Recentemente realizaram reformas no edifício onde trabalho para adequá-lo a usuários portadores de necessidades especiais. Nada mais louvável.
Entretanto, confesso que algumas novas adaptações eu não entendi muito bem, como do porquê das portas dos banheiros agora abrirem para fora.
Nas vagas do estacionamento destinadas a estes usuários, devidamente sinalizadas tanto no subsolo como no térreo, há uma faixa de exclusão visando impedir que se estacione ao lado e impeça o acesso do portador de limitações ao seu veículo. Ocorre que estas faixas de exclusão estão, em 3 das 5 vagas, pintadas do lado do passageiro, o que obriga o usuário a estacionar de ré.
Uma faixa de piso táctil, que serve como guia aos deficientes visuais, foi instalada destas vagas até a entrada do prédio principal. Ora, imagino eu, o ceguinho estaciona calmamente seu veículo na vaga a ele destinada, mune-se de sua bengala branca e tateia o caminho até a porta do prédio. Uma temeridade se existir um motorista com estas características.
O pior é que uma das entradas para portadores de necessidades especiais, devidamente sinalizada, com rampa, corrimão e piso táctil, dá direto em uma porta de vidro, trancada, onde um letreiro, já amarelado pelo tempo e não traduzido ao Braille, alerta: “Porta com defeito”. Depois de safar-se do trânsito caótico de Teresina, nosso motorista deficiente visual dá com a testa numa porta de vidro trancada. Gastaram milhões para adaptar o prédio e não sobrou um trocadinho para consertar a porta?
Mas minha maior crítica não seria esta. O prédio atende também a um outro tipo de público com necessidades especiais: os analfabetos, os ignorantes, os matutos, o povo humilde do interior de nosso Estado. E os setores onde mais estes necessitados procuram atendimento, situam-se no s dois últimos andares deste edifício, o que os obriga a embarcarem em elevadores (muitas vezes pela primeira vez na vida) sem que exista qualquer servidor para conduzi-los ou mesmo orientá-los. A conseqüência é deprimente: velhinhos e deficientes perambulando por andares que nada tem a ver com seus anseios, perdidos pelas escadarias (quando não no subsolo), agarrados às paredes dos elevadores em pânico, implorando a quem quer que encontrem para levá-los para um lugar seguro.
Além disso, no térreo, funcionam setores que muito bem poderiam estar no alto do prédio (um deles não precisaria nem sequer existir), abrindo espaço para instalação daqueles onde a demanda de nosso povo humilde é maior. Enquanto esta mudança não ocorre, ao invés de contratar segurança armada, poderia sim contratar (por um custo infinitamente menor) estagiários da área de humanas que, devidamente treinados, poderiam servir como orientadores e condutores destes nossos conterrâneos.
Fundamental para uma sociedade mais justa a inclusão de todos aqueles que necessitam de um tratamento diferenciado, não por culpa deles, mas pelas adversidades encontradas em sua vida. Muitas vezes é o próprio Estado o responsável por esta dependência, seja não punindo com rigor aquele motorista bêbado que atropelou e aleijou um pedestre, seja não proporcionando ensino e informação acessível e de qualidade, gerando um contingente enorme de deficientes intelectuais. E, assim sendo, é obrigação do Estado proporcionar-lhes acessibilidade a seus serviços.
*Arthur Teixeira Junior é articulista e escreve para o GP1
Entretanto, confesso que algumas novas adaptações eu não entendi muito bem, como do porquê das portas dos banheiros agora abrirem para fora.
Nas vagas do estacionamento destinadas a estes usuários, devidamente sinalizadas tanto no subsolo como no térreo, há uma faixa de exclusão visando impedir que se estacione ao lado e impeça o acesso do portador de limitações ao seu veículo. Ocorre que estas faixas de exclusão estão, em 3 das 5 vagas, pintadas do lado do passageiro, o que obriga o usuário a estacionar de ré.
Uma faixa de piso táctil, que serve como guia aos deficientes visuais, foi instalada destas vagas até a entrada do prédio principal. Ora, imagino eu, o ceguinho estaciona calmamente seu veículo na vaga a ele destinada, mune-se de sua bengala branca e tateia o caminho até a porta do prédio. Uma temeridade se existir um motorista com estas características.
O pior é que uma das entradas para portadores de necessidades especiais, devidamente sinalizada, com rampa, corrimão e piso táctil, dá direto em uma porta de vidro, trancada, onde um letreiro, já amarelado pelo tempo e não traduzido ao Braille, alerta: “Porta com defeito”. Depois de safar-se do trânsito caótico de Teresina, nosso motorista deficiente visual dá com a testa numa porta de vidro trancada. Gastaram milhões para adaptar o prédio e não sobrou um trocadinho para consertar a porta?
Mas minha maior crítica não seria esta. O prédio atende também a um outro tipo de público com necessidades especiais: os analfabetos, os ignorantes, os matutos, o povo humilde do interior de nosso Estado. E os setores onde mais estes necessitados procuram atendimento, situam-se no s dois últimos andares deste edifício, o que os obriga a embarcarem em elevadores (muitas vezes pela primeira vez na vida) sem que exista qualquer servidor para conduzi-los ou mesmo orientá-los. A conseqüência é deprimente: velhinhos e deficientes perambulando por andares que nada tem a ver com seus anseios, perdidos pelas escadarias (quando não no subsolo), agarrados às paredes dos elevadores em pânico, implorando a quem quer que encontrem para levá-los para um lugar seguro.
Além disso, no térreo, funcionam setores que muito bem poderiam estar no alto do prédio (um deles não precisaria nem sequer existir), abrindo espaço para instalação daqueles onde a demanda de nosso povo humilde é maior. Enquanto esta mudança não ocorre, ao invés de contratar segurança armada, poderia sim contratar (por um custo infinitamente menor) estagiários da área de humanas que, devidamente treinados, poderiam servir como orientadores e condutores destes nossos conterrâneos.
Fundamental para uma sociedade mais justa a inclusão de todos aqueles que necessitam de um tratamento diferenciado, não por culpa deles, mas pelas adversidades encontradas em sua vida. Muitas vezes é o próprio Estado o responsável por esta dependência, seja não punindo com rigor aquele motorista bêbado que atropelou e aleijou um pedestre, seja não proporcionando ensino e informação acessível e de qualidade, gerando um contingente enorme de deficientes intelectuais. E, assim sendo, é obrigação do Estado proporcionar-lhes acessibilidade a seus serviços.
*Arthur Teixeira Junior é articulista e escreve para o GP1
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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