A falta de energia no Amapá colocou o sistema estadual de saúde pública, já precário, sob mais pressão. Com a queda no sistema elétrico, há uma semana, em 13 dos 16 municípios do Estado, a comunicação da rede do setor foi cortada e prejudicou o controle de registro de novos pacientes com suspeitas da covid-19 que procuram o primeiro atendimento nas unidades regionais.
O governo estadual informou ao Estadão que há cinco dias não envia boletins de casos da doença ao Ministério da Saúde. Outros Estados também vêm apresentando problemas na atualização dos boletins.
Sem os dados em tempo real, as autoridades sanitárias locais não sabem como a pandemia se comporta. A falta de informação prejudica a gestão do sistema e dificulta, por exemplo, planejar a necessidade de mais ou menos leitos.
“Por causa do apagão, temos um limbo de informação que ainda não conseguimos acessar, sobre casos que, por exemplo, procuraram unidades básicas de saúde”, disse o secretário estadual de Saúde, Juan Mendes Silva. “A comunicação ainda está fragilizada. Hoje estamos começando a retomar a questão do boletim.”
O abastecimento de energia tem sido restabelecido de forma permanente nas áreas dos hospitais, sem os rodízios de seis horas que foram estabelecidos para outras áreas. Apesar disso, ainda há oscilação em unidades básicas de referência para o combate à covid-19. São esses os locais que, no Amapá, recebem pacientes com os primeiros sintomas, para testagem.
No centro de Macapá e nas periferias, máscaras de proteção facial não predominam. O crescimento dos casos de infecção pelo novo coronavírus foi significativo nas últimas três semanas e, antes do apagão, a curva ainda era estável, sem declínio. O consórcio de veículos de imprensa registrou a partir do dia 26 de outubro 1.883 casos e 10 mortes. Até a última quarta-feira, 751 amapaenses haviam morrido com o vírus. Os números, porém, não são atualizados desde o dia 4. Ontem, a equipe de reportagem presenciou a retirada de dois corpos de vítimas da covid-19 do Hospital Universitário, referência no combate à doença.
A UTI do Hospital Universitário está sobrecarregada. O quadro demanda uma manobra de enfermeiros para não desmotivar os pacientes que lutam pela vida. Enquanto as equipes dos serviços funerários saem com corpos em caixões lacrados, os profissionais da saúde se posicionam de modo a obstruir a visão dos internados.
Previsão de surtos
Outro foco de pressão sobre o sistema de saúde do Amapá está nos improvisos da população para ter o que beber e comer nos últimos dias. Sem água para lavar a louça ou consumir, quem não pode pagar por galões inflacionados recorre a doações, poços artesianos ou até mesmo ao Rio Amazonas. O governo estadual prevê surto de casos de doenças diarreicas agudas por causa da qualidade da água que está sendo consumida e das condições dos alimentos.
A queda de energia, provocada por incêndio em uma subestação, interrompeu o funcionamento das bombas da companhia de distribuição de água e o governo chegou a usar geradores para retomar esse serviço. Na pandemia de covid-19, as autoridades mundiais ressaltam que a higiene é um importante fator para conter o avanço da doença. “Moramos na beira do maior rio do mundo e não temos água para beber”, afirma o caminhoneiro Danielso de Araújo Borges, de 37 anos.
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