As pesquisadoras Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna foram laureadas na manhã desta quarta-feira, 7, com o Prêmio Nobel de Química por seus trabalhos pelo “desenvolvimento de métodos para editar o genoma”. O secretário geral da Academia Real de Ciências da Suécia, Göran Hansson, resumiu as descobertas como a “reescrita do código da vida”.
A dupla da França e dos Estados Unidos recebeu o prêmio pela descoberta, como definiu o comitê do prêmio, de “uma das ferramentas mais afiadas da tecnologia genética: a tesoura genética CRISPR / Cas9”. Segundo a academia, a partir dessa ferramenta hoje é “possível alterar o DNA de animais, plantas e microrganismos com extrema precisão”.
- Foto: DivulgaçãoEmmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna
O trabalho é considerado revolucionário ao abrir caminho para novas terapias contra cânceres, assim como “pode tornar realidade o sonho de curar doenças hereditárias”, aponta o comitê.
“Há um poder enorme nessa ferramenta genética, que afeta a todos nós. Não só revolucionou a ciência básica, mas também resultou em colheitas inovadoras e levará a novos tratamentos médicos inovadores”, disse Claes Gustafsson, presidente do Comitê do Nobel de Química, durante a apresentação do prêmio.
Segundo ele, essa “tesoura genética” transformou a ciência molecular. “Hoje podemos editar basicamente qualquer genoma e responder todos os tipos de perguntas. E isso pode ser usado para corrigir falhas genéticas, como a que causa anemia falciforme. Você pode praticamente tirar a célula hematopoética, consertar e voltar para o paciente”, explicou.
"Fiquei muito emocionada, muito surpresa, parece que não é real", afirmou Emmanuelle Charpentier, em participação na coletiva, com a voz embargada.
Saiba quem foram os premiados em anos anteriores
Prêmio Nobel de Química 2019: John Goodenough, da Alemanha e naturalizado americano, M. Stanley Whittingham, do Reino Unido e naturalizado americano, e Akira Yoshino, do Japão
Em 2019, os pesquisadores John Goodenough, nascido na Alemanha e naturalizado americano, M. Stanley Whittingham, nascido no Reino Unido e naturalizado americano, e Akira Yoshino, japonês, foram laureados pelo desenvolvimento das baterias de lítio. O trio criou "mundo recarregável", nas palavras do comitê do Prêmio Nobel.
Prêmio Nobel de Química 2018: Frances H. Arnold, George P. Smith, ambos dos Estados Unidos, Gregory P. Winter, do Reino Unido
Em 2018, Frances H. Arnold, nascida nos Estados Unidos, levou o prêmio por uma invenção conhecida como evolução dirigida de enzimas. Ela dividiu a honraria com o americano George P. Smith e o britânico sir Gregory P. Winter, laureados pelo pioneirismo no desenvolvimento de uma técnica conhecida como “phage display”.
Prêmio Nobel de Química 2017: Jacques Dubochet, da Suíça, Joachim Frank, da Alemanha, e Richard Henderson, da Escócia
Em 2017, o prêmio foi dividido entre o suíço Jacques Dubochet, o alemão Joachim Frank e o escocês Richard Henderson. Eles se destacaram pelo desenvolvimento de métodos de microscopia que revolucionaram a bioquímica utilizando temperaturas muito baixas.
Prêmio Nobel de Química 2016: Jean-Pierre Sauvage, da França, J. Fraser Stoddart, do Reino Unido, e Bernard L. Feringa, da Holanda
O prêmio de 2016 foi compartilhado pelo francês Jean-Pierre Sauvage, o britânico sir J. Fraser Stoddart e o holandês Bernard L. Feringa por seus trabalhos no design e síntese de máquinas moleculares.
Prêmio Nobel de Química 2015: Tomas Lindahl, da Suécia, Paul Modrich, dos Estados Unidos, Aziz Sancar, da Turquia
Em 2015, o prêmio foi para o sueco Tomas Lindahl, o americano Paul Modrich e o turco Aziz Sancar por seus estudos sobre reparação do DNA danificado.
Prêmio Nobel de Química 2014: Eric Betzig, William E. Moerner, ambos dos Estados Unidos, e Stefan W. Hell, da Romênia
A edição de 2014 do Prêmio Nobel de Química laureou o americano Eric Betzig, o romeno Stefan W. Hell e o americano William E. Moerner pelo desenvolvimento da microscopia de fluorescência de super-resolução.
Prêmio Nobel de Química 2013: Martin Karplus, da Áustria, Michael Levitt, da África do Sul, e Arieh Warshel, de Israel
O prêmio de 2013 foi concedido ao austríaco Martin Karplus, ao sul-africano Michael Levitt e ao israelense Arieh Warshel pelo desenvolvimento de modelos multiescala para sistemas químicos complexos.
Prêmio Nobel de Química 2012: Robert J. Lefkowitz e Brian K. Kobilka, ambos dos Estados Unidos
Em 2012, os americanos Robert J. Lefkowitz e Brian K. Kobilka foram premiados pelos estudos sobre os receptores acoplados a proteínas G.
Prêmio Nobel de Química 2011: Dan Shechtman, de Israel
A edição de 2011 premiou o israelense Dan Shechtman por seu trabalho com semicristais.
Prêmio Nobel de Química 2010: Richard F. Heck, dos Estados Unidos, Ei-ichi Negishi, da China, Akira Suzuki, do Japão
Em 2010, o prêmio foi entregue ao americano Richard F. Heck, ao chinês Ei-ichi Negishi e ao japonês Akira Suzuki pelo catalisador de paládio de acoplamento cruzado em sínteses orgânicas.
Prêmio Nobel de Química 2009: Venkatraman Ramakrishnan, da Índia, Thomas A. Steitz, dos Estados Unidos, e Ada E. Yonath, de Israel
O prêmio de 2009 foi concedido ao indiano Venkatraman Ramakrishnan, ao americano Thomas A. Steitz e à israelense Ada E. Yonath pelos seus estudos sobre a estrutura molecular do ribossomo.
Sobre o Prêmio Nobel
Cada um dos vencedores dos prêmios deste ano, anunciados entre 5 e 12 de outubro, receberá um cheque de dez milhões de coroas suecas (aproximadamente R$ 6,2 milhões) - um valor que não era pago há dez anos. Em 2011, a Fundação Nobel reduziu o valor do prêmio de dez milhões para oito milhões de coroas suecas. Em 2017, a instituição aumentou o valor para nove milhões. Somente este ano voltará ao valor original.
A Fundação Nobel administra os bens de Alfred Nobel, que deixou a maior parte de sua fortuna para a criação do prêmio com o seu nome em testamento feito em Paris, em 1895. Nobel inventou a dinamite em 1866, criação que o tornou rico. A fundação concede os prêmios de medicina, física, química, economia, literatura e paz.
Pela primeira vez desde 1944, a cerimônia de premiação física em 10 de dezembro foi cancelada, por conta da pandemia de covid-19, e substituída por um evento on-line, no qual os laureados receberão os prêmios em seu país de residência. Uma cerimônia ainda está marcada em Oslo para o Prêmio da Paz, mas reduzida ao mínimo.
O tradicional banquete dos prêmios Nobel, celebrado todo ano em dezembro em Estocolmo, na Suécia, também foi cancelado. O banquete do Nobel foi cancelado anteriormente durante as duas guerras mundiais. Também não ocorreu em 1907, 1924 e 1956.
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