*Zé da Cruz
Imagem: Wanessa Gommes/GP1Zé da Cruz
Muito obrigado pela manifestação de preocupação, as perguntas e e-mails acerca de quando voltaria a escrever. Parafraseando o velho, bom e eterno maluco beleza Raul dos Santos Seixas: “mas, se todos gostam eu vou voltar” , no estilo asiático de azia, má digestão, gastrite, beirando à úlcera.
Viva a palhaçada!!! O circo de horrores como sempre começou mais cedo do que se imaginava, a famosa e tão sonhada sucessão de 2012. Já se vêem sendo formulados os acordos nos bastidores, porque na mídia eles dizem na cara de pau que só tratarão do assunto no momento oportuno, mesmo sabendo que estão de mala e cuia para passar do lado que melhor lhes convier ou dependendo do agrado.
Quero acordar a população e dizer que esse próximo ano será diferente dos demais, principalmente porque vai aumentar o número de vereadores de 21 para 29. Espero que o povo esteja de olho em quem trabalhou para distingui-lo de quem apenas “comeu o dinheiro” durante o mandato e trabalhou dia e noite contra a população mais pobre. Não é muito difícil identificar esses tipos. Tem vereador que é totalmente desconhecido, que nunca fez um projeto com exceção de cunho pessoal para melhorar de vida.
Mas mudando de pau pra cacete, quero falar de uma ocupação ocorrido dia 12 de agosto na zona sul de Teresina conhecida como Vila da Vitória, onde inicialmente houve um confronto com capangas, jagunços, milicianos do latifundiário e proprietário da terra. Onde muitos foram espancados e baleados, inclusive eu. Muitas denúncias foram feitas, inclusive ao próprio Secretario de Segurança e ao Comandante Geral da Policia Militar na presença de parlamentares, e ‘nadica’ de nada aconteceu. A jagunçada anda despalitando os dentes, aterrorizando e ameaçando quem quer que seja.
Fico imaginando o tanto de imposto que se paga nesse país, e quando se precisa da proteção das autoridades, mesmo sendo vitimas, elas nos transformam em acusados, inclusive nessa audiência uma dessas autoridade me disse quase em off, que eu estava trazendo problema para aquela pasta. Confesso que até agora não entendi. Pois bem, desde que me entendi por gente se diz que o pau só quebra no fiofó do pequeno. Confesso que não tinha entendido na teoria, agora sei o que quer dizer na pratica. Fui ameaçado de ser preso, mesmo tendo apanhado no episódio do dia 15 de agosto, de mais de trinta homens incluindo o proprietário, um capataz e policiais. Ainda hoje tenho sequelas e tomo medicamento. O único conforto que recebi foi a ameaça de ser preso em flagrante juntamente com padre por crime premeditado . Digo que se for por estar do lado do povo pago esse ônus com orgulho, e não fujo da luta. Pois do lado de lá ninguém disse que houve formação de quadrilha, porte de arma ilegal, tentativa de homicídio,agressão física e outros crimes que qualquer autoridade por mais simplória que seja, identifica crime e criminosos a olho nu, e o que é mais grave: com provas e testemunhas, só que são pobres, e pelo visto tem valor diminuto ou não têm valor nenhum no cardápio do capitalismo local. Parece que eu já vi esse filme, e não foi pirata, foi original.
Só quero dizer a quem possa interessar que aquele povo pobre, famélico e sem perspectiva está disposto a tudo para defender um pedaço de chão para sua moradia, que é um direito o qual o poder público tem a obrigação de negociar levando em conta a necessidade e o baixo poder aquisitivo dessas pessoas, que ao que parece mesmo sendo mais de três mil famílias valem menos que um latifundiário declarado e comprovado na escala do capital econômico nativo.
Espero em Deus, porque na terra temos pouquíssimos apoios, e porque quando Ele quer não tem quem não queira. Espero nesse mesmo Deus e em autoridades comprometidas com a luta do povo, que aquela ocupação não se tornará um arraial de Canudos. Para quem não sabe, Canudos foi uma ocupação que ocorreu no sertão da Bahia, onde um agrupamento de pessoas que só queriam um pedaço de terra para plantar e viver em paz foi massacrado com o apoio das autoridades, da imprensa, da Igreja e coronéis latifundiários que transformaram, para a opinião pública, aquelas pessoas em bandidos, monarquistas que queriam dar um golpe no pais.
Ô coitados, a grande maioria não sabia sequer juntar letras. Muitos eram analfabetos de pai e mãe e vizinho do lado. Todo o país sabe do desfecho, quando raivosamente o exército brasileiro armado até os dentes massacrou e matou covardemente seu próprio povo. Foram mais de cinco mil famílias, dentre elas gestantes, idosos, crianças armadas de coragem e resistência. Espero que quase um século depois, essa história não se repita chancelada por autoridades competentes e responsáveis por assegurar a função social da terra e garantir o direito à moradia digna para todos. Zé da Cruz poeta e liderança comunitária.
*Zé da Cruz é poeta e liderança comunitária de Teresina
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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