Desde o seu lançamento, em novembro de 2020, o Pix caiu no gosto dos brasileiros. Dados do Banco Central mostram que houve 1,1 bilhão de transações financeiras via Pix somente em fevereiro de 2022, quando 408,6 milhões de chaves estavam ativas no Brasil.
Se o Pix se solidificou como um caminho para os pagamentos à vista sem a necessidade de um cartão de débito, agora uma nova função tenta oferecer uma alternativa também aos cartões de crédito. Trata-se do Pix parcelado – ou Pix Garantido, como a função foi nomeada pelo Banco Central.
Essa opção permite o parcelamento das compras junto aos comerciantes, com o mesmo mecanismo de segurança utilizado nos pagamentos instantâneos à vista.
A previsão do BC é que a funcionalidade esteja disponível no segundo semestre de 2022. Enquanto isso, algumas instituições financeiras entraram na corrida e já liberaram o parcelamento dos pagamentos via Pix.
O Santander é o primeiro entre os grandes bancos a permitir que seus clientes dividam as compras pelo Pix, com a funcionalidade chamada de “Divide o Pix”. Na hora de efetivar a compra, é necessário ter o valor disponível em conta ou um crédito no valor da transferência, determinando a data de vencimento e o número de parcelas, que pode ser dividida em até 24 vezes.
Para solicitar o parcelamento via Pix, a compra precisa custar ao menos R$ 100; enquanto o valor mínimo da parcela é de R$ 5. No Divide o Pix, além de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), são cobrados juros de 2,09% ao mês e os clientes têm até 59 dias para começar a pagar as parcelas.
As fintechs Picpay e Mercado Pago, plataforma de pagamentos do Mercado Livre, também já começaram a disponibilizar essa opção aos clientes. No Picpay, os usuários podem parcelar as compras pelo “Pix com Cartão” em até 12 vezes. As taxas cobradas são de 3,99% por parcela, além de IOF.
Já no Mercado Pago, a divisão dos valores com o “QR Pix” só pode ser feita pelos clientes que têm a linha de empréstimo pessoal disponível. Nesses casos, é possível parcelar o Pix em até 12x, com a incidência de juros de 2,5% ao mês e IOF.
Melhor que o cartão de crédito?
Enquanto o pagamento à vista via Pix entrou forte na briga com o TED e o DOC, a concorrência com o parcelamento das compras do cartão de crédito vai ser um pouco mais acirrada, já que sobre ambos incidem as taxas de juros.
Carlos Netto, CEO da Matera, afirma que a nova funcionalidade do Pix está sendo desenhada para ser mais vantajosa que os cartões, mas salienta que ainda é preciso ver como o mercado vai desenvolver esses produtos. “Quem tem cartão e puder comprar um produto por 10 parcelas de R$ 100 não vai querer pagar 10 parcelas de R$ 105 no Pix parcelado. Se o mercado lançar um produto que gere parcelas mais caras, isso vai servir apenas para o usuário que não tem cartão de crédito e aí, neste caso, não vai ser um baque. Mas há chance do Pix parcelado gerar parcelas com o mesmo valor das parcelas de um cartão de crédito e ainda gerar mais benefícios para o pagador, como mais milhas, por exemplo”, afirma.
Carlos Castro, planejador financeiro CPF da Associação Brasileiro de Planejadores Financeiros (Planejar), explica que o Pix parcelado funciona nos moldes da modalidade de crédito pessoal – uma opção de empréstimo para pessoas físicas oferecida por bancos e instituições financeiras.
Nela, não é preciso comunicar o uso do valor solicitado, apenas negociar o número de parcelas e as taxas de juros, que costumam ser pré-fixadas e menores do que aquelas que incidem no cartão de crédito ou cheque especial, por exemplo.
Naturalmente, quando for possível parcelar sem juros, o cartão de crédito ainda vale a pena. Mas, segundo Castro, para quem precisa recorrer ao parcelamento das faturas ou ao crédito rotativo, o Pix parcelado pode ser uma alternativa para pagar juros menores.
“No cartão, quando não se paga a fatura inteira, paga o mínimo, vai parcelando o restante e incide o maior juro que temos hoje. Se o consumidor precisa rparcelar a fatura porque não tem o dinheiro disponível, entre parcelar no cartão de crédito ou parcelar no pix vale mais a pena usar o pix, que tem juros menores”, diz.
Para Fabrizio Gueratto, especialista em investimentos, professor de MBA em Finanças e colunista do E-Investidor, não há dúvida: podendo evitar o cartão de crédito, evite. “O grande vilão do endividamento do Brasil é o cartão de crédito. E não por acaso eles têm as maiores taxas de juros, variando entre 10% ou 15% ao mês. Não tem nada pior do que o cartão de crédito, então tudo que vem depois é no mínimo menos pior. E o Pix parcelado entra justamente nesse lugar”.
O ideal é fugir dos parcelamentos, mas, precisando, o Pix parcelado surge como uma opção melhor, já que possui taxas de juros menores. Isso porque as transações via Pix eliminam os intermediários, como as bandeiras dos cartões, o que reduz o custo das operações, explica Gueratto.
Cuidado com os juros
Apesar da facilidade na aquisição do crédito, é preciso ponderar se o parcelamento é a melhor opção, já que, com as taxas cobradas, o valor final pago pelo consumidor tende a aumentar. “O consumidor deve ficar atento aos juros, já que a taxa Selic, que influencia o custo do crédito, está subindo. Então é preciso sempre tomar cuidado, só parcelar se não tiver outra opção e evitar utilizar crédito para financiar o consumo”, alerta Carlos Castro, da Planejar.
Carlos Netto, da Matera, acrescenta que o consumidor deve avaliar se o pagamento daquelas parcelas não vai comprometer sua saúde financeira, independentemente da forma de pagamento. Depois, é preciso calcular qual das opções de pagamento – o cartão de crédito ou o Pix parcelado – vai gerar o menor valor a partir da soma das parcelas.
“O consumidor não pode escolher entre cartão ou Pix só olhando a taxa de juros. Mesmo que o Pix parcelado tenha algum juro, o fato de o lojista receber à vista (da instituição financeira) pode gerar um desconto que compensa o custo financeiro. Se este desconto compensar o juro no Pix parcelado, é um bom negócio. No final das contas, o que interessa é a soma do valor das parcelas que o consumidor vai pagar”, afirma.
Graziela Fortunato, especialista em finanças pessoais e coordenadora do MBA em Finanças Corporativas na PUC-Rio, reforça ainda que o consumidor fique atento ao seu saldo bancário nas datas programadas para as parcelas. “Se não tiver saldo, o valor será debitado mesmo assim, submetido a uma taxa de juros do banco que realizou o pagamento. E essas taxas não estão definidas e claras para todos”, alerta.
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