O médium João de Deus, preso desde o dia 16, prestou depoimento nesta quarta, 26, no Ministério Público de Goiás, e disse que "não se lembra" das mulheres que o denunciaram por abuso sexual. Durante uma hora e meia, promotores de Justiça o questionaram especificamente sobre três casos - dois de violência sexual mediante fraude e um de estupro de vulnerável. Os promotores leram pausadamente a João de Deus os relatos das mulheres.
"O sr. se lembra disso?", perguntaram ao médium.
"Não, absolutamente isso não acontece, não é verdade", negou João de Deus.
- Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão ConteúdoMédium João de Deus após se entregar à polícia
Cerca de 600 denúncias já chegaram ao Ministério Público, de vítimas de vários estados e de outros países. Ao todo, a Polícia e a Promotoria tomaram o depoimento formal de 78 mulheres.
Indagado sobre os nomes das mulheres que o acusam, o médium disse que "não se lembra".
João de Deus está preso no Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia. Por volta de 10h15 desta quarta ele chegou à Promotoria para depor sob escolta de forte aparato policial.
Antes do depoimento, os promotores deram acesso à defesa aos autos da investigação.
Para o criminalista Alberto Zacharias Toron, que defende o médium, é justificável que ele não se recorde do nome das mulheres que o acusam. "Ele recebia entre 1.000 a 1.500 pessoas todos os dias. Foi perguntado a ele, especificamente, sobre três mulheres. Ele respondeu, logicamente, que não se recordava delas", informou Toron.
"Se você recebe 1500 pessoas por dia e vem uma e fala que em abril ou maio aconteceu isso ou aquilo, por nome é impossível lembrar, obviamente", afirma o criminalista. "Categoricamente, o sr. João negou que tivesse feito qualquer coisa errada."
Segundo Toron, na audiência João de Deus acrescentou que teve um filho por inseminação artificial. Ele disse que o médium "não tem apetite sexual". "Ele se submeteu à operação de câncer, comprovadamente colocou cinco ou seis stents e toma remédio para pressão alta."
João de Deus respondeu a todas as perguntas, segundo Toron. "Queriam saber do funcionamento da casa (Dom Inácio de Loyola). Ele explicou tudo. Foi um depoimento marcado pelo respeito e pela cordialidade. Os promotores foram respeitosos, muito corretos, permitiram que examinássemos os autos, o que até então não havia sido permitido."
Toron disse que "foi preparado para orientar seu cliente a permanecer calado".
"Mas depois que os promotores permitiram que examinássemos os autos e víssemos os depoimentos tomados conversei com ele (João de Deus) para que respondesse às perguntas."
"Não entendo ainda o motivo de manter o sr. João em prisão preventiva, quando bastaria a domiciliar com tornozeleira. Resolveria todo o problema, tudo o que se quer resguardar. Às vezes tenho a impressão que a prisão preventiva é utilizada como espécie de punição antecipada sem processo, numa verdadeira presunção de culpa."
No depoimento desta quarta, 26, os promotores não perguntaram a João de Deus sobre o dinheiro vivo (R$ 1,6 milhão) e nem das armas ocultas em sua casa. À saída da audiência, seu advogado declarou aos jornalistas. "Já posso adiantar que esse dinheiro tem a ver com doações antigas que simplesmente estavam guardadas Como se trata de atividade religiosa entendeu-se que isso não é tributado. Se amanhã entenderem que é tributado, paga-se o tributo. Não existe essa história de atividade ilícita. Inventaram essa história."
O criminalista disse que o próximo passo é aguardar eventual denúncia do Ministério Público, o que deve ocorrer até o dia 30. "Se fosse xadrez, eu diria que é a vez de jogar do Ministério Público."
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