dor da família, os moradores do bairro Planalto Uruguai resolveram se unir e homenageá-los com a realização de um evento batizado como com nome de: “Maratona Davi Henrique”.
- Foto: GP1Corrida do Instituto Davi Henrique
No primeiro ano, a maratona contou com a participação de apenas cinquenta crianças, número que ampliou ao longo desses quase 20 anos. Nas edições seguintes, Monteiro e a esposa, a professora Socorro Monteiro, se encarregaram da organização e realização do evento.
No ano passado, a corrida teve a participação de aproximadamente 500 baixinhos. “São quase 20 anos de muita luta, não foi fácil conseguir chegar até aqui. Foram anos difíceis, de batalhar, de correr atrás, de buscar patrocínio. Mas, estamos firmes”, disse Monteiro, pai do menino Davi Henrique.
A corrida Davi Henrique começou premiando os pequenos maratonistas com medalhas e presentes simbólicos. Tradicionalmente realizada no dia 12 de outubro, Dia da Crianças, hoje a maratona conta com a participação de mais de dois mil pequenos.
“De lá pra cá conseguimos o apoio de muitos colaboradores que nos ajudam a realizar o evento. Nós começamos a melhorar as premiações, agora tem várias atividades culturais com música, brincadeiras lúdicas, dança. Além de serviços como corte de cabelos, expedição de documentos, enfim, é um dia todo voltado pra criançada”, disse Monteiro.
Mais apoio
Especificamente este ano, a Maratona Davi Henrique não será realizada devido à falta maior de apoio, o que acabou inviabilizando o evento que demanda tempo para ser organizado.
“A realização de uma atividade dessa demanda muito tempo, no mínimo seis meses antes da data. Apesar de já contarmos com ajuda de alguns apoiadores, a cada ano é preciso ampliar, pois a demanda vem crescendo ao passar dos anos. Por conta disso, esse ano não faremos a corrida em outubro. Mas, em dezembro, estamos planejando fazer uma atividade mais simples para a meninada. Estamos amadurecendo essa possibilidade e acredito que vai dar certo”, explicou o organizador.
Davi virou ONG
Devido ao crescimento e o alcance da atividade, há três anos foi criada a ONG Davi Henrique que hoje, em parceria com várias instituições, promove cursos de capacitação voltados para sociedade.
“Ao passar dos anos, nós vimos a necessidade de criarmos a ONG e hoje, em parceria com Senac, Sebrae, Fundação Wall Ferraz, oferecemos vários cursos de qualificação para a sociedade. Esses cursos são em vários segmentos, aula de violão, corte, costura, enfim, é uma ação de grande abrangência. O Instituto Davi Henrique traz várias oportunidades aquelas pessoas atendidas por ele”, disse Monteiro.
Descentralizando
Monteiro adiantou ao GP1 que faz parte dos planos da ONG descentralizar esses serviços para outras regiões da cidade. “A gente vai tentar, futuramente, levar esses serviços para outras zonas da Capital. Essa seria uma maneira de atender mais gente que não tem como ser atendida pela Instituição. O que nos conforta é saber que, de maneira indireta, o Davi Henrique continua dando frutos, mesmo não estando de corpo presente”, disse o pai, emocionado.
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