Desembargador Edvaldo Pereira de Moura
Diretor da ESMEPI e Professor da UESPI
Após ser aprovado em concorrido concurso público, integrei, por quase uma década, a Polícia Civil do Piauí, de que me considero um produto espiritual. Ali exerci importantes e honrosos cargos e dela só me afastei, no distante ano de 1977, já como Delegado de Carreira de Classe Especial, para assumir o nobre e ingente cargo de Juiz de Direito da longínqua e inóspita Parnaguá, a segunda Comarca criada no Piauí, berço natal do Marquês de Paranaguá, João da Cunha Lustosa, egresso da Universidade de Olinda, no Estado de Pernambuco e que pelo seu valor moral e jurídico-cultural, ocupou todas as pastas ministeriais do segundo Império.
Na Secretária de Justiça e de Segurança Pública, atuei, sob a orientação e o comando de egrégias e comprometidas autoridades e passei, como Delegado-chefe, por quase todas as delegacias distritais de Teresina, de que guardo imensas e boas recordações. Dentre os secretários com quem trabalhei, destaco o Doutor Raimundo Barbosa Marques que, para mim, foi um dos homens mais dignos que conheci em toda a minha vida.
No Serviço Público, como Delegado de Polícia, foi uma das primeiras pessoas de quem recebi a grata quão imprescindível impressão do significado de eticidade, na vida e no trabalho. Pessoa de trato afável e gentil, sincero, leal, amigo, determinado, honesto e austero, sem ser autoritário, Raimundo Barbosa Marques, na Secretária de Segurança Pública e em todos os lugares em que exerceu parcela de poder, deixou a marca indelével da coragem cívica e da verticalidade moral e funcional.
Sempre que me lembro das pessoas com quem convivi na Polícia Civil do meu Estado, ao longo da minha vida policial, coloco em evidência, com orgulho e indescritível satisfação, o nome de Raimundo Barbosa Marques, pela sua inquebrantável vontade de acertar e de se impor ao respeito dos seus subordinados e da comunidade a que sempre serviu, com desprendimento e zelo inexcedível, sem colocar em segundo plano, outros secretários, como Sebastião da Rocha Leal e Omar dos Santos Rocha.
Por ser apolítico e com sedimentada formação castrense, já que fora capitão da briosa Polícia Militar do Piauí, Raimundo Marques fazia da Secretária de Justiça e Segurança Pública, um lugar de trabalho, sem traumas nem atropelos. O que marcou, no meu entendimento, a passagem desse ilustre Secretário, pela Secretária de Justiça e Segurança Pública do Piauí foi, sem dúvida, além de sua inquestionável e arrojada ação moralizadora, a criação da Polícia Civil de Carreira. Na sua profícua gestão, houve a cisão definitiva com o passado da Polícia Civil do nosso Estado, que vivia sob a égide de um regramento disciplinar bem próximo do que era em 1842, quando Manoel de Souza Martins, o Visconde da Parnaíba, a instituiu.
Foi com o Doutor Raimundo Barbosa Marques, que demos os primeiros passos, firmes e bem definidos, para a existência de uma polícia judiciária mais comprometida com a ação investigativa e mais preparada, cientificamente, para os embates do dia a dia, como a que temos hoje, com agentes, peritos e delegados, devidamente concursados e formados por uma pujante academia, de que me orgulho haver sido um dos seus mestres fundadores.
Como Delegado de Carreira, geri o terceiro Distrito, o sexto Distrito, o segundo Distrito e o primeiro Distrito Policial e, ainda, a Polícia Interestadual do Piauí – POLINTER.
Empenhado em me aprimorar e motivado por todos os secretários com quem trabalhei, participei de vários cursos na Academia Nacional de Polícia, em Brasília, como o de Investigação Policial e Técnica de Interrogatório, Polícia de Repressão a Entorpecentes, ministrado pelo Drug Enforcement Administration – DEA, dos Estados Unidos, dentre outros, representando o meu estado.
A sociedade piauiense, durante o tempo em que permaneci, como Delegado de Polícia, não conviveu com número expressivo, assustador, de infrações penais e as que não puderam ser prevenidas foram quase todas elucidadas. Dentre outras, recordo-me da cognominada Chacina do Posto King ocorrida, em Teresina, na década de 70, em que foram brutalmente assassinados três policiais civis do Piauí e que causou intensa repercussão social, chegando a ultrapassar os limites territoriais do Piauí. Como Delegado de plantão, participei, ativamente, de todas as diligências que culminaram com a elucidação dos fatos e com a prisão, em flagrante, após renhida perseguição policial, do então empresário José Maria Chaves, procurado pela Justiça do Rio Grande do Norte e autor dos disparos que ocasionaram as mortes das vítimas. Como é de sabença geral, três dias depois da mencionada chacina, um policial civil, conhecido pela alcunha de “pé-de-vinvim”, por vingança, assassinou, em seu escritório, o atuante Advogado René dos Santos Pinho.
Registro, igualmente, outras ocorrências graves, de que me recordo: o crime da doméstica, Maria das Mercês, o do carteiro Elzano e o do Capitão Valdécio que, também, repercutiram, intensamente no Piauí e em outros estados.
Por dever de Justiça, não posso deixar de reconhecer, que o êxito do meu trabalho policial, deveu-se ao empenho de todos os que faziam a Polícia Civil do Piauí, máxime dos secretários de segurança da estirpe de Sebastião da Rocha Leal, de Omar dos Santos Rocha e de Raimundo Barbosa Marques e, ainda, de policiais do nível dos coronéis Raimundo Nonato Lopes, Joaquim de Araújo Farias, Antônio Ferreira Filho, Elói Pereira Silva, dos delegados Nilson Cunha e Silva, João Cletor de Souza, dos peritos criminais Delfino Vital da Cunha Araújo, René Piauilino, José Ribamar de Oliveira, Antônio Altamir Barradas, do assessor Júlio César de Carvalho Lima, hoje, combativo Deputado Federal pelo Piauí, do diretor do DPC, Luís Carlos Mousinho, do comissário João Batista Luzardo e do investigador Cristóvão Gonçalves da Costa e muitos outros que, além de se envolverem, diretamente, nas atividades por mim presididas, orientando, cobrando providências e oferecendo o apoio e o estímulo de que necessitava, para que nenhuma dúvida ficasse sem resposta e se desse à sociedade piauiense, a mais sobeja demonstração de seriedade e de compromisso com a instituição a que me dediquei, integralmente, aplaudiam e divulgavam as boas práticas que orientavam a minha ação investigativa.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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