A Coluna obteve acesso à íntegra do depoimento do cabo da Polícia Militar do Piauí, Valério de Sousa Caldas Neto, preso nessa quarta-feira (13), acusado de assassinar o policial civil Alexsandro Cavalcante Ferreira, 45 anos, com um tiro na cabeça e outro no peito direito, na noite da última terça-feira (12), no conjunto Colina do Alvorada, localizado em Parnaíba, litoral do Piauí.
Em depoimento, o cabo Valério alegou que, mesmo morando no mesmo conjunto, não conhecia a vítima e confessou ter efetuado dois disparos de arma de fogo contra o policial civil, pois Alexsandro estava caminhando na rua em atitude suspeita, por volta de 23h15, e ao ser abordado pelo PM apontou uma arma contra ele, fato que, segundo o cabo Valério, fez com que o militar reagisse.
PM estava em casa quando viu o policial civil na rua
Durante a oitiva, o cabo da PM afirmou que havia acabado de chegar do plantão e estava fazendo a limpeza de sua farda. Nesse momento, ele visualizou uma pessoa caminhando na rua, sozinha, que estava com uma blusa com capuz, e disse que quando a pessoa percebeu sua presença colocou o capuz sobre a cabeça.
O cabo Valério relatou em seu depoimento que achou esse comportamento estranho e elencou que pelo fato de a pessoa estar sozinha, sem cachorro, resolveu acompanhá-la. Nesse momento, o PM contou que entrou em seu carro, um Volkswagem Parati, e foi atrás do homem sem saber de quem se tratava.
Não pediu apoio à Polícia Militar
Ao sair de casa para ir atrás da suposta pessoa em atitude suspeita, o PM afirmou que deixou seu aparelho celular em casa, carregando, mas levou consigo sua arma de fogo. O policial militar contou que parou o carro duas quadras depois da sua casa e visualizou o indivíduo, que estava indo para Avenida Principal, conforme trecho do depoimento em destaque.
“Que continuou o acompanhamento para ver o que estava acontecendo; que visualizou ele [policial civil] indo para Avenida Principal; que então resolveu se deslocar; que quando chegou na [avenida] principal dobrou o carro à direta; que o indivíduo estava caminhando em sentido oposto a BR; que quando o interrogado dobrou à direita o indivíduo sacou uma arma e foi em direção ao interrogado com a arma em punho; que então o interrogado verbalizou em dois momentos: "eu sou policial". Que o indivíduo [policial civil] continuou indo para cima do interrogado, sem recuar; que então efetuou dois disparos”, diz trecho do depoimento do cabo Valério.
Policial civil teve a arma levada
O cabo Valério continuou narrando detalhes sobre a suposta dinâmica dos fatos ocorridos por volta de 23h15 da última terça-feira (12). Segundo o policial militar, depois de efetuar dois tiros contra a vítima, ele desembarcou do carro e recolheu a arma do policial civil, que estava no coldre.
“Que fez a busca no indivíduo e pegou a arma, que pegou só a arma; que percebeu o coldre; tirou três fotos do local do crime; que quando viu o coldre de kydex achou estranho; que achou estranhas duas situações; uma foi o coldre e a outra foi o cão da arma estar puxado. Que no momento não achou que era um policial; que então pensou ‘porque ele fez isso?’”, diz trecho do depoimento.
Após o crime, cabo Valério ligou para a ex-mulher
Após deixar o local do crime, cabo Valério afirmou que se deslocou até o Posto de Combustíveis Marinas, onde conseguiu fazer contato com sua ex-companheira, a qual havia terminado relacionamento há cerca de 4 dias. Ao ser indagado pelo delegado Ayslan Magalhães, por qual razão não acionou a Polícia Militar, o acusado não soube responder.
“Que então fez a primeira comunicação para sua ex; que acreditava que sua ex iria ajudá-lo; que não sabe dizer porque não ligou para Policia Militar; que ligou para sua ex e conseguiu falar mais ou menos: Que na verdade não foi atendido; que falou para sua ex ir na sua casa e que tinha acontecido uma coisa séria ou urgente: que depois do posto, voltou para casa e tentou organizar a questão da comunicação; que devido ao seu estado emocional não pensou em ir para PM de carro; que estava procurando uma forma de se comunicar; que então entrou em contato com seu tio aposentado do Exército; que não lembra o horário, mas era de madrugada; que então se deslocou para casa do seu tio; que, na casa do seu tio, fez ligações pelo WhatsApp pelo tablet; que o celular tem crédito, mas achou que não seria a melhor opção de comunicação; que então fez a ligação para o comandante Albuquerque, que é comandante do 24° Batalhão de Luís Correia; que ligou narrando os fatos como está narrando nesse interrogatório; que só percebeu que a arma era da Polícia Civil depois dessa ligação”, contou o cabo Valério.
Ao tomar conhecimento da situação, o comandante do 24º BPM mandou que o cabo da PM se apresentasse na sede do batalhão, No entanto, mesmo com a ordem de seu comandante superior, determinando que se apresentasse ao 24º Batalhão da Luís Correia, o cabo Valério não acatou e uma guarnição da PM foi até sua residência, pela manhã, buscá-lo.
Depois da repercussão do caso, o policial militar acabou se apresentando, na presença de um advogado, na Central de Flagrantes de Parnaíba, onde prestou depoimento e acabou sendo preso em flagrante delito.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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