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*Julio César Cardoso

Não resta dúvida de que o sentimento de humanidade sempre deverá nortear os povos civilizados. Mas gastaríamos de ver as nossas autoridades governamentais demonstrarem o mesmo interesse, empenho e preocupação com os graves problemas sociais nacionais e com a profusão de calamidades que tem atingido muitas regiões do País, onde milhares de brasileiros ficam ou estão desamparados sem a presença espontânea e diligente de nosso governo federal.


É muito curioso que se mandem tropas militares para resgatar ou manter a paz de qualquer País, mas não se tenha o mesmo zelo com a falta de segurança interna dos tupiniquins brasileiros. Como uma moeda, o País tem uma política dualística de coloração brilhante para vender uma boa imagem à comunidade estrangeira e outra, paradoxal, cinzenta, da realidade da vida nacional que ele escamoteia.

Ultimamente, o País vem sendo assolado, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, por desequilíbrios da natureza. Copiosas chuvas com inundações e desmoronamentos, vendáveis, ciclones, tufões etc., têm deixado miríades de pessoas desabrigadas e com prejuízos incalculáveis. Mas não se vê a boa vontade do governo federal em ajudar as nossas infelicidades como demonstra ter com os infortúnios de povos de outros países. O que se tem observado é que o governo federal aproveita os casos emergenciais de calamidades públicas internos para fazer propaganda política.

Ora aparecendo como um Robin Hood, sobrevoando as áreas atingidas, para dizer: olha, nós estamos aqui para socorrê-los! Ora reunindo-se em palanques para promover suas falaciosas promessas de ajudas financeiras que nunca chegam ao bolso das pessoas atingidas. Mas que na verdade a prometida "ajuda" corresponde apenas à liberação de saque do próprio FGTS do trabalhador para fazer face às suas despesas emergenciais, quando deveria o governo preservar o FGTS do trabalhador e subvencionar essas pessoas com dinheiro do erário.

O País é de um paradoxismo impressionante. Arrota primeiro mundo, mas não passa de um Haiti bastante melhorado. Aqui temos vários Haitis em nossas periféricas cidades, e sem contar que pessoas ainda vivem abaixo da linha de pobreza, como no Maranhão do clã Sarney e amigo do rei. O País perdoa dívidas de nações, mas não alivia o negativo financeiro de muitos brasileiros descamisados, desempregados e sem nada. Costuma se intrometer para resolver situações adversas alheias em pátrias estrangeiras, mas se esquece de que o verdadeiro Brasil real tem problemas crônicos ainda não resolvidos, que a comunidade internacional desconhece.

Assim, o altruísmo demonstrado pelo governo brasileiro com a situação do Haiti é perfeitamente compreensível desde que seja dada prioridade ao socorro de nossos brasileiros também atingidos por parecidas desgraças.

*Julio César Cardoso, bacharel em Direito e servidor federal aposentado

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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