Preso nessa segunda-feira, 18, suspeito de manter uma paciente em cárcere privado por dois meses, o cirurgião plástico Bolívar Guerrero Silva já chegou a ser suspenso de praticar a medicina em dezembro do ano passado. A punição foi concedida pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), por ter entendido que o profissional violou uma série de artigos do Código de Ética Médica.
A notificação foi publicada em 21 de dezembro de 2021 e suspendia Silva de praticar a profissão até o dia 19 do mês seguinte. Segundo o Cremerj, ele infringiu cinco artigos do código de ética aprovado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
Dentre as infrações cometidas, ele também teria deixado de "denunciar atos que contrariem os postulados éticos à comissão" e de "cumprir as normas emanadas dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina” e de "atender às suas requisições administrativas, intimações ou notificações no prazo determinado", segundo os artigos 17 e 57.
Outra justificativa dada pelo Cremerj para a suspensão foi a violação do artigo 69, que proíbe "exercer simultaneamente a Medicina e a Farmácia" ou "obter vantagem pelo encaminhamento de procedimentos, pela comercialização de medicamentos, órteses, próteses ou implantes de qualquer natureza".
Apesar das infrações, o perfil de Bolívar Guerrero Silva aparecia com situação "regular" no site do Conselho Federal de Medicina nesta segunda. Segundo o cadastro, ele teria começado a exercer a profissão no Brasil em 1996.
O médico foi preso pela manhã em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, acusado de manter uma paciente presa por dois meses no Hospital Santa Branca. Segundo denúncia feita pela família, ela estava como refém de Silva desde que se submeteu a uma cirurgia plástica na barriga que teria dado errado. Os policiais cumpriram mandados de prisão preventiva, busca e apreensão e de condução coercitiva.
Procurado, o Cremerj disse que iria apurar o caso que teria motivado a suspensão do médico no fim do ano passado. Também afirmou ter sabido da suspeita de cárcere privado pela mídia e que "abriu sindicância para apurar" o caso recente, mas que o "procedimento segue em sigilo de acordo com os ritos do Código de Processo Ético-Profissional".
Histórico de denúncias
Em 2010, Bolívar e outros oito médicos foram presos na operação Beleza Pura, da Polícia Civil do Rio, após uma denúncia feita pelo Ministério Público do Estado por "falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins medicinais". No processo, o grupo também respondeu por "associação criminosa" e "crimes contra as relações de consumo".
À época, o grupo respondeu pela comercialização de medicamentos piratas e sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entre os produtos apreendidos, foram encontradas grandes quantidades da toxina botulínica (Botox), gliconato hidrostático de magnésio (Carboxi), polimetilmetacrilato e ácido hialurônico.
Em 2013, Bolívar foi processado por erro médico e condenado a indenizar uma paciente idosa por danos moral e material, além de responsabilidade cívil. Ele tentou dois recursos que não foram aceitos.
Já em janeiro de 2017, o Hospital Santa Branca, onde manteve a paciente até esta segunda, foi parcialmente interditado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio. A vigilância do Estado alegou na época que a Central de Material Esterilizado (CME) não tinha "estrutura física" e apresentava "processos de trabalho inadequados" para o funcionamento.
Bolivetes
Momentos após a prisão de Bolívar, pipocaram publicações nas redes sociais do médico alegando que ele não havia sido preso, mas sim encaminhado para prestar depoimento. Em um vídeo, uma funcionária se declarou como a responsável por administrar os canais online do profissional e implorou para que todas as “bolivetes” publicassem relatos positivos sobre ele.
"É muita maldade ruindade. Estas mulheres já acostumaram a ganhar dinheiro nas cistas dele (sic)", diz um trecho. As publicações alegam ainda que a paciente socorrida nesta manhã teria se negado a assinar os documentos necessário para ser liberada do Hospital Santa Branca. "Como ela não assinou, ele não liberava (a transferência). Peço a todas que ajude e não deixe que mais uma detone o nosso querido Boliva", escreveu.
A reportagem não conseguiu localizar os responsáveis pela defesa do médico para comentários sobre os casos citados. Sobre o caso da paciente mantida supostamente em cárcere privado, o médico e o hospital negam irregularidades.
Anestesista filmado durante estupro também foi preso
A prisão de Bolívar Guerrero Silva é feita uma semana após a de Giovanni Quintella Bezerra, anestesista detido após ser filmado estuprando uma paciente em trabalho de parto no Hospital da Mulher, em Vilar dos Teles, também no Estado do Rio de Janeiro.
Segundo a delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti (Grande Rio), responsável pelo caso, ele também é suspeito de ter praticado outros cinco abusos. Na semana passada, o Cremerj suspendeu o anestesista de praticar a Medicina. Procurado, o conselho ainda não se manifestou sobre o caso desta segunda.
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