Ex-assessor da Casa Civil e atualmente lotado no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Felipe Cruz Pedri, tem se articulado para voltar ao Palácio do Planalto em um momento em que integrantes do governo tentam neutralizar a influência da ala ideológica.
Pedri está cotado para assumir uma função na Secretaria Especial de Comunicação (Secom), comandada por Fabio Wajngarten, apontado como o patrocinador da volta dele ao Planalto. O ex-assessor da Casa Civil também tem participado de reuniões se apresentando como representante do Ministério das Comunicações.
A volta de Pedri, já causa desconforto entre integrantes de diversos ministérios principalmente num momento em que a orientação do gabinete presidencial é se afastar dos radicalismos para passar pelas crises que rondam o Planalto. O retorno é encarado também como uma tentativa da ala ideológica sobreviver e voltar a influenciar decisões no governo, que ficou acuado após cerco imposto por inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF) e, mais recentemente, pela punição do próprio Facebook, que na última quarta-feira, 8, anunciou ter derrubado uma rede contas ligados ao presidente, seus filhos e aliados.
Felipe Cruz chegou no início do governo Bolsonaro pelas mãos do ministro Onyx Lorenzoni, então chefe da Casa Civil. Enquanto esteve no cargo integrava o chamado núcleo ideológico e foi um dos autores do manifesto de fundação do Aliança do Brasil, partido que Bolsonaro tenta tirar do papel para abrigar sua família e seus apoiadores. Felipe Pedri foi demitido em abril após o general Braga Netto assumir a pasta. Cinco dias depois foi nomeado no gabinete do senador Flávio Bolsonaro com o salário de R$ 17 mil.
Ativo nas redes sociais, Pedri tem mais de 53 mil seguidores que acompanham suas publicações contra a "agenda esquerdista", debates de gênero e as Organizações das Nações Unidas (ONU), vista por ele como uma das grandes disseminadoras do "globalismo". Ele também critica governadores e prefeitos pelas medidas de isolamento social adotadas no combate à propagação do novo coronavírus no País. Em postagens no Twitter, costuma se referir à doença como "vírus chinês".
Atualmente, mesmo lotado no Senado Federal, Pedri tem participado de reuniões do Executivo como representante do Ministério das Comunicações, conforme apontam registros de agendas oficiais. Nesta semana, esteve pelo menos em duas reuniões com Subchefia de Assuntos Jurídicos para discutir a reestruturação de cargos com a divisão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), comandado por Marcos Pontes, e o Ministérios das Comunicações, chefiado por Fábio Faria.
A atuação de Pedri como representante das Comunicações está registrada na agenda dos dias 6 e 8 de julho do subchefe adjunto de Assuntos Jurídicos da pasta, Humberto Fernandes de Moura. Também participaram o secretário-executivo de Ciência e Tecnologia, Júlio Francisco Semeghini Neto, e o secretário de Gestão do Ministério da Economia, Cristiano Rocha Heckert, além de representantes da Secretaria de Governo, Secretaria-Geral e Casa Civil.
Ministério foi recriado em junho
O Ministério das Comunicações foi recriado em 10 de junho pelo presidente Jair Bolsonaro, dividindo o antigo Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. A nova pasta foi entregue a Fábio Faria, deputado federal (PSD-RN), que recebeu a incumbência de melhorar a imagem das ações do governo em meio à crise que envolve inquéritos no Supremo e dezenas de pedido de impeachment.
Com a mudança, Fábio Wajngarten foi nomeado secretário-executivo do Ministérios das Comunicações. Entretanto, o Estadão apurou que o cargo de número 2 da pasta deve ser entregue a Vitor Menezes, chefe da secretaria de Telecomunicações do antigo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Com isso, um cargo de natureza especial foi criado para que Wajngarten siga à frente da Secom.
Embora o órgão fique sob o guarda-chuva do ministério comandado por Fábio Faria, Wajngarten terá mais autonomia, incluindo de nomeações, o que seria o caso de Felipe Pedri.
Por sua vez, Vitor Menezes foi escolhido para tocar o dia-a-dia do ministério. Servidor concursado da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) desde 2007, ele é advogado e especialista em regulação e foi superintendente da área de Outorgas, com atuação elogiada por servidores e pelo setor privado. Workaholic, costuma manifestar posições equilibradas e respeito à autonomia do órgão regulador.
Quando foi nomeado como secretário de Telecomunicações, o ministro Marcos Pontes não o conhecia pessoalmente, mas gostou do perfil técnico e discreto do secretário. A ele, é atribuído o sucesso da digitalização da TV aberta, cujo exemplo brasileiro se tornou referência mundial.
Procurado pela reportagem, o Palácio do Planalto não se manifestou. O gabinete do senador Flávio Bolsonaro, onde Pedri é nomeado, também não retornou o contato.
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