Fechar
Blog Opinião
GP1
*Arthur Teixeira Junior

Imagem: Divulgação / GP1Clique para ampliarArthur Teixeira Junior(Imagem:Divulgação / GP1)Arthur Teixeira Junior
Sempre fui simpatizante da esquerda. Dos tempos de colégio secundarista ao movimento sindical borbulhante do fim da ditadura, passando pelos tempos de faculdade, militei nas hostes esquerdistas, freqüentando suas intermináveis reuniões. Quando madrugada alta, corria para a Rua Barão de Limeira, no centro de São Paulo, para esperar a edição “fresquinha”, cheirando a tinta, da Folha de São Paulo e lê-la até o amanhecer, saboreando a insubstituível costelinha de porco com salada de repolho que era servida no *Bar das Putas na Avenida da Consolação...

Hoje, embora ainda simpatizante, talvez por causa da idade, não sou tão militante. Entretanto, como meu pai deveria sentir-se outrora, fico angustiado vendo meus filhos engajados em movimentos reivindicatórios.

Mas quem é mesmo fanático pela esquerda é o motorista Teresinense! Vai gostar de andar na esquerda lá longe!

Não importa se a pista tem duas, três ou quatro faixas de tráfego, ele sempre dá um jeitinho de andar pela esquerda. Logicamente, a uma velocidade de tartaruga manca. E se você quer ultrapassá-lo sem cometer uma infração de trânsito, ou seja, também pela esquerda, não adianta pedir passagem, buzinar, dar sinal de farol, colocar a cabeça pela janela e gritar “Sai da frente, ô anta paralítica!”, nada adianta.

O motorista teresinense acredita que pagando o IPVA, tem o pleno direito de trafegar pela pista da esquerda na velocidade que bem entender, seja qual for o seu transporte. Muito comum vermos uma avenida inteira com uma fila interminável e lenta de veículos na faixa da esquerda enquanto a da direita está somente o pó.

Os problemas de trânsito que temos em nossa cidade, problemas estes que remetem a situação ao nível do trânsito indiano, são decorrência de dois fatores principais: a falta de uma engenharia de trânsito e a má educação da maioria dos motoristas locais.

No tocante a engenharia, vemos uma total falta de obras viárias importantes, como pontes, viadutos, avenidas, a qual se soma a péssima qualidade do asfalto em avenidas importantes, buracos, valetas em cruzamentos de grande movimento, excesso de retornos à esquerda em vias de tráfego rápido, semáforos não sincronizados ou com intervalos de abertura/fechamento desregulados, falta de faixas exclusivas para ônibus, dentre outras muitas deficiências.

Os motoristas são um caso a parte. Além de andarem lentamente pela esquerda, estacionam em fila dupla e em qualquer lugar (inclusive junto ao canteiro central de avenidas), fecham cruzamentos, usam e abusam da buzina, realizam conversões proibidas, etc., tudo graças a total falta de policiamento e fiscalização. Sem contarmos ainda com o grande excesso de veículos sem a menor condição de trafegarem e motociclistas acrobatas ou simplesmente malucos.

Já passou do tempo para o poder público empenhar-se na modernização de nossa malha viária e dos equipamentos de controle e gestão do trânsito, priorizando o transporte coletivo em detrimento ao particular, aliado a uma campanha de educação dos motoristas. Nossa cidade cresce em um ritmo acelerado e cada vez mais teremos a necessidade de nos locomovermos com maior eficiência e rapidez.

Agora, eu nunca vou entender o que leva um cidadão a pagar 60 mil reais em um veículo top de linha, computador de bordo, direção hidráulica, câmbio automático dual tronic, rodas de liga leve, suspensão computadorizada, freios ABS nas quatro rodas, tudo isso para andar a 20 km/h e atrapalhar a vida dos outros. Seria muito mais econômico comprar uma bicicleta. Ou um jegue. Além de mais ecológico e saudável.

(*) O Bar das Putas realmente existiu (não sei se existe até hoje). Certamente tinha um outro nome comercial, mas eu duvido se até o dono saberia qual era. Famoso na década de 70, era um estabelecimento estreito, mal iluminado, com aspecto não muito higiênico, situado em uma esquina da Av da Consolação próximo a Av Paulista. Tinha a característica de servir refeições baratas durante toda a madrugada, o que atraia, em um convívio harmonioso e eclético, boêmios, estudantes, militantes de esquerda, trabalhadores noturnos e, logicamente, as prostitutas que faziam seus "pontos" na Consolação (junto ao muro do cimitério de mesmo nome) e na Av Angélica. Daí o nome que o tornou famoso.

(*) Arthur Teixeira Junior é articulista e escreve para o GP1

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

Ver todos os comentários   | 0 |

Facebook
 
© 2007-2024 GP1 - Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do GP1.