*Por Josefina Ferreira Gomes
"É leitores e eleitores,começamos 2012 e nele mais um ano eleitoral cheio daqueles discursos de políticos, cada um mais descabidos e repetidos que o outro. Quem de vocês num já devem ter gargalhado em casa ao assistir o horário humorístico gratuito, digo, o horário eleitoral gratuito? Pois então prepare seu espírito, trabalhe a paciência e aguarde a miscelânea completa de promessas que virão no discurso maldito de cada candidato mal intencionado. Aproveite também para abrir o coração para os bons políticos (raridade no mercado).
Sobre os discursos que ouviremos exaustivamente neste ano eleitoral, leiam este cordel, que por si só já traduz a pornochanchada edição 2012 que se aproxima.
O discurso maldito
Preparem-se eleitores
Para mais uma eleição.
É hora da malandragem,
Da mais pura enganação,
Da corrida desonesta
Dos mestres da corrupção.
Vejam só quantas promessas
Pra ganhar uma eleição:
Prometem cavar açudes,
Dar emprego ao cidadão,
Dentadura pros banguelas,
Pras mulheres ligação.
Na corrida pelo voto
Vale qualquer doação:
Dão enxadas e machados,
Bola e carrinhos de mão;
Dão passagem pra São Paulo
Tijolos pra construção.
Veja um breve discurso
Que o povo pode assistir
Dum político demagogo
Que só presta pra mentir,
Enganar os eleitores,
Prometer e não cumprir.
Já no final de campanha
Bem próximo à eleição,
Candidato aperreado
Com medo da rejeição,
Usa de todas as armas
Pra causar boa impressão.
Foi o que aconteceu
Com um candidato tal;
Desesperado por votos
Deu a cartada final,
Pensando no tudo ou nada
Fez comício na capital.
Chegou cedo pra fazer
Comício de despedida;
Cumprimentando o povo
Distribuindo bebida,
Dizendo: ¬__ou compro votos
Ou a eleição tá perdida.
Ordenou a sua equipe;
__Mais rápido, por favor!
Comecem a comprar votos!
Eu pago qualquer valor;
Tenho dinheiro de sobra
Para comprar eleitor.
__O voto é mercadoria!
Vocês sabem muito bem
Leve a bolsa de dinheiro.
Não se esqueçam de ninguém!
Se pedir cachaça, dê,
Mas dê dinheiro também.
__Compre logo vinte caixas
De cerveja e de cachaça
Distribua para os jovens
Que se encontram lá na praça.
Neste pedaço de chão
Voto nunca foi de graça.
Andou a pé pelos bairros
Nas favelas lamacentas
Abraçando jovens, velhos
E crianças catarrentas.
Pessoas pedindo coisas,
Encontrou umas seiscentas.
Chega numa casa e fala:
__Boa tarde, meu senhor!
O moço responde alto:
__Aqui tem muito eleitor!
Dê-me telhas, massará
Que os votos são do Doutor.
Enquanto isso lá na praça
Palco está sendo montado;
Rola bebida de graça,
É jovem pra todo lado
Achando a maior vantagem
Vender voto por trocado.
Os cabos eleitorais
Os palanques vão montando;
Enquanto seu candidato
O povo vai enganando
Com esmolas e merrecas
Cada voto vai comprando.
Chega a hora do comício
O povo se preparando
Carros cheios de eleitores
Da praça se aproximando;
É gente do interior
Que também está chegando.
A hora mais esperada
Finalmente já chegou
Um bêbado grita de lá:
__Ê! Já ganhou! já ganhou!
O candidato sorrindo
Do palco se aproximou.
Subiu naquele palanque
Começou a discursar
Co’ aquela cara de pau
Fingindo ser popular
Com toda demagogia
Começou então a falar:
¬¬__Meus queridos eleitores!
Com grande satisfação
Eu venho abraçar vocês
E toda essa multidão,
Para pedir o seu voto
Na próxima eleição.
__Quero pedir a vocês
Para prestar atenção
No que farei por vocês
Se ganhar esta eleição
Porque eu sou o candidato
Mais honesto da nação!
__Vou mudar este país,
Acabar com a corrupção,
Vou doar o meu salário
Aos pobres da região;
Vou acabar com a miséria
Que existe neste sertão!
__Oh, eleitor, acredite,
Não estou mentindo não!
Vou cuidar bem da saúde
Melhorar a educação:
Darei livros e cadernos
Para todo cidadão.
__Vou ajudar o lavrador
A plantar milho e feijão.
Vou arar todas as roças
Do povo da região,
Além disso, vou trazer
Muita chuva pro sertão!
