O surgimento da variante Ômicron do coronavírus provocou dúvidas sobre a eficácia das vacinas e também dos medicamentos anticovid contra a cepa. Diante disso, as farmacêuticas e os cientistas correm para testar os efeitos desses remédios ante a nova versão do vírus.
Em 28 de novembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que remédios para pacientes com covid em estado grave e insuficiência respiratória, como corticosteroides e bloqueadores do receptor de interleucina-6, continuam eficazes contra a nova mutação, mas outros tratamentos precisavam ser avaliados.
A Pfizer divulgou nesta terça-feira, 14, que os resultados de um estudo que confirmam a eficácia do antiviral Paxlovid, conhecida como 'pilula anticovid' e testado no Brasil, contra a Ômicron. No dia 7, a farmacêutica britânica GSK, fabricante do sotrovimabe também afirmou que o seu medicamento contra a covid-19 baseado em anticorpos é eficaz contra a nova variante.
Os dois medicamentos têm diferenças. O Paxlovid, da Pfizer, age sobre a protease do vírus, que é a enzima responsável por “quebrar” as proteínas que o Sars-CoV-2 produz em pedaços menores. Já o sotrovimabe age no combate à proteína Spike, justamente a que mais apresentou mutações na nova cepa.
Outras duas fabricantes de remédios semelhantes - o Regen-CoV e o coquetel composto por banlanivimabe e etesevimabe - afirmaram na semana passada que estudos sobre a eficácia seguem em andamento, mas é provável que a ela pode cair contra infectados pela ômicron. “Como são medicamentos que atacam a proteína Spike, a que mais apresenta mutação, a chance da eficácia cair cresce”, explica o infectologista da Beneficiência Portuguesa de São Paulo (BP), João Prats.
Esses três medicamentos estão autorizados no Brasil e usam a tecnologia de anticorpos monoclonais para combater o vírus. Eles agem no organismo humano de modo semelhante aos soros antirrábicos ou antitetânicos, oferecendo uma carga de anticorpos antes do vírus se desenvolver.
Além disso, há medicamentos autorizados no Brasil que agem de outra forma, seja atacando outras partes do Sars-Cov-2, como enzimas específicas, ou agindo como moduladores do sistema imunológico. Esse último são os casos de corticóides e bloqueadores de receptor de interleucina-6. “Esses medicamentos não agem sobre o vírus, mas sobre como o nosso corpo responde a eles. Evitam inflamações graves, por exemplo”, acrescenta Prats.
Conforme o virologista Celso Granato, diretor do Grupo Fleury, a pressão sobre a proteína Spike, que favorece as mutações nessa parte do coronavírus, deriva justamente da tecnologia usada pela maioria das vacinas fabricadas até o momento. Como há uma crescente fatia da população imunizada, mais o vírus Sars-Cov-2 se modifica para encontrar uma forma de 'entrar' no organismo. Granato não descarta que haja variantes no futuro com mutações em outras áreas.
O que as fabricantes dizem sobre a eficácia contra ômicron:
Sotrovimabe: a farmacêutica GSK, fabricante do medicamento, afirma que ela é eficaz contra a ômicron, mas os dados ainda precisam ser revisados pela comunidade científica. O medicamento usa anticorpos monoclonais e é indicado para o tratamento de covid leve a moderada em pacientes adultos e adolescentes com 12 anos ou mais, e que pesem pelo menos 40 kg. Está autorizado no Brasil desde 8 de setembro.
Regen-Cov: as farmacêuticas Regeneron e Roche, fabricantes dos dois medicamentos do casirivimabe e imdevimabe, que compõem o coquetel Regen-Cov, dizem que os medicamentos podem ser menos eficazes contra a ômicron. Mas ainda não há estudos concluídos. O uso emergencial no Brasil está autorizado desde 20 de abril. Segundo a OMS, o tratamento é sugerido para aqueles com maior risco de hospitalização.
Banlanivimabe e etesevimab: a farmacêutica Eli Lilly, fabricante dos medicamentos, afirmou esta semana que avalia a eficácia contra a Ômicron. Há chances de redução de eficácia, por serem monoclonais e atuarem na proteína Spike do Sars-Cov-2, que mais teve mutação na nova cepa. O medicamento foi aprovado para uso emergencial pela Anvisa em 13 de maio. São ministrados em pacientes maiores de 12 anos, com quadro leve ou moderado da doença, que pesem mais de 40 kg.
Regkirona (regdanvimabe): assim como os anteriores, age sobre a proteína Spike. A fabricante do medicamento, no entanto, ainda não se pronunciou sobre a sua eficácia. O regdanvimabe é indicado para pacientes adultos que não necessitam de suplementação de oxigênio e com exame positivo para Covid-19 e está autorizado no Brasil, mas tem contraindicações.
Remdesivir: a fabricanteafirmou que espera que continue efetivo, mas ainda vai conduzir testes laboratoriais para verificar a eficácia contra a Ômicron. Autorizado pela Anvisa desde 12 de março deste ano para pacientes com pneumonia que precisam de oxigênio.
Tocilizumabe e sarilumabe: os dois medicamentos, usados no Brasil para o tratamento de casos graves da covid-, não são afetados pela Ômicron. Eles agem como moduladores do sistema imunológico, evitando inflamações graves, e não atuam sobre o vírus. O uso destes medicamentos é indicado pela OMS desde julho.
Baricitinibe: último medicamento aprovado pela Anvisa para testes, o baricitinibe atua no processo de formação e desenvolvimento das células do sangue, na inflamação e na defesa do organismo. Assim como o Tociluzumabe e sarilumabe, age como modulador do sistema imunológico.
Molnupiravir e Paxlovid: desenvolvidos pelas farmacêuticas Merck e Pfizer, respectivamente. A Merck (MSD no Brasil) afirmou que a pílula deve manter a eficácia contra a Ômicron porque ataca partes do vírus que não sofreram mutações. Já a Pfizer apresentou nesta terça-feira, 14, um estudo que comprova eficácia da pílula contra a Ômicron. A fabricante já havia anunciado quando a nova cepa foi detectada que o medicamento não deveria ser afetado. As duas estão em teste no Brasil.
Ver todos os comentários | 0 |