* Por Arthur Teixeira Junior
Júlio lembra o nosso excolega Tenório, que trabalhava na contabilidade e tinha as mesmas características: sempre ocupado. “_ Tenório! Telefone prá você!” gritava um. “_Agora não posso, estou ocupado”, respondia Tenório invariavelmente. “_Tenório, vai um café?”. “_Não posso, estou ocupado”. “_Tenório, me explica...”. “_Não posso, estou ocupado!”. Com o tempo, as pessoas deixaram de falar com ele, que sempre tinha a mesma rotina: chagava cedinho, sentava em sua mesa atrás de uma pilha de pastas e livros, e de lá não levantava nem para ir ao banheiro. Em uma segunda feira de abril, Tenório teve um enfarto fulminante e morreu sentado em sua cadeira. Mas ninguém se deu conta. Só percebemos na sexta feira, já quando um forte odor cadavérico impregnava todo o escritório. Ninguém foi ao enterro de Tenório, estávamos todos ocupados.
Sempre temos um Júlio/Tenório em nossa empresa. Assim como temos aquele funcionário que dedica-se mortalmente às suas tarefas e repentinamente cai em desgraça com a mudança de um diretor ou gerente. É o caso da D. Silvania. Ela era encarregada administrativa, parecia um sargento circulando por todos os cantos da empresa, do subsolo ao telhado, implicando e tudo fiscalizando, corrigindo, palpitando, reclamando. Tinha carta branca da diretoria. Alguns juravam que ela tinha uma irmã gêmea, pois não era possível estar em tantos lugares em tão pouco tempo.
Mudaram a diretoria e D. Silvania caiu no ostracismo. Hoje ela é assessora de assuntos diversos da vice presidência. Passa o dia toda cabisbaixa sentadinha em uma mesa que parece bem menor do que ela. No ano passado ela tirou trinta dias de férias. Só no 20º dia, alguém que trabalha na mesma sala perguntou a um colega: “_Tem visto D. Silvania?” Quando um diretor lhe delega qualquer tarefa, como tirar uma cópia de um papel sem importância, ela sai de sala em sala no segundo andar onde fica, abre porta em porta e esclama para quem está lá dentro:”Agora não posso conversar, estou muito ocupada...? Para espanto de quem ouve, sem nada entender.
O Geraldinho também foi removido. Alguns pássaros estavam fazendo cocô nas antenas de transmissão que ficam na cobertura de nosso prédio. Geraldinho ganhou uma bandeira vermelha e hoje é espantalho de urubus. Estamos todos preocupados, pois Geraldinho está incorporando alguns hábitos estranhos: agora só come grãos e passa dia e noite assoviando. Tememos que ele tente descer do prédio voando e se estabaque aqui no pátio.
Eu continuo no porão deste prédio. Pedi um adicional de insalubridade. Corre um boato que serei transferido para a G-2, a guarita de vigilância que fica na saída do estacionamento. É o preço que pago por estas crônicas.
*Arthur Teixeira Junior é funcionário público
Imagem: Divulgação / GP1Clique para ampliarArthur Teixeira Junior é articulista e escreve para o GP1
Júlio é considerado nosso funcionário padrão. É o primeiro a chegar na empresa, o último a sair. Alguns julgam que ele, na verdade, dorme aqui mesmo. Ninguém sabe direito o que ele faz na organização, talvez nem ele mesmo saiba. Mas o fato é que ele atola-se logo cedo em pilhas e pilhas de papéis e passa o dia todo manuseando-os. As vezes carimba alguns, noutras anota algo ininteligível nas folhas. Por vezes, amassa raivosamente um pobre coitado e atira-o prontamente ao lixo. E assim passa o dia. Está sempre ocupado, não pode atender ninguém.Júlio lembra o nosso excolega Tenório, que trabalhava na contabilidade e tinha as mesmas características: sempre ocupado. “_ Tenório! Telefone prá você!” gritava um. “_Agora não posso, estou ocupado”, respondia Tenório invariavelmente. “_Tenório, vai um café?”. “_Não posso, estou ocupado”. “_Tenório, me explica...”. “_Não posso, estou ocupado!”. Com o tempo, as pessoas deixaram de falar com ele, que sempre tinha a mesma rotina: chagava cedinho, sentava em sua mesa atrás de uma pilha de pastas e livros, e de lá não levantava nem para ir ao banheiro. Em uma segunda feira de abril, Tenório teve um enfarto fulminante e morreu sentado em sua cadeira. Mas ninguém se deu conta. Só percebemos na sexta feira, já quando um forte odor cadavérico impregnava todo o escritório. Ninguém foi ao enterro de Tenório, estávamos todos ocupados.
Sempre temos um Júlio/Tenório em nossa empresa. Assim como temos aquele funcionário que dedica-se mortalmente às suas tarefas e repentinamente cai em desgraça com a mudança de um diretor ou gerente. É o caso da D. Silvania. Ela era encarregada administrativa, parecia um sargento circulando por todos os cantos da empresa, do subsolo ao telhado, implicando e tudo fiscalizando, corrigindo, palpitando, reclamando. Tinha carta branca da diretoria. Alguns juravam que ela tinha uma irmã gêmea, pois não era possível estar em tantos lugares em tão pouco tempo.
Mudaram a diretoria e D. Silvania caiu no ostracismo. Hoje ela é assessora de assuntos diversos da vice presidência. Passa o dia toda cabisbaixa sentadinha em uma mesa que parece bem menor do que ela. No ano passado ela tirou trinta dias de férias. Só no 20º dia, alguém que trabalha na mesma sala perguntou a um colega: “_Tem visto D. Silvania?” Quando um diretor lhe delega qualquer tarefa, como tirar uma cópia de um papel sem importância, ela sai de sala em sala no segundo andar onde fica, abre porta em porta e esclama para quem está lá dentro:”Agora não posso conversar, estou muito ocupada...? Para espanto de quem ouve, sem nada entender.
O Geraldinho também foi removido. Alguns pássaros estavam fazendo cocô nas antenas de transmissão que ficam na cobertura de nosso prédio. Geraldinho ganhou uma bandeira vermelha e hoje é espantalho de urubus. Estamos todos preocupados, pois Geraldinho está incorporando alguns hábitos estranhos: agora só come grãos e passa dia e noite assoviando. Tememos que ele tente descer do prédio voando e se estabaque aqui no pátio.
Eu continuo no porão deste prédio. Pedi um adicional de insalubridade. Corre um boato que serei transferido para a G-2, a guarita de vigilância que fica na saída do estacionamento. É o preço que pago por estas crônicas.
*Arthur Teixeira Junior é funcionário público
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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