__Vocês vão mudar de vida
Durante minha gestão:
Quem hoje anda de jumento,
Vai andar só de avião!
Vai calçar tênis de marca
Quem anda de pé no chão!
__Vai comer filé mignon
Quem come arroz com feijão!
Vai ter cueca de marca
Quem veste samba-canção!
Quem dorme em rede rasgada
Vai ganhar cama e colchão!
Vou dar casa a todo mundo
Que não tem habitação!
Vou investir na cultura
E na comunicação;
Todos terão celulares,
Não precisam de orelhão!
Em cada sala de aula
DVD e televisor;
Para cada estudante
Darei um computador;
Vou pagar um bom salário
Para o nosso professor!
Vou asfaltar o caminho
Da roça do eleitor,
Trazer universidade
Pra perto do lavrador;
Todos da roça terão
Seu diploma de doutor.
Vou filtrar toda poeira
Do Estado do Piauí;
Matar mosquitos da dengue
Que aparecer por aqui,
Pra não ver meu eleitor
Pegar doença por aí.
Quem já tem Bolsa família?
Por favor, levante a mão
Eu vou criar muitas bolsas
Se ganhar esta eleição:
Vou criar “ Bolsa Boteco”
E a “Bolsa Educação”.
Vou criar “Bolsa Balada”
Pra quem gosta de dançar;
Criarei “Bolsa Turismo”
Pro eleitor viajar;
Ir à praia todo ano
Tomar seu banho de mar!
Termina então o comício
O homem tá satisfeito!
Repete as mesmas promessas
Falando ,bate no peito:
__Meus queridos eleitores
Eu sou candidato eleito!
__Até a minha vitória!
Vamos todos à eleição
Se conseguir me eleger
Um bom futuro terão:
Saúde e grana no bolso
E alegria no coração!
__A vocês que me ajudaram
Serão bem recompensados.
Se eu conseguir me eleger
Todos serão empregados,
Terão salários iguais
Aos dos nobres deputados!
Terminando o comício
Do palanque ele desceu.
Logo veio a votação
E o mentiroso venceu;
Aquele povo pacato
Ele nem agradeceu.
Depois daquela vitória
Do povo não quis saber
Na hora da despedida
Algo tinha pra dizer:
_Só daqui a quatro anos
A gente volta a se ver."
*Josefina Ferreira Gomes de Lima é professora e cordelista
Imagem: ReproduçãoJosefina Ferreira Gomes
"É leitores e eleitores,começamos 2012 e nele mais um ano eleitoral cheio daqueles discursos de políticos, cada um mais descabidos e repetidos que o outro. Quem de vocês num já devem ter gargalhado em casa ao assistir o horário humorístico gratuito, digo, o horário eleitoral gratuito? Pois então prepare seu espírito, trabalhe a paciência e aguarde a miscelânea completa de promessas que virão no discurso maldito de cada candidato mal intencionado. Aproveite também para abrir o coração para os bons políticos (raridade no mercado).
Sobre os discursos que ouviremos exaustivamente neste ano eleitoral, leiam este cordel, que por si só já traduz a pornochanchada edição 2012 que se aproxima.
O discurso maldito
Preparem-se eleitores
Para mais uma eleição.
É hora da malandragem,
Da mais pura enganação,
Da corrida desonesta
Dos mestres da corrupção.
Vejam só quantas promessas
Pra ganhar uma eleição:
Prometem cavar açudes,
Dar emprego ao cidadão,
Dentadura pros banguelas,
Pras mulheres ligação.
Na corrida pelo voto
Vale qualquer doação:
Dão enxadas e machados,
Bola e carrinhos de mão;
Dão passagem pra São Paulo
Tijolos pra construção.
Veja um breve discurso
Que o povo pode assistir
Dum político demagogo
Que só presta pra mentir,
Enganar os eleitores,
Prometer e não cumprir.
Já no final de campanha
Bem próximo à eleição,
Candidato aperreado
Com medo da rejeição,
Usa de todas as armas
Pra causar boa impressão.
Foi o que aconteceu
Com um candidato tal;
Desesperado por votos
Deu a cartada final,
Pensando no tudo ou nada
Fez comício na capital.
Chegou cedo pra fazer
Comício de despedida;
Cumprimentando o povo
Distribuindo bebida,
Dizendo: ¬__ou compro votos
Ou a eleição tá perdida.
Ordenou a sua equipe;
__Mais rápido, por favor!
Comecem a comprar votos!
Eu pago qualquer valor;
Tenho dinheiro de sobra
Para comprar eleitor.
__O voto é mercadoria!
Vocês sabem muito bem
Leve a bolsa de dinheiro.
Não se esqueçam de ninguém!
Se pedir cachaça, dê,
Mas dê dinheiro também.
__Compre logo vinte caixas
De cerveja e de cachaça
Distribua para os jovens
Que se encontram lá na praça.
Neste pedaço de chão
Voto nunca foi de graça.
Andou a pé pelos bairros
Nas favelas lamacentas
Abraçando jovens, velhos
E crianças catarrentas.
Pessoas pedindo coisas,
Encontrou umas seiscentas.
Chega numa casa e fala:
__Boa tarde, meu senhor!
O moço responde alto:
__Aqui tem muito eleitor!
Dê-me telhas, massará
Que os votos são do Doutor.
Enquanto isso lá na praça
Palco está sendo montado;
Rola bebida de graça,
É jovem pra todo lado
Achando a maior vantagem
Vender voto por trocado.
Os cabos eleitorais
Os palanques vão montando;
Enquanto seu candidato
O povo vai enganando
Com esmolas e merrecas
Cada voto vai comprando.
Chega a hora do comício
O povo se preparando
Carros cheios de eleitores
Da praça se aproximando;
É gente do interior
Que também está chegando.
A hora mais esperada
Finalmente já chegou
Um bêbado grita de lá:
__Ê! Já ganhou! já ganhou!
O candidato sorrindo
Do palco se aproximou.
Subiu naquele palanque
Começou a discursar
Co’ aquela cara de pau
Fingindo ser popular
Com toda demagogia
Começou então a falar:
¬¬__Meus queridos eleitores!
Com grande satisfação
Eu venho abraçar vocês
E toda essa multidão,
Para pedir o seu voto
Na próxima eleição.
__Quero pedir a vocês
Para prestar atenção
No que farei por vocês
Se ganhar esta eleição
Porque eu sou o candidato
Mais honesto da nação!
__Vou mudar este país,
Acabar com a corrupção,
Vou doar o meu salário
Aos pobres da região;
Vou acabar com a miséria
Que existe neste sertão!
__Oh, eleitor, acredite,
Não estou mentindo não!
Vou cuidar bem da saúde
Melhorar a educação:
Darei livros e cadernos
Para todo cidadão.
__Vou ajudar o lavrador
A plantar milho e feijão.
Vou arar todas as roças
Do povo da região,
Além disso, vou trazer
Muita chuva pro sertão!
__Vocês vão mudar de vida
Durante minha gestão:
Quem hoje anda de jumento,
Vai andar só de avião!
Vai calçar tênis de marca
Quem anda de pé no chão!
__Vai comer filé mignon
Quem come arroz com feijão!
Vai ter cueca de marca
Quem veste samba-canção!
Quem dorme em rede rasgada
Vai ganhar cama e colchão!
Vou dar casa a todo mundo
Que não tem habitação!
Vou investir na cultura
E na comunicação;
Todos terão celulares,
Não precisam de orelhão!
Em cada sala de aula
DVD e televisor;
Para cada estudante
Darei um computador;
Vou pagar um bom salário
Para o nosso professor!
Vou asfaltar o caminho
Da roça do eleitor,
Trazer universidade
Pra perto do lavrador;
Todos da roça terão
Seu diploma de doutor.
Vou filtrar toda poeira
Do Estado do Piauí;
Matar mosquitos da dengue
Que aparecer por aqui,
Pra não ver meu eleitor
Pegar doença por aí.
Quem já tem Bolsa família?
Por favor, levante a mão
Eu vou criar muitas bolsas
Se ganhar esta eleição:
Vou criar “ Bolsa Boteco”
E a “Bolsa Educação”.
Vou criar “Bolsa Balada”
Pra quem gosta de dançar;
Criarei “Bolsa Turismo”
Pro eleitor viajar;
Ir à praia todo ano
Tomar seu banho de mar!
Termina então o comício
O homem tá satisfeito!
Repete as mesmas promessas
Falando ,bate no peito:
__Meus queridos eleitores
Eu sou candidato eleito!
__Até a minha vitória!
Vamos todos à eleição
Se conseguir me eleger
Um bom futuro terão:
Saúde e grana no bolso
E alegria no coração!
__A vocês que me ajudaram
Serão bem recompensados.
Se eu conseguir me eleger
Todos serão empregados,
Terão salários iguais
Aos dos nobres deputados!
Terminando o comício
Do palanque ele desceu.
Logo veio a votação
E o mentiroso venceu;
Aquele povo pacato
Ele nem agradeceu.
Depois daquela vitória
Do povo não quis saber
Na hora da despedida
Algo tinha pra dizer:
_Só daqui a quatro anos
A gente volta a se ver."
*Josefina Ferreira Gomes de Lima é professora e cordelista
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